27. Maya

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— Aqui estamos. — anunciou o taxista, apontando a praia deserta que mesmo à noite encantava os olhares — Um bom acampamento pra vocês. 

— Obrigado. — Nina disse e mandou um sorriso fechando. 

Maya saiu do carro primeiro e olhou a paisagem escura. A lua gigante pouco acima do mar quebrado por rochas fazia uma trilha de luz branca pela água que se movia tranquila. As areias sublinhadas da extensão da praia pareciam não ter fim. Ao leste, uma nuvem de fumaça se formava. Impossível descrever o que era. Nina e Belle chegaram perto dela. 

— Tão bonito quanto você imaginou? — perguntou Nina Varell, num sorriso melancólico cheio de lembranças. Maya olhou para ela. 

— Nós não vamos morrer aqui, Nina. — prometeu. 

— Bem, tomara. — Belle entrou, tremendo pelo frio que a brisa do mar trazia. 

— Nós vamos matar aquele índio e nos livrar daquela deusa. 

— Eu tô louca pra dar uma boa surra numa deusa. — Belle ironizou com preocupação — Mas como vamos fazer isso? 

— O que vamos fazer, May? — Nina sussurrou. Maya pensou por um segundo e instruiu: 

— Quando eles chegarem, entre na água. 

— Ugh... O que?! Como assim? 

— Faça isso, amiga. 

— É, mas e quando eu for encontrada? 

— Teçá é meu. Quando Jaci encontrar você, só precisa deixar seu coração agir. Direcione sua raiva para ela. 

Nina encaixou as mãos à cintura curva. 

— E se a única coisa que eu sentir for o medo, Maya? 

— Direcione também. 


As meninas se assustaram quando viram Maya saindo de trás das rochas totalmente pelada. O frio se intensificou quando a maresia pôde tocar seu corpo completamente. Maya costumava andar mais aberta, mas foi até elas de pernas mais juntas e braços cobrindo os seios. 

— Bem, — Belle disse, dando de ombros — o mundo já tá bem estranho, né? 

— Eu vou precisar das roupas de mendigo pra voltar pra casa. — Maya explicou — Agora é a hora. Estão preparadas? 

— De certo modo — Nina abriu os braços —, eu vou lutar com forças que, até ontem, estavam além da minha compreensão. 

Até aqui era difícil deduzir o que se passava na mente de Nina Varell. Tudo ocorreu tão rápido e o que veio com essa aventura sombria foram mortes, dor, suor ardente e o terrível risco de ter os sonhos jogados ao chão. Maya acariciou seu ombro. 

— Tudo bem? 

Mas Nina sorriu. 

— Amin foi a prisão mais resistente que essa deusa já viu. Além de tudo, ele conseguiu ser o nosso guardião. — ela segurou a mão de Belle, unindo o trio — Eu quero continuar o trabalho.
Maya sorriu fechado, emocionada. Isabelle se achegou, juntando as três num abraço amoroso. 

— Vocês estão me deixando cada vez mais louca. — Belle murmurou sorridente. 

— Proteja-se, Belle. — Maya aconselhou, soltando-se delas e recuando alguns passos. 

— Vai dar tudo certo. — Nina repetiu. 

Maya, distante alguns metros de suas amigas, olhou suas silhuetas assinaladas pelas linhas brancas do luar atrás delas. Abriu os braços e canalizou a fúria que o ódio contra Teçá enfeitava em seu semblante. Um círculo de fogo se formou em seu redor e labaredas subiram em espiral como um furacão ardente e voraz, formando algo parecido com asas ao passar pelos braços estendidos. Em seguida, Maya começou a planar e as chamas em volta penetraram seu corpo, tornando-a a mulher de fogo que elas já conheciam. 

Prisões de Guarani - versão gratuitaOnde histórias criam vida. Descubra agora