31. Maya

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— Não! — Maya Nindberg chorava e gritava, martelando o chão com os braços flamejantes e jogando arreia ao alto — Covarde! Você não pode fazer isso comigo! Não pode fazer isso! 

— Acalme-se, Abrigo de Guarani. — Maya deu atenção às palavras da voz melodiosa do pássaro divinal. Seus belos olhos pequenos refletiram a luz do ouro que banhava as penas refinadas e fragrantes do ser alado e ela observou os olhos deslumbrantes e sedutores dele. As asas se abriram e ele mostrou toda beleza que tinha para ela. 

— Você me conhece? — ela perguntou. 

— Como eu poderia não conhecer o mais encantador Abrigo de Guarani que já existiu no decorrer das eras? 

As chamas de Maya se apagaram e a ave pareceu observar sutilmente as curvas que formavam sua silhueta. 

— Bem... — Maya levou o cabelo para trás da orelha. Nem notou que estava totalmente à mostra — Obrigado. 

— Há algo em ti capaz de tragar a atenção do mais abnegado dos deuses. 

— É mesmo? — ela perguntou encantada. 

— Eu gostaria de desvendar os maiores segredos contidos na sua força, Abrigo de Guarani. 

Maya sorriu quase apaixonada por aquele ser especial. O caráter dele parecia tão belo quanto ele mesmo o era. 

— E qual é o seu nome? — ela deslizou a mão sobre o peito gigante da ave. 

— Yorixiriamori, o Guardião da Árvore Cantante.  

O nome do deus era difícil, mas algo nele fazia com que não fosse esquecido por Maya. Yorixiriamori. Yorixiriamori. Ela não esqueceria. 

— Onde fica essa Árvore Cantante?   

— Venha comigo e eu lhe mostrarei meu lar e muitas outras belezas. — O pássaro pareceu sorrir — Inclusive, mostrarei a você minha mais bela forma humana. 

A voz era grave e provocava um arrepio que se estendia por toda a pele de Maya. Ela soprou, impressionada com o fato de não conseguir evitar a excitação que teve ao apenas falar com aquele deus galanteador. Maya quis ir. Quis passar quantas noites ele quisesse ter com ela. Quis que ele a usasse como bem desejasse. Quis, por um segundo, conceber um filho desse ser majestoso. 

— Maya! — quando ela seguiu a voz de quem a chamava, viu Guilherme, que sem pensar muito atirou um relâmpago contra a ave. Yorixiriamori bateu suas asas e cantou um cântico de dor. Guilherme jogou os braços ao alto — Vaza daqui, aberração! 

— O que tá fazendo?! — Maya gritou com ele — Para com isso! 

— Essa coisa tava hipnotizando você, Maya! — ele acusou evitando olhar para ela. 

— Homens. — a ave disse com desprezo enquanto voava. 

— O Guardião da Árvore Cantante. — Jaci chegou. Atrás dela, Nina estava nas ondas do mar.
— A Grande Lua, Rainha do Grande Relâmpago. — o pássaro reconheceu. 

— Sabe — ela caçoou —, eu não me nego a crer que você tenha voltado ao mundo dos homens só para se relacionar com as mulheres deles. Até a magia da Árvore Cantante deve ser tediosa para um deus tão medíocre. 

Yorixiriamori esboçou mais um sorriso com seu bico. 

— Tenha um pouco de fé, Jaci. 

Jaci olhou toda a praia. 

— Onde está meu guerreiro? O que fez? 

— Eu apenas falei sobre você. — Yorixiriamori disse com sadismo — Ele não gostou. Espero que não se aborreça. 

Prisões de Guarani - versão gratuitaOnde histórias criam vida. Descubra agora