Mãos atadas

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-Vicente! –Chuto a lateral de seu corpo com a ponta do pé.

Ele levanta e rapidamente vem até mim.

-Emmy! Como você está?

-Estou bem! Afrouxa um pouco essa corda senão daqui a pouco perco minhas mãos, mas não me desamarre totalmente. Onde está Conrado?

-Eu não sei! Fiquei o vigiando quando você saiu e ele estava péssimo. Natan me disse que ia atrás de Alice assim que percebeu que você estava indo a casa dela e eu tive que impedir. Nós brigamos, para variar, e ele estava ainda mais fora de si. Eu sabia que ele não tomaria mais nenhum cuidado; então decidi voltar para cá e encontrei Conrado sentado na cozinha bebendo. Eu apareci para ele.

- O que?

-Eu sei, loucura! Mas Natan iria o assustar muito mais e eu não sei. Eu queria protege-lo, mas não tinha mais o que fazer e muito menos tempo.

-E como foi?

Nossa fala é rápida e quase não conseguimos processar tudo o que tem acontecido. Meu coração pula em meu peito e temo por Conrado.

-Ele ficou assustado, claro. Pensou que tinha bebido demais, mas eu consegui conversar com ele. Ele começou a chorar, me abraçou, disse que sabia que eu estava por perto mesmo sem me ver. Mas logo Natan chegou. Eu arremessei Conrado longe e me pus à sua frente porque Natan veio com fúria e muita velocidade em nossa direção.

Olho para a cozinha e vejo alguns armários e louças quebradas.

-E? –Estou inquieta e ansiosa. Minhas mãos tremem e quero vomitar.

-Eu arremessei Conrado e o impacto veio todo para cima de mim; vim parar do outro lado da sala! Antes de apagar vi Natan tocar o ombro de Conrado e simplesmente sumirem juntos. Emmy, eu nunca tinha o visto fazer algo assim. Não sei para onde o levou, o que fez ou o que está fazendo, mas precisamos fazer algo e rápido!

-Se concentra! Tente descobrir.

Vicente fecha os olhos e notavelmente se esforça para sentir ou ouvir algo.

Ele abre os olhos assustado.

-Merda!

E assim como Natan e Conrado ele também some, me deixando sozinha no escuro presa em uma cadeira.

-Vicente! Porra!

***

Mexo meus pulsos na tentativa de me soltar, mas a corda raspa minha pele e a dor que sinto me faz parar por alguns segundos. Quanto mais o tempo passa, mais vai ficando escuro e sinto medo de tudo e qualquer barulho. Meu corpo todo está ligado para sobreviver a tudo isso.

Chamo Vicente o mais alto que posso e minha voz ecoa para o vazio da sala que apenas eu habito no momento.

Estou entrando em desespero e quero chorar, quero sair correndo daqui e jogar tudo para cima, mas inspiro e expiro, inspiro e expiro.

Volto a tentar me desamarrar e após algumas tentativas me liberto. Meu pescoço dói e sei que deve estar com as marcas dos dedos de Natan, mas não tenho tempo para me preocupar com isso agora.

Ligo para Alice.

-Atende, atende, atende! –Ando de um lado para o outro.

-Alô?

-Alice!?

-Oi, Emmy. Aconteceu algo?

Suspiro aliviada por perceber que ela está bem.

-Ah, não. Só queria saber se esqueci uma blusa cinza aí na sua casa. Se não estiver aí pode ser que esteja no meu escritório. –Invento uma desculpa para não perder mais tempo.

-Não esqueceu, não. Quando achar me avisa, então.

-Aviso, Obrigada. Tchau, se cuida.

Alice está bem, aparentemente. Uma preocupação a menos neste momento, mas ainda não posso descartar a possibilidade de dar a louca em Natan e ele querer ferí-la.

Não sei para onde ir e me sinto imponente sozinha sabendo que milhares de coisas podem estar acontecendo.

E em um piscar de olho sinto alguém tocar meu ombro e não estou mais em minha casa.

Entre o passado e o agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora