Vacas pastando, pratos quebrando

9K 462 134
                                    

A primeira coisa que ela pensou quando seus olhos se abriram foi se já era realmente hora de acordar. A sensação que a atingia era a de que acabara de dormir, mas mesmo assim os raios do sol fraco de inverno incomodavam seus olhos.

Soltou um gemido de insatisfação, cobrindo os olhos com as costas da mão. De forma brusca, ela empurrou seu magro copo até estar completamente fora da grande cama. Caiu de joelhos no chão, inspirando fortemente para forçar seu despertar. Depois, fixou um pé no piso e logo após outro, ajeitando a postura quando se sentiu firme o bastante.

Respirou fundo, checando se havia sobrado alguma lágrima. Se ela tivesse que chorar mais um pouco, aquela era a hora. Não poderia chorar na frente de todos quando o evento começasse.

Não ficou surpresa quando constatou que não havia nenhuma lágrima. Não se sentiu estranha quando percebeu que não estava triste, apenas deu de ombros, não se importando com a falta de sentimentos, e então esfregou os olhos, tentando afastar o sono. Ansiava pela primeira vez em quase um ano que o tempo passasse. Queria tornar tudo ainda mais real.

Quando se sentiu pronta, deu seu primeiro passo em direção à janela. E, após esse primeiro, deu o resto que precisava para chegar até ela com uma rapidez desnecessária. Não queria perder tempo, haviam coisas a serem feitas antes de chegar a hora.

Examinou rapidamente o enorme jardim de sua casa, notando que as folhas secas que estavam ali no dia anterior tinham sumido. A grama continuava no seu estado de sempre, estado esse que Astoria nomeara de "Sra. Greengrass". Por mais que seja apenas um trocadilho com o sobrenome da família, as folhas realmente aparentavam a perfeição que a mãe tanto tentara alcançar.

Além da grama perfeitamente verde e cortada, havia os arbustos aparados perfeitamente em formas ovaladas e flores com cores vibrantes espalhadas tanto pela grama quanto pelas poucas mesas situadas ao ar livre.

Astoria examinou tudo mais uma vez, ainda escandalizada om a mania de perfeição da mãe. Seus olhos agora pousaram numa construção não muito grande de madeira, situada um tanto afastada da parte do jardim que seria utilizada para festa, porém, mesmo assim, estava enfeitado. Seu rosto se contraiu em repulsa, seus olhos brilharam de ódio e seus dentes rangeram levemente.

Aquele era um lindo coreto, sem sombra de dúvidas. O que não era lindo era quem estava dentro dele.

A loira pode sentir o olhar da irmã sobre ela. Um olhar frio, cheio de nojo e sem nenhum resquício de carinho. Ela tinha certeza que respondia com um igual ou talvez pior. Daphne levantou levemente o canto da boca, mas antes que terminasse, notou que a irmã já estava com um sorriso de escárnio nos lábios. A morena deixou o início do sorriso morrer, se virou e murmurou alguma coisa para alguém que Astoria não se importava em olhar. Quando esse outro alguém a olhou, a loira reconheceu os olhos claros da mãe, cheios de uma dramática preocupação.

A loira esperou para ver o que ia acontecer. Seja o que for que Daphne dissera para a mãe, não fora boa coisa. Só quando viu a mãe, ainda com o olhar na janela de seu quarto, andar em direção a casa, Astoria soltou um sonoro palavrão, se afastando da janela.

Tudo o que ela menos queria era que a mãe viesse invadir seu espaço naquele dia. Não só por estar preparando a mente para quando a hora chegasse, mas por não querer que ela visse como sua pequena filha havia mudado. Tentara esconder no dia anterior, e, mesmo que admitisse que não tivera muito sucesso, sabia que naquele dia ela não saberia colocar camadas de falsa inocência sobre uma que não tinha mais nada de inocente.

Em contrapartida, a presença da mãe a impediria, ou ao menos assim Astoria esperava, de voltar ao estado da noite anterior. E ela sabia que deveria deixar aquele lado dela muito bem guardado naquela noite se planejasse conseguir chegar perto de Bellatrix. Pelo pouco que a loira conhecia dessa perigosa mulher, sabia que ela sentia cheiro de poder. Em Astoria, o poder não seria só sentido, mas como presenciado. Era visível de tão forte, e isso era perigoso.

As Garotas de Hogwarts - Harry Potter FanFictionOnde histórias criam vida. Descubra agora