Nina estava ao piano desde que chegaram da aula, compondo mais uma melodia suave. Era realmente apaixonada por aquele instrumento. Mas como não poderia ser, se todos ao seu redor eram viciados em ouvi-la dedilhar suas melodias? Maya pensava às vezes que ela tinha mais vocação para aquilo do que para Medicina. Isabelle estudava em seu quarto. Algumas semanas se passaram desde a série dos conflitos mais bizarros de sua história, e a vida, por mais modificada que estivesse, estava seguindo seu curso. Ela se sentou ao lado de Nina no piano, que repetia o ultimo acorde que avia incluso em sua melodia.
— Oi. — Nina informou — Estou tentando modificar o acorde de dó porque a nota mi parece dissonante. Talvez com nona fique mais harmonioso.
— Você falou grego pra mim.
Elas sorriram e depois Nina ficou séria. A amiga parou de tocar.
— Tô atrapalhando? — Maya perguntou.
— Não. Eu só queria perguntar uma coisa, se ainda não for muito cedo pra falar sobre dor.
Maya se preparou.— Pergunte.
— O que vai dizer sobre seu pai?
— Eu não tenho ideia. — Maya perdeu seu olhar no nada — Certamente será uma mentira.
— E sobre a rede de Hospitais, vai ficar no lugar dele?
— Não. É pra isso que existem todos aqueles bajuladores. Mas ele com certeza se antecipou. Eu devo ser dona de alguma coisa desde o dia que ele viajou para cá, porque é melhor nem dizer o valor que tá entrando na minha conta tão perto das paredes.
— Espero mesmo que não o substitua. — Nina admitiu. Maya olhou para ela, que voltou a tocar sua composição do início.
— Eu não vou a lugar algum. — prometeu — Sei que alguma coisa meu pai preparou para mim e não é algo assim. Ele sempre me disse que eu preciso ser Moema antes de ser Nindberg.
— Sábio. — Nina sorriu, errando a nota que faria e repetindo. Maya se levantou e deu um beijo na testa da amiga. Foi até a janela, onde jovens jogavam futebol naqueles campos de areia que as criancinhas gostavam de se espatifar. A tarde iluminava seu rosto e o piano de Nina com uma luz filtrada pelo vidro especial.
— Eu vou lá fora. — Maya disse.
— Traz aquela salada tropical do restaurante pra mim.
— Nunca vai querer algo mais gorduroso?
— Nunca. — Isabelle respondeu do quarto, fazendo as duas rirem — E traz uma pra mim também.
— Tá bom. — Maya ria.
Enquanto a lua se erguia no céu Nil e seus amigos saltavam as estruturas da praça como sempre. Maya achava aquilo um tanto monótono, mas as habilidades de Nil de fato a impressionavam. Por um instante, ela se lembrou de seu pai na floresta, lutando contra Teçá. Nil não chegava nem perto daquilo, mas esse foi mais um motivo pra ela sentir vontade de aprender o Parkour.Outros desejos também estavam gritando em seu coração. Maya não queria deixar que passassem, indo para longe. O ultimo mês lhe mostrou que a vida devia ser aproveitada, mas princípios pessoais que mantinham sua dignidade e felicidade não deviam ser ignorados. Ela estava em conflito, mas seu julgamento não pendeu para a desistência.
Quando o garoto a viu, segurou o ferro de um trepa-trepa do qual saltaria e ficou olhando para ela daquele ponto alto como se fosse um super herói. O suor de sua testa viajava até o chão de pedra. Ele sorriu ofegante.
— Você tem outras roupas na mochila? — Maya perguntou sem antes cumprimentá-lo, como se já tivessem começado a conversa.
— Tenho, sim.
— Então, vem comigo.
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Prisões de Guarani - versão gratuita
Fantasy🏆Terceiro lugar no concurso PAX 🏆Prêmio de melhor vilão (Deusa Jaci) A vida pouco comum de Maya Nindberg, herdeira de um verdadeiro império e com os sonhos na palma da mão, passa a ser ameaçada por forças super-humanas ao descobrir que sua falecid...