Dia 2 - Sejam bem vindos (Josh)

1.3K 120 29
                                    

Por mais que eu tente parecer forte, firme e corajoso, não consigo fazer minhas pernas pararem de tremer. Consigo sentir as gotas de suor escorrendo pelo meu rosto até meu pescoço.

Fico parado no meu lugar na fila, assim como todos os outros jovens. Eles nos mandaram ficar parados até que todos os carros fossem desocupados. E somente então me dou conta de quantos somos, sem dúvida, pessoas de mais para contar só de olhar, porém, posso chutar mais ou menos uns duzentos adolescentes presos.

O silêncio tomava conta daquele grande pátio. Mas quando paro para prestar atenção no silêncio, nos sons minuciosos, consigo ouvir os soluços, ouço choro, ouço gemidos de dor. Nunca antes desejei ser surdo e cego, mas é como dizem: "Para tudo há uma primeira vez."

– Sejam bem vindos a NeuroTech! – Diz um Senhor vindo em direção ao centro do pátio. – Espero que tenham feito uma boa viagem.

– Vai pro inferno seu filho da...

Ouço um tiro! De onde aquele cara tirou uma arma? E quem teve a ideia genial de xingar o cara que controla o exército?

– Mais alguém se sente meio falante hoje? – Pergunta o mesmo senhor, ainda com a arma apontada para o alto.

Ninguém responde. Ele guarda a arma nas costas. E tudo isso, sem nem se dar o esforço de desabotoar o terno de luxo.

– Como eu estava dizendo antes de ser interrompido. – Continua ele. – Espero que tenham feito uma boa viagem até aqui, e aposto que devem estar com fome. Então se todos se comportarem e seguirem as instruções, prometo que serão bem cuidados. Vale dizer que nós não toleramos nenhum tipo de rebeldia. Então, seu bando de adolescentes mimados, não tentem fazer nada do que vocês possam se arrepender depois! Essa é a minha sugestão se quiserem sair daqui com vida.

Ele disse sair daqui? Finalmente uma notícia boa nisso tudo. Mas as coisas ainda não faziam sentido algum. Qual é o objetivo de nos sequestrar, e nos prender, se depois seremos soltos?

– Levem eles até os quartos! – Ordena o senhor, enquanto ele nos da as costas e volta para dentro do prédio central.

– Meninas para a direita e meninos para a esquerda! – Grita um soldado. – Vamos logo! Vamos! AGORA!

Aqueles jovens estavam tão assustados que devem até ter esquecido a diferença de direita e esquerda. Em questão de segundos, aquele pátio fica parecendo um formigueiro. Todos andando de um lado para o outro, perdidos.

Um soldado pega no meu braço e me empurra para o lado. Ele faz o mesmo com os outros meninos.

– O que é isso seus idiotas? Meninos na esquerda! Meninas na direita! Não vou falar de novo!

Quando os dois grupos estão separados, olho para meu lado direito procurando pela Joalin, não queria perdê-la de vista. Mas logo a fila dos meninos começa a andar e sou empurrado para frente. Não a vejo em nenhum lugar.

Somos escoltados por soldados —todos armados até os dentes — para dentro de um dos prédios. O lugar é basicamente feito de corredores, que por sua vez, são cheios de dormitórios.

Me colocam em um dos quartos do segundo andar, no número 214. Pelo que notei, a porta é toda automatizada. E a chave era um leitor de digitais. Assim que entro, a porta se fecha rapidamente atrás de mim, e os soldados seguem para o próximo quarto.

Olho ao redor, analisando o lugar em que iria passar meus próximos dias. O cômodo têm uma cama pequena, alguns furos na parede para entrada de ar. Ao lado da porta têm uma pia e uma privada. Não têm nenhuma decoração, pelo contrário, tudo era preto, as paredes, a cama, as porcelanas, TUDO. O lugar inteiro deve ter mais ou menos três metros quadrados. Eles podem tentar me dizer que isso é um quarto, e que supostamente eu devo descansar. Mas nada me tira da cabeça as palavras "cela" e "prisão".

Me deito na cama, e encaro o teto. O lugar é tão escuro que tenho a impressão que está de noite, mesmo sabendo que deve ser umas nove horas da manhã. Fecho os olhos e tento imaginar o que meu irmão deve estar fazendo agora. Ele deve estar em um abrigo, livre, de banho tomado, preparando um caprichado café da manhã, acompanhado por pessoas de confiança. E mesmo que nada disso esteja acontecendo de verdade, já me sinto aliviado só de saber que ele não está aqui nesse lugar. E seja lá onde ele estiver, espero que esteja seguro.

– Solicitamos a atenção de todos! – Diz uma voz vindo de auto-falantes no teto.

Eu reconheço essa voz! O mesmo senhor que estava no pátio minutos antes.

– Os próximos dias serão cruciais para nós da NeuroTech, com a ajuda de vocês, planejamos criar uma sociedade mais unida, mais trabalhadora, mais inteligente, e muito mais preparada para o futuro. Não há motivo algum para ficarem nervosos ou com medo. Em breve vocês entenderão, que tudo o que nós fazemos aqui, é para o seu próprio bem. Pensem que vocês são como convidados em minha casa...

– Claro! Convidados contra a própria vontade. – Penso alto.

– ...e eu, como qualquer bom anfitrião, farei o melhor para que a estadia de vocês seja rápida e sem nenhum incidente...

O que ele quer dizer com "incidente"?

– ...Conto com a colaboração de todos. E lembrem-se, todos estão sendo devidamente observados. Obrigado.

Agora que ele falou, noto uma mini câmera logo acima da porta, apontada diretamente para mim. Era só o que me faltava. Nesse momento só consigo dizer para mim mesmo repetidamente: "Não surta, não surta, não surta".

Unidos Para SobreviverOnde histórias criam vida. Descubra agora