Eu nunca pensei que sentiria tanta falta da minha própria casa. Sempre me vi terminando o colegial e indo morar sozinha, começar uma faculdade, e iniciar uma nova etapa da minha vida bem longe dessa cidade. Sei que as circunstâncias atuais não bem as melhores, mas eu só queria poder voltar para casa. Mas ao invés disso, estou dormindo na casa de uma pessoa que eu nunca vi, ao lado de pessoas que não são, digamos assim, meus melhores amigos.
Eu olho para o meu lado, e lá está ele, Lamar, dormindo como se estivesse em um coma, enquanto eu mal tenha dormido direito, pensando no que o restante irá trazer. Olho para o relógio na parede do quarto, mas ele está parado, provavelmente a um bom tempo. Mas deduzo que deve ser bem cedo, a notar pelo sol que está batendo na janela.
Saio da cama devagar, para não acordar o Lamar, porque a última coisa que eu preciso agora é ouvir alguma piadinha de bom dia. Entro no corredor olhando para os lados, tento ouvir se há algum movimento na casa. Gosto de ter sido a primeira a acordar, assim consigo usar o silêncio para pensar melhor em qual será o próximo passo. Eu desço as escadas na ponta do pé, para não acordar quem está dormindo na sala, mas me surpreende ver que não tem ninguém aqui.
Ao abrir a porta que leva a cozinha, vejo os quatro conversando com sussurros, sentados à mesa. Todos param e me encaram.
– Bom dia – Digo também sussurrando.
– Bom dia – Eles respondem em uníssono.
– Não acho que fomos devidamente apresentados ontem à noite – Digo enquanto puxo uma cadeira para me sentar com eles. Com exceção do Noah, a única pessoa que eu havia mesmo trocado algumas poucas palavras era o Krystian.
– Pois é, mas agora vamos ter bastante tempo para nos conhecermos melhor. Eu sou a Sina.
– Prazer em te conhecer, eu sou a Diarra. E você? – Digo olhando para a garota ao lado da Sina.
– Meu nome é Heyoon. – Diz ela, sem nem levantar a cabeça para me olhar.
Lembrei que a melhor amiga dela havia sido capturada ontem, e não deve estar sendo nada fácil de lidar com tudo isso. E um silencio tomou conta do ambiente, esse se tornou mais um daqueles momentos constrangedores onde ninguém sabe exatamente o que falar, onde não é possível achar as palavras certas para consolar alguém.
Todos os outros começam a olhar para direções opostas, para não se olharem nos olhos. Sina coloca os braços ao redor dos ombros da Heyoon, imagino eu, na esperança disso trazer algum tipo de conforto, que palavras não são o suficiente para trazer.
– Então Krystian. – Digo para mudar os pensamentos negativos que passam na minha mente – O que vamos fazer com o Jaden? Qual é o plano exatamente?
– Vamos lá – Diz ele, parando para respirar fundo. – Eu estava pensado em ir lá em casa, vasculhar as coisas da minha mãe, e com sorte achar o telefone do médico.
– Você ficou maluco? – Diz Sina mudando o semblante dela completamente. – É muito perigoso para você voltar lá. Você não sabe nem como chegar até sua casa daqui desse bairro. E você também...
– Calma Sina – Interrompe ele. – Eu sei que é arriscado, mas nós não temos outra opção. Você não sabe o quanto gostaria de ficar aqui escondido e protegido. Mas eu não posso. Se aquele menino, que teve que ir dormir gemendo de dor ontem à noite, tem alguma chance de ficar melhor, eu preciso tentar.
– Eu entendo Krys. – Responde a Sina, já um pouco mais calma, mas levando a mão ao rosto. – Mas se você for sair por essas ruas, vai precisar de ajuda, então, eu vou com você!
– Eu não posso deixar você fazer.
– Isso não está aberto a debate. Você é meu melhor amigo. E sendo bem honesta, você não chegaria a lugar nenhum sem a minha ajuda.
Os dois dão uma risadinha, então imagino que já esteja decidido.
– Então é o seguinte. – Digo para tentar ajudar a montar um plano de ação. – Krystian e Sina, vocês precisam ser rápidos e ainda mais importante, invisíveis. Uma vez que vocês chegarem, preciso que tragam algumas coisinhas.
– Como assim? – Pergunta Krystian.
– Eu notei que alguns de vocês possuem celulares, mas que estão sem bateria, então precisamos de um carregador. Precisamos também de comida. Tente trazer o máximo de alimento que você conseguir, e acredite, isso é ainda mais importante do que o telefone do tal médico.
– Então eu vou com vocês. – Exclama Noah. – Eu sei que o que você está pedindo é extremamente necessário, mas eles são só duas pessoas, vão precisar de mais ajuda.
– Você tem certeza disso Noah? – Pergunto de volta surpresa com a atitude dele. – Isso vai ser perigoso, espero que tenha ciência disso?
– Tenho certeza! Ao cegar lá, podemos no dividir. Krystian procura o telefone e o carregador de celular, eu e a Sina ficamos encarregados pela comida. Vai dar certo.
– Você tem razão, isso é um trabalho para mais pessoas. Eu vou ver se o Lamar não pode ir com vocês para....
– Não precisa. – Ele me interrompe. – O Lamar pode te ajudar em outras coisas aqui na casa, tenho certeza que há muito a ser feito por aqui. E além do mais, não queremos chamar muita atenção na rua, três pessoas é o suficiente.
– Bem, vocês estão de acordo? – Pergunto para a Sina e o Krystian, que olham para o Noah e voltam a olhar para mim acenando que "sim" com a cabeça. – Muito bem então. Nós não teremos nenhum tipo de comunicação com vocês, portanto, o máximo que posso fazer é desejar boa sorte, e pedir para que tenham o máximo de cuidado possível.
– Obrigado. – Respondem os três, enquanto se levantam das cadeiras.
Eu e a Heyoon também nos levantamos, e os acompanhamos até a porta. Olho pelo canto da cortina da sala, através da janela, para ver se há algum movimento diferente na rua. E na verdade não vejo nem carros, e nem pedestres nas ruas, a questão é que ainda não sei se isso é um bom ou um mal sinal.
– Tudo limpo. – Digo a eles enquanto aceno com a cabeça.
Eles abrem a porta e esperam por uns segundos, talvez para resgatar qualquer vestígio de coragem que ainda resta dentro deles.
– Nós voltaremos logo, não se preocupem. – Diz Sina enquanto fechando a porta logo arás dela.
Eu ainda os observo pela janela, enquanto fazem a curva a direita na calçada, e os perco de vista. Olho para a Heyoon ao meu lado, que está com os olhos marejados, encarando a porta fechada.
– Eu acredito neles Heyoon. E você só precisa acreditar em mim quando digo que vai ficar tudo bem, eles vão conseguir! – Sabia que isso era o certo a se dizer nessa situação, mas como eu odeio fazer promessas que podem não se cumprir.
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Unidos Para Sobreviver
Fanfiction(Fanfic sobre o grupo musical de pop internacional NOW UNITED) Jovens que levavam uma vida normal, indo para a escola e lidando com seus próprios problemas pessoais, se deparam com um desafio que coloca a vida de todos eles em risco. Agora, os 14 ad...