Capítulo 88 - Obrigada Hortência e Felícia por me tirarem da loucura

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... nenhuma besteira.★

Gritei mais uma vez. Dessa vez era mais por dor.

— Calada! Calada! CALADA! — começo a berrar, desesperada. A música estava quase no fim.

She's losing her mind

(Ela está perdendo a cabeça)

She's falling behind

(Ela está caindo para trás)

She can't find her place

(Ela não consegue encontrar seu lugar)

She's losing her faith

(Ela está perdendo a sua fé)

She's falling from grace

(Ela está caindo)

She's all over the place

(Ela está por ai)

Meu outro punho atinge outro espelho e grito novamente por dor. O chão era uma mistura de sangue e os restos dos espelhos.

Levo as mãos aos cabelos, queria puxá-los; queria sentir mais dor. Nada adiantava. Era uma dor de alma que eu sentia. Dor física não era nada.

She wants to go home, but nobody's home
(Ela quer ir para casa, mas ninguém está em casa)
That's where she lies, broken inside
(É onde ela deita, machucada por dentro)
With no place to go, no place to go
(Sem nenhum lugar para ir, nenhum lugar para ir)
To dry her eyes, broken inside
(Para secar seus olhos, machucada por dentro)

Me escondo num canto, debaixo da pia, encolhida. Ponho-me em prantos. As mãos sangrando e latejando de dor.

She's lost inside, lost inside

(Ela está perdida por dentro, perdida por dentro)

She's lost inside, lost inside

(Ela está perdida por dentro, perdida por dentro)

— Maldita Estrela, é tudo culpa sua — digo mais gemendo do que pronunciando as palavras em si.

— Alessandra! — ouvi vozes exclamarem em uníssono, mas me recusei a sair de onde estava. Eu queria ficar sozinha.

★Dica 436 = Quando quiser ficar sozinha, não saia de onde estiver.★

— Meu Deus, olha esse banheiro! — a voz era da Felícia. — Alessandra, aparece, por favor!

— É, sabemos que está aqui — voz da Hortência.

— Olha, Hort, é só seguir os rastros de sangue — diz Fe.

Comecei a ouvir passos vindo até meu pequeno esconderijo. Se não fosse pelos gemidos de dor, tenho certeza de que elas não teriam me achado.

— Alessandra! — exclamou Hort com espanto ao meu ver. — Fe, me ajuda a tirar ela daqui.

— Me deixem sozinha — minha voz sai abafada pelo choro.

Sinto duas mãos delicadas segurarem meus braços e a tentar me fazer levantar.

— Queremos apenas conversar, Ale. Nos ajude — diz Fe.

Depois de um tempo de insistência, acabei cedendo. Fiquei quase totalmente em pé, mas foi o suficiente para levarem um susto com a minha aparência.

— Deuses! Olha essa maquiagem! — Hort foi a primeira a comentar. Ela ia me arrastar para um espelho, só foi então que ela se lembrou que os espelhos dali estavam quebrados. Ela optou por pegar um pequeno espelho na bolsa.

Dei uma olhada em mim mesma e só não gritei de susto, pois elas estavam ao meu redor.

— Viu? — disse Hortência. — É isso que estou dizendo. Mas o que houve com você lá, Ale?

— Hort, esqueceu do que aquela música significa para a Sandrinha? — falou Felícia.

— Ah... Puxa, sobre você ter fugido de casa uma vez?

Felícia deu uma cotovelada em Hortência como repreensão.

— Tudo bem — minha voz saiu de um jeito estranho, imagino que seja por causa do choro. — Não achei justo a Geo ter usado uma música minha junto com a Judi/Renata sei lá.

— Eli também ajudou ela. Sinto muito, Sandy. — Hort me deu um abraço inesperado.

— Sandy? Novo apelido agora? — digo, me surpreendendo por um meio sorriso aparecer no meu rosto.

Hort afirmou com a cabeça, sorridente. Aquilo me contagiou um pouco.

— Ale, vem, vamos cuidar dessas suas mãos e do seu rosto, pode ser? — propôs, Fe.

Aceitei, hesitante. Mesmo que elas tenham me alegrado um pouco, eu queria continuar sozinha.

★Dica 437 = Não hesite em deixar seus amigos cuidarem de você.★

Elas seguraram minhas mãos com delicadeza, debaixo de uma torneira, que foi ligada bem fraca, talvez para evitar que eu sentisse muita dor. Não adiantou. De cinco em cinco segundos eu gemia.

Assim que conseguiram limpar mais ou menos os cortes, deu para eu ter uma noção de onde eu tinha sentido tanta dor. As juntas dos meus dedos e do meu punho estavam vermelhas e com cortes. Talvez eram cortes fundos.

— Com o que vamos cobrir esses cortes? — perguntou Fe a Hort.

— Espera, deixe-me conferir. — Hort começou a vasculhar sua bolsa e depois de alguns minutos, exclama: — Achei! — Ela tira um pano meio bege em uma tira um tanto longa.

— Acho que isso serve.

Elas começaram a enfaixar todos os meus dedos indicadores. Todos ardiam e sangravam. Assim que o pano toca os machucados, solto outro gemido e logo o pano se enche de sangue. A cada volta que o pano dava em meus dedos, menos visível se tornava a cor do sangue.

Por sorte, o pano deu para as duas mãos. Não ficou tão estranho como eu imaginava.

— Agora a coisa mais importante: seu rosto — anunciou Hortência e aquilo me fez soltar uma risadinha.

Ela fez Felícia segurar seu pequeno espelho, enquanto retirava a maquiagem borrada do meu rosto. Passou novamente um lápis preto em volta dos meus olhos e, se não me engano, uma leve maquiagem preta.

— Pronto, agora está com uma aparência melhor. — diz Hort.

Mostrei um pequeno sorriso as duas.

— Acho que até me sinto um pouco melhor, valeu meninas.

Elas assentiram, sorrindo.

— Vai querer voltar pra festa? — perguntou Fe.

Nego com a cabeça.

— Estou sentindo a cabeça girar um pouco — menti. — Acho que exagerei muito no álcool — menti outra vez. — Vou para o quarto. Preciso descansar — dessa vez falei a verdade.

★Dica 438 = Tente não omitir uma verdade das suas melhores amigas.★

— Tudo bem. Qualquer coisa, pode ligar pra gente, estaremos com o celular o tempo todo ligado — falou Felícia com um sorrisinho.

Hortência confirmou com a cabeça, concordando com Fe e abracei as duas.

— Se divirtam, mas não muito — brinco assim que o abraço termina e elas dão risadinhas.

Me dirijo ao meu quarto, pensativa. Antes de sair do banheiro, eu havia acenado para me despedir. Eu estava pensando em tudo. Não achei que uma música pudesse me fazer endoidar de vez.

★Dica 439 = Nunca duvide do poder de uma música.★

Olhei para minhas mãos enfaixadas. Como pode isso tudo ter sido armado pela minhas duas melhores amigas?, penso mais triste do que imaginava.

No meio do caminho, me deparei com uma coisa: a porta de uma sala aberta. Várias questões rodaram minha mente no momento, mas as evitei e fui logo para a ação: entrei lá.

★Dica 440 = Se encontrar uma sala aberta, entre.★

O Que Uma Garota Deve FazerOnde histórias criam vida. Descubra agora