12. Maya

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— Vocês não podem fazer isso. — Amin Roriz implorava. Maya olhou para Nina Varell, que estava de olhos arregalados sem olhar para ela, sob aquela tarde cinzenta no teto do prédio. A grandiosa construção de entrada do condomínio Jandira impedia que o vento do oceano chegasse ali, como uma barreira.

— Você o deixou subir. — Maya disse, sentindo-se enganada.

— Maya, eu posso explicar...

— Ela não tem que explicar nada. — Amin atreveu-se a interromper a briga iminente, indo em direção a Maya com olhos lacrimejantes — Você está louca, garota? Se fizer isso aqui, vai condenar nós dois!

— Amin — Nina disse, depois de um momento de silêncio —, eu não estou entendendo...

— Aquele demônio é atraído por qualquer manifestação divina, Nina.

— Como assim? — Nina perguntou intensamente amedrontada — Que demônio?

— Tá falando do índio? — Maya perguntou — Eu o matei.

— É? — Amin se aproximou ainda mais — Minha mãe também tentou fazer isso. Mas, adivinha: ele se cura. Ele voltou e... — o jovem desabou — ... E agora eu estou sozinho.

Houve outra calada momentânea, apenas quebrada pelos soluços inevitáveis de Amin. Maya Nindberg entendeu finalmente, enquanto Nina nada podia entender.

— Você é como eu. — Maya acusou. Amin fez que sim com a cabeça:

— O nome dela é Iara. — disse, enxugando as lágrimas e esfregando o nariz.

— Que Iara? — Nina surtou — Do que vocês estão falando?!

Amin olhou pra ela junto a Maya, depois olharam um para o outro. Esta era a primeira vez que Maya havia encontrado mais alguém como ela. Era tão reconfortante saber que não estava sozinha. Por outro lado, se Nina achou que ela estava ficando louca, era ela quem estava agora muito perto dessa condição. Maya viu que tinha que esclarecer tudo o mais rápido possível.

— Eu não sei te explicar muito bem, amiga...

— Senhorita, — Amin se aproximou da bela moça enquanto Maya passou a assistir — Alguém colocou seres espirituais em nós, aprisionados.

— O que?! — Nina gaguejava.

— Lembra que eu te falei — Maya entrou — que um cara quis libertar uma deusa que estava em mim?

— Há um homem com o poder pra fazer isso. — continuou Amin — Ele tem uma força inigualável e não pode ser morto. Por causa dos deuses, temos poderes, mas eles o atraem até nós e não são suficientes para detê-lo. — e virou-se para Maya — Se você usá-los aqui, só vai ensiná-lo onde fica a sua casa.

— Vocês são loucos. — Nina começou a tremer.

— Não tenha medo, amiga. — Maya se aproximou sendo carinhosa, mas Nina se afastou de sua mão acalentadora, indo depressa para a escada. Desceu silente e foi para o apartamento com ar de choro.

— Ela não tá nada bem. — Amin afirmou o óbvio.

— Nenhum de nós está bem, menino. — Maya retrucou impaciente e seguiu a amiga.

— Maya. — ele a chamou enquanto ela se posicionava na escada — Visitar os moradores do condomínio é contra o regulamento, mesmo fora do horário de trabalho. A gente pode se ver depois, tipo, pra conversar um pouco?

— Segura a onda, Amin. — ela disse, descendo antes que a conversa continuasse. Não pensou que Amin Roriz pudesse ajudar-lhe mais do que o que fez aqui. Não estava tão curiosa sobre ele e seu desejo era evitar que outros mais fossem envolvidos em seus problemas, mesmo que fossem outras prisões. Aquele garoto não entenderia o que Maya Nindberg tinha passado anteriormente. E se Teçá realmente voltasse? Aquele menino que tinha medo de lançar seus próprios poderes se prontificaria a ajudar? Era crível que não. Seria melhor que ele continuasse escondido de todos ao invés de aproximar-se dela.

Prisões de Guarani - versão gratuitaOnde histórias criam vida. Descubra agora