13. Guilherme

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Por mais que Escobar Borges não agradasse muito, Guilherme se convenceu sozinho de que seu pai significava alguma coisa para ele. Se não, o nordeste não seria conhecido além dos limites da universidade na Bahia. Afinal, que lugarzinho minúsculo é esse que chamam de Maceió, a capital do estado mais pobre do país? Desconhecida e com um nome que paulistas só dariam a uma vila do interior, essa cidade tinha a solitária bênção de ser banhada pela mais bela praia de todo o Brasil. Guilherme podia não admitir, mas seu arrependimento por machucar o pai que só queria conectar-se com ele era o que o obrigava a procurá-lo.

Ele ligou várias vezes, mas Escobar não atendia.

— Esse barbudo irritante. — tentou novamente, e quando a caixa postal estava começando a ser aberta mais uma vez ele perdeu a paciência e desligou. Deixou que o pensamento partisse para trazer à mente a bela garota com quem havia passado a noite.

Ester era charmosa e bela, com cabelos de brilho dourado como um topázio refletindo a luz do sol, pele branquinha com uma doçura de princesa e olhos que pareciam pedrinhas de perídoto com o toque da natural essência das plantas. Que corpo, o dela! Esguio e bem definido, apresentando a saúde que tinha em si. Guilherme ria à toa ao lembrar-se de tudo isso, que tão facilmente conseguiu. Perguntava-se se ela não havia feito para manipulá-lo, mas se não roubou suas coisas nem o matou para ficar com a casa, era provável que sua nova "amiga" fosse alguém confiável. Se ela retornasse com os vestidos e pelo menos uma parte do dinheiro seu julgamento poderia ser considerado válido.

E de fato, a menina retornou, deixando-o alegre. Estava linda na nova blusinha bem bordada que comprara, mas nunca esteve tão estranhamente agitada como agora.

— Oi... O que houve?

— Precisamos sair daqui. — ela ficou bem à frente dele. Estava nervosa.

— O que?! Por quê?

— Ele nos encontrou. — Disse, correndo para o quarto.

— "Ele" quem?

Um barulho na entrada da vila. Ester voltou do quarto com roupas de Guilherme numa mochila. O silêncio após aquele ruído era fatal.

— O que foi? — perguntou Guilherme — Ferrou?

Ester olhou para ele e pôs o dedo apontador à frente da boca. Ela tinha medo em seu olhar e seu corpo tremia. Guilherme ainda entendia lentamente o que estava prestes a acontecer, mas percebeu que as histórias que a moça lhe contou cobre o caçador eram verdade, pelo menos para ela. E súbito, o caçador apareceu destruindo parte da parede dianteira a partir da passagem da porta, que caiu. O barulho foi imenso e eles gritaram assustados. Rapidamente, o homem usou uma espécie de lança-espada para atravessar o corpo da menina, que estava mais próxima dele. Ester gritou de dor e Guilherme se paralisou. Ela usou seus sentimentos para lançar uma rajada de telecinese que lançou o caçador contra a parede do quarto. Ele derrubou a estrutura e também os tijolos que os separavam da casa vizinha. A dona, por sua vez, gritou como louca e suas crianças correram para a saia dela. Guilherme correu para Ester.

— Você vai ficar bem. — prometeu — Eu vou te tirar daqui.

Ester chorava enquanto ele a ergueu do chão e a levou para o carro pelo corredor. O índio saiu pela porta da frente da vizinha e puxou a adaga, que brilhou um pouco mais quando ele evocou:

Teçá nossema Tupã!

Ester entrou no carro com a ajuda de Guilherme, que fechou a porta e correu para o outro banco, mas o índio o pegou pelo ombro e lançou-o sobre a calçada. Seu braço direito tropeçou naquele chão fervente de sol e ele logo o sentiu ferido.

Prisões de Guarani - versão gratuitaOnde histórias criam vida. Descubra agora