33. Guilherme

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Jonas abriu lentamente os olhos e se não estivesse atado dezenas de vezes saltaria da cama ao ver Guilherme sentado à frente dele. Um gemido esforçado era o máximo que podia fazer ao ter a boca inchada e o nariz quebrado de modo que era preciso mais uma amarra ali, formando uma máscara. Guilherme não tinha certeza se o ato de não sentir pela dele era mau, mas também não se preocupou com isso. 

— Oi, Jonas. 

O garoto gemeu novamente. 

— Bela máscara. — Guilherme brincou — Você parece um verdadeiro ninja, agora. 

Jonas fez mais um barulho irritante. 

— Olha, cala essa boca e me ouve, tá bem? — Guilherme apertou o botão correspondente no controle e a cama se moveu para deixar Jonas mais ereto — Eu não tô aqui pra matar você. Eu tô aqui pra te contar uma coisa. 

Guilherme alongou os ombros e continuou: 

— Essa habilidade bizarra que eu tenho, eu herdei de minha mãe. Só que até o momento em que se manifestou em mim eu não fazia ideia de que minha linhagem materna aprisionava um deus psicopata. A noite em que estávamos naquela festa foi a mesma noite em que minha mãe morreu. Kelly e eu conversávamos e Ítalo puxou uma briga por causa disso. Quando eu fiquei bravo e revidei o soco um raio saiu da minha mão. Ele matou Ítalo e sua irmã de uma vez só. Desde então não há um dia que eu não pense sobre isso. — Guilherme inspirou e concluiu — Foi um acidente. 

Jonas Antunes tinha os olhos fixos nele. Guilherme não sabia o que ele estava pensando. 

— Mas, se não acredita em mim — ele continuou — eu não tenho que provar nada a você mesmo. Só quero que entenda uma coisa: você não vai ameaçar a mim nem a ninguém da minha família. Você também não vai contar nada do que aconteceu entre nós e muito menos o que sabe sobre os deuses, porque no mesmo dia em que fizer isso a minha caçada pela sua vida e a vida das pessoas que ama vai começar. — Guilherme se levantou da cadeira e aproximou o rosto do dele — E a minha caçada vai ser bem mais curta que a sua. 

Guilherme saiu do quarto e deixou o garoto sem fala sozinho. Jonas estava imóvel e não emitiu nenhum som.


Guilherme chegou na casa destruída pela batalha e Ester estava girando um vestido curto azul escuro com molduras interessantes da borda inferior. Ela sorriu sem graça quando o viu chegar. Ele se recostou na entrada destruída. 

— Então — Guilherme perguntou —, aonde você vai? 

Ester parou. Pôs a mão sobre a boca ao perceber algo. 

— Guilherme — introduziu —, eu preciso confessar uma coisa... Umas coisas. 

— Não se preocupe. — ele a interrompeu — Minha casa em São Paulo tem lugares de sobra e pra sua vida não ser um inferno você só precisa se dar bem com a Vana. É difícil, mas... 

— É sério? — ela perguntou sorridente. 

— Sim — ele afirmou —, é. 

Ester correu, abraçou e beijou Guilherme. Não era bem esse o seu objetivo, mas aceitou, por enquanto. 

— A gente só precisa de dinheiro, um carro, documentos... — ele disse com pessimismo.  

— Bem, deve ter sido por isso que eu tinha que voltar. — a voz de Escobar falou na entrada da vila. Guilherme não acreditou por um segundo. Mas sim, era mesmo Escobar Borges! A barba volumosa de seu pai esquisito se ergueu num sorriso e Guilherme retribuiu o gesto. 

— Tô indo fazer uma visita à família. — Escobar apontou contente para a caminhonete — Vamos nessa?

Prisões de Guarani - versão gratuitaOnde histórias criam vida. Descubra agora