Dia 2 - Você disse Any? (Sabina)

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O que será que eles estavam esperando para nos tirar desse lugar? Desde que o carro parou, ninguém apareceu para falar nada. O silêncio está me matando. Para não dizer a sensação de sufocamento. Aquele furgão sem iluminação e sem uma entrada de ar me fez sentir como se estivesse presa em um caixão, sem enxergar nada, e com um estoque de ar limitado.

- Joalin! Joalin! - Começa a chamar um menino sentado no banco a minha frente.

Eu olho para o meu lado e vejo a única garota que estava desmaia no grupo, pelo menos eu espero que ela esteja apenas sobre o efeito de alguma coisa, e não morta. Porque não quero pensar que passei as últimas horas presa ao lado de uma difunto.

- Acorda Joalin! - Continua falando ele, mas dessa vez mais alto.

Os outro jovens começam a olhar para ele, como se não aprovassem o que ele estava fazendo.

- Você não vai conseguir acordar ela assim. - Digo para ele.

Ele me olha, com aqueles impressionantes olhos azuis, sem saber o que mais poderia ser feito. Ele realmente parecia preocupado com a menina.

- Eles injetaram alguma coisa nela. Mas ela está demorando de mais para acordar, isso não deve ser normal.

- Eu posso tentar acordar ela, mas pode machucar um pouco.

- Como assim?

- Se ela não responde quando você chama, ela pode responder a alguma coisa mais... forte digamos assim.

Nossas mãos estavam presas por algemas, que por sua vez estavam acorrentadas nos bancos, ou seja, não conseguimos levantar nem os braços. Porém, consigo mexer minhas pernas.

Eu levanto minha perna direita e a abaixo, pisando com o máximo de força no pé da menina ao meu lado.

- AAAAAA. - Grita ela, acordando daquele sono profundo.

- Não precisava ter feito isso! - Diz o menino bravo.

- Você queria ela acordada, então aí está, mais acordada impossível. - Respondo com o máximo de confiança que é possível ter quando você acaba de agredir uma pessoa inconsciente.

- Que merda é essa Josh? - Diz a menina ainda com um cara de dor. - Onde nós estamos?

- Não sabemos Joalin. Estamos esperando alguém aparecer aqui faz quase uma hora. - Responde o amigo dela. - Mas como você está se sentindo?

- Tirando a impressão de que meu dedão do pé vai explodir a qualquer momento, só estou com um pouco de dor de cabeça.

-  Mals pelo pé. - Digo dando um meio sorriso.

Ela me olha sem entender muito o que aconteceu, talvez se perguntando porque uma estranha estava se intrometendo na conversa. Mas sem dizer nada, ela volta a atenção ao amigo.

- Quanto tempo eu apaguei?

- Pelas minhas contas, foram mais de oito horas, eu estava realmente ficando preocupado.

- E o Bailey? Me diga que ele conseguiu fugir?

- Eu acredito que sim. Pelo menos, depois que ele desceu as escadas com meu irmão e a outra menina, não os vi mais.

- Espero que eles estejam seguros. E inclusive seu irmão deve a vida a aquela menina, a Any. Se não fosse por ela, ele não iria durar nadinha.

- Você disse Any? - Me intrometo novamente na conversa.

- Sim.

- Baixinha, morena, cabelo cacheado? - digo tentando confirmar se era da minha Any que eles estavam falando.

- Ela mesma. Você estuda com ela?

- É por causa dela que eu estou aqui presa. - Desabafo. - Supostamente, eu tinha que procurar por ela, e depois iríamos fugir pelo subsolo. Mas eu nunca a achei, e acabou que foram os soldados que me acharam primeiro.

- Eu sinto muito por isso. - Diz Josh - Se vocês são amigas, tenho certeza que ela deve estar arrasada e morrendo de preocupação. Você têm todo o direito de ficar brava com ela se quiser. Mas ela salvou meu irmão caçula, e por isso eu sou muito grato.

Desde o momento que me jogaram na traseira desse furgão eu não conseguia parar de pensar no motivo de EU estar alí, e todos os OUTROS estarem livres. Ficava me perguntando: Onde você estava escondida Any? Por que não ficou esperando lá no subsolo? Por que teve que ir procurar por mim? Por que não  ficou esperando nos lugares que sempre marcavamos de nos encontrar?

Eu não estou com raiva dela, afinal de contas, ela ajudou a salvar uma pessoa, mas fico brava com toda essa situação, e me pergunto: se ela não tivesse parado para ajudar o menino, ela teria procurado por mim, e provavelmente, eu e ela estaríamos juntas e bem longe desse lugar. Sei que isso parece algo horrível de se pensar. Mas por que a minha vida, a de uma pessoa amiga, importaria menos que a vida do irmão do Josh, alguém que era até então um desconhecido para ela?

Meu pensamento é interrompido por alguém abrindo a porta do furgão. A luz do sol força meus olhos a se fecharem imediatamente. Sinto o carro balançar e ouço passos se aproximando. Tento abrir meus olhos bem lentamente, mas a claridade ainda não me deixa ver direito.

Agora ouço o barulho de chaves, e de correntes. "Finalmente! Estamos sendo soltos" penso comigo mesma, e por minuto sinto um alívio na alma.

- Todos para fora! AGORA! - Grita uma voz masculina.

O alívio vai em bora, e o medo volta, e então corrijo meu próprio pensamento: "Não estamos sendo soltos, estamos saindo de uma prisão, e indo para outra."

Conforme os jovens eram desacorrentados do banco do carro, eles iam saindo e formando uma fila do lado de fora. Eu faço a mesma coisa. Agora já consigo ver melhor do lado de fora, mas não que isso me tranquilize, visto que não tinha ideia do que era aquele lugar, e o que iria acontecer ali dentro.

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