Oceano

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Nos deitamos e com o coração cheio adormecemos juntos.

Me encontro de mãos dadas com Conrado olhando o mar mais bonito que já havia visto. O sol queima em nossas costas e faz um fio de suor escorrer pelo caminho da minha coluna até a parte debaixo do meu biquíni azul. Corro para o mar e Conrado permanece no mesmo lugar, apenas me observando. Assim como uma criança, paro à beira mar e fico observando o vai-e-vem das ondas que molham meus pés e me causam arrepios.

Olho para meu noivo e ele acena sorridente.

Entro na água.

Jogo meu corpo para trás e boio olhando o céu azul com poucas nuvens, sentindo os raios na pouca pele exposta.

Me sinto ser puxada.

Uma força abrupta me puxa para baixo e sinto água salgada entrar pelas minhas narinas.

Luto para voltar à margem e me debato para me desvencilhar do que impede que eu respire.

Estou submersa.

Lentamente meu corpo afunda pelo oceano, como se uma pedra mediana estivesse amarrada em meu tornozelo.

Olho para o meu lado esquerdo e vejo a imagem dos meus pais no carro cantando o mais alto possível algum rock dos anos 80, mas as vozes deles me soa abafadas, e eles logo se esvaem com o movimento das ondas. Do meu lado direito está Emma, Murilo e Thomas brincando um com o outro; e eles também vão embora.

Estou descendo, descendo, descendo.

Sinto meus ossos serem comprimidos.

Enquanto apenas observo em silêncio os raios de sol ficando cada vez mais distante de mim, a imagem de Conrado sorrindo e me dando uma rosa enquanto Alice sorri, um sorriso largo que não tive o prazer de ver, comemorando ao fundo enquanto nos observa, aparece e meu peito aperta.

Mais fundo.

Cada vez mais fundo.

Minha visão começa a ficar preta.

Dou meu último suspiro.

Tudo está em completo silêncio e meus ouvidos zumbem. Não sinto nada e não vejo mais nada, tudo está em um completo breu.

-Emmily?

Alguém sussurra ao longe e mal posso ouvir.

-Emmily?

Me esforço para fazer algum movimento, mas meu corpo não me obedece.

-Emmily?

A voz continua a me chamar.

E como um farol uma luz vem em minha direção fazendo meus olhos arderem, me cegando por uns segundos. Quando minha vista se acostuma vejo um homem com uma cicatriz enorme no rosto se aproximar de mim com determinação.

Eu me sacudo tentando sair do seu caminho. Tento nadar, tento sair de qualquer forma, mas nada acontece.

Ele passa por mim como um animal veloz e deixa na minha memória sua feição.

Estou com medo. Muito medo.

Solto um grito que faz bolhas se formarem que vão subindo, subindo enquanto sinto braços me envolver e me apertar.

-Prazer em te conhecer, Emmily.

Estou sem ar há muito tempo. Minha cabeça lateja como se eu estivesse a batendo contra uma parede com toda a minha força. Minha garganta está se fechando e tudo o que passa por ela é água salgada que a seca.

Penso em Conrado e no cheiro que seu abraço tem. Em Vicente e na inocência de seus olhos. Em Alice e suas feridas que eu desejo tanto ajudar curar. Emma e sua família que sofro por não lembrar. Nos meus pais e no amor caloroso que tinham.

Penso em mim e em como estou indo embora.

-Vocês vão pagar!

O homem da cicatriz tampa meu nariz e boca com a mão e com meu último suspiro outras bolhas vão subindo.

-Acorde, Emmy. Acorde. Você consegue. –Uma voz familiar ecoa em minha mente.

Levanto abruptamente da cama e respiro ofegante, sugando todo o ar que posso. Me sinto cansada, meu corpo todo dói e meus pulmões trabalham incansavelmente para que eu consiga todo o meu oxigênio novamente.

Olho para o lado com os olhos arregalados e vejo Vicente ajoelhado ao pé da cama segurando minha mão.

Do meu outro lado Conrado dorme tranquilamente.

-Está tudo bem! Respire! –Ele se levanta e me ajuda a respirar em um ritmo compassado.

-Eu... Eu pensei... Eu ia morrer! –Sussurro ainda ofegante e com a boca seca.

Vicente some do quarto, mas logo reaparece com um copo cheio d’água.

-Beba. Não fale nada, apenas beba.

Bebo a água rapidamente com a minha garganta ansiando por mais e mais.

E Vicente ia e vinha com copos e mais copos.

Arroto e sinto a bile em minha boca. Levanto rapidamente e vou ao banheiro do corredor para vomitar.

Vicente me acompanha a cada passo, segurando meus cabelos e minha cabeça enquanto abraço o vaso sanitário depositando sujeiras e muita água marinha.

Sento no chão apoiando minha cabeça na parede, exausta.

Vicente molha uma toalha de rosto e põe sobre minha testa.

-Emmy... Este é o sinal.

Eu não digo nada, apenas concordo.

Vamos acabar com isso logo de uma vez por todas.

Entre o passado e o agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora