Dia 1 - Sob ataque? (Sabina)

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Meus Deus, porque eles estão fazendo isso? Eu dá para entender! Por que eles não explicam nada para gente? Eu já estou tão cansada de ficar esperando. E principalmente estou intensamente preocupada com a situação, como vamos sair daqui? O que vai acontecer conosco se fomos capturados? São tantas perguntas, e nenhuma resposta.

O barulho das pessoas discutindo e criando teorias de conspiração também não ajudam em nada. Já fazem mais de 12 horas que estamos aqui dentro, eu só queria que isso tudo fosse um sonho bem estranho e que na verdade, ainda estivesse dormindo na minha cama, debaixo do edredom. Pena que não era.

Me levantei da minha carteira e andei até o canto do fundo da sala. Lá estava a Diarra, sentada no chão, lendo um livro. Ela sempre andava com aqueles livros românticos debaixo do braço. E em qualquer oportunidade que ela tivesse, não pensava duas vezes para começar a ler. Parece que esse hábito de leitura veio bem a calhar hoje.

Os professores disseram para ficarmos sentados e esperando, mas não deixaram pegar novos celulares nos armários. Sim, nós não podemos ficar com o celular dentro da sala de aula, todos ficam nos nossos armários. E sem isso, não havia outro jeito de passar o tempo, a não ser dormir, conversar, ou ler um livro como a Diarra estava fazendo.

- Sobre o que é? Pergunto a ela enquanto me sentindo chão do lado dela.

Ela tira o olhar concentrado dela das páginas e me olha de canto. Acho que ela não gostou de eu ter interrompido aquele momento.

- É sobre uma rainha que decidiu abandonar sua linhagem real para conhecer o mundo.

- Nossa. Não tinha um filme que era assim?

- Sinceramente... eu não sei - diz ela voltando sua atenção para as palavras no livro.

- Eu não quero te atrapalhar nem nada, mas eu realmente precisava conversar com alguém. Eu tô ficando maluca aqui dentro! Eu falaria com a Any, ou com a Shivani, mas elas deve ter entrado em outra sala no meio de toda aquela confusão do refeitório.

- Eu sinto muito por você. Mas eu não acho que sou a pessoa mais ideal para ficar batendo papo.

- Olha aí um assunto ótimo. Por que você não acha que seria a pessoa ideal para bater papo comigo?

- Você é persistente né?

- Muito. - Respondo fechando o livro da mão dela.

- Bem, para começar, geralmente as pessoas me irritam um pouco. - diz ela enquanto guarda o livro de volta na mochila. - As meninas aqui da sala amam falar sobre coisas que são tão triviais, que eu não consigo ouvir por mais de cinco minutos.

- Que tipo de coisas elas falam? Porque realmente espero não ser uma dessas garotas.

- Bem, para começar, parece que elas falam outro idioma. Isso já me irrita profundamente. Parece algum tipo de códigos, mas na verdade é um monte de gíria que não consigo entender.

- Chama no probleminha querida - ela me encara, e eu paro a piada. - Já entendi, nada de memes nas conversas. O que mais?

- Acho que é mais isso. Em geral, eu ainda não me sinto completamente adaptada com a vida aqui nos EUA.

- De onde você vem mesmo?

- Do Senegal.

- Ahh que legal. Eu totalmente entendo isso, demorou um pouco até eu me adaptar. As pessoas do bairro onde eu nasci, lá em Guadalajara, eram muito animadas e simpáticas. Eu lembro de diversas vezes que fechavamos as ruas para fazer festas cheias de tacos, e de churrasco. Eu era pequena, mas lembro de brincar na rua com todas as outras crianças. E isso foi o mais senti falta aqui. Durante os dois primeiros anos, nenhuma outra criança queria brincar comigo, para não falar do bullying por eu ser latina.

- Nem me fala de bullying. Você deu uma olhadinha na minha pele?

- Ah, não acredito. Você é negra? - Digo bem cínica. - Isso é um absurdo.

Nós duas começamos a rir. Nunca tinha encontrado alguém para falar sobre isso. Sobre como sofremos por ser de diferentes nacionalidades e mesmo assim moramos no maior país do mundo. A Any até conseguia entender um pouco como é isso, até porque ela foi a primeira que decidiu ser minha amiga no começo. Mas ela morou a vida inteira aqui, e não sabia como era sentir esse choque cultural. De sair de suas raízes e se jogar de cara em todo um novo universo.

Começamos a conversar então sobre todos os tipos de assuntos possíveis. E é engraçado perceber como é fácil encontrar coisas em comum em outros, basta apenas conhecer melhor as pessoas. Não é difícil fazer uma nova amizade, basta ter interesse nas pessoas. Diarra me ensinou isso. Além dela parecer ser uma pessoa super estudiosa e culta. Provavelmente uma amizade como essa iria me ajudar bastante na escola.

Enquanto estávamos no meio de uma discussão muito divertida sobre qual é a comida favorita dos americanos, se era bacon ou panqueca, o alarme de incêndio começa a tocar. E havia esquecido como aquele barulho era ensurdecedor. Eu não gostava nem de ir para a escola quando sabia que eles iriam fazer aquelas simulações de incêndio.

- O que será que aconteceu? Eles conseguiram entrar? - Pergunta Diarra.

- Eu não sei. Seja lá o que for, tenho o pressentimento que vamos descobrir o que é em breve.

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