Uma pasta amarela foi jogada à dianteira de Breno Guilherme, sob a mesa. Ele não precisava abrir para saber o que havia ali dentro. A mulher diante dele esperava enquanto avaliava seu comportamento. Era uma bonita ruiva, mas devia ter seus quarenta anos.
"Ferrou", pensou, mas buscando não demonstrar isso em seu comportamento diante da policial que o interrogava. "Eles encontraram os corpos. O que eu vou dizer agora?"
— Abra, Guilherme. — a agente ordenou calmamente. Ele o fez.
As primeiras fotos impressas apresentavam um cadáver feminino em avançado estado de putrefação. Os olhos embranquecidos haviam ressecado dentro de suas órbitas como balões de festa vazios. Os cabelos ainda estavam lá, mas a ponta do nariz havia começado a desaparecer. A pele era cinzenta como as escamas de um peixe e veias roxas se destacavam pela fisionomia. Sim, era ela, Kelly, a garota que encalçava seus pensamentos. Ele não estava bêbado o suficiente naquela noite para esquecer o desenho daquele rosto e seu perfil quadrangular. Abaixo das fotos, descobriu o nome da garota de quem tirou a vida: Jaqueline Antunes.
As fotos seguintes mostravam o corpo de um rapaz sem rosto. Irreconhecível. Era o brigão, que Guilherme descobriu ser chamado de Ítalo dos Santos. Depois dele, estavam as fotos do local onde ele os havia enterrado e papéis com depoimentos do barman da festa, alguns de seus antigos colegas da faculdade e...— Vana?! — ele pensou alto demais.
— Está se referindo à sua prima Vanessa? — a policial perguntou, inclinando a cabeça para examinar o olhar atordoado de Guilherme — A polícia de São Paulo chegou a falar com ela. Ela nos disse coisas interessantes sobre o período do assassinato, Guilherme.
— Eu não matei ninguém. — ele disse de reflexo.
— Eu não disse que matou.
Guilherme cerrou a boca.
— Eu realmente espero que um jovem historiador com um padrão de notas tão alto na universidade não tenha cometido um crime tão bárbaro, mas as evidências não estão ao seu favor. — ela se ajeitou na cadeira, puxou a pasta e respirou fundo — Vamos começar. Primeiro: o que estava fazendo com essas meninas numa fábrica e como destruíram tudo?
— Não destruímos nada. — ele fingiu corrigir.
— Não? E como explicam sua presença tão perto de lá, os alarmes que chamaram a polícia...?
— Bem... — ele pensou — Somos novos amigos. Decidimos sair juntos e encontramos a farmácia. Ficamos curiosos com uma coisa, mas aí tudo começou a explodir.— Então foi apenas uma coincidência?
Ele fez que sim com a cabeça e deu de ombros. Pensou imediatamente que não deveria ter dado de ombros. A policial encolheu os olhos, suspirou e levou os fios vermelhos de seu cabelo liso para trás da orelha. Em sua mente, Guilherme comemorava com saltos.
— Qual o motivo de toda essa curiosidade? — ela perguntou, enquanto escrevia.
Guilherme pensou. Um pequeno desespero queria dominá-lo, mas ele recordou que Amin ainda estava no prédio.
— Alguém gritava lá dentro. — ele decidiu responder.
— Ouviram gritos? — ela pareceu surpresa.
— Sim.
— Santo Deus! — Ela se recostou — Um rapaz foi encontrado na fábrica. Havia sido esfaqueado e deixado para que as chamas queimassem o corpo.
Guilherme olhou para a mesa. Não conseguia conter a empatia pelo menino que em sua opinião fora um herói que morreu sem honra.
— Sabe algo a respeito?
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Prisões de Guarani - versão gratuita
Fantasy🏆Terceiro lugar no concurso PAX 🏆Prêmio de melhor vilão (Deusa Jaci) A vida pouco comum de Maya Nindberg, herdeira de um verdadeiro império e com os sonhos na palma da mão, passa a ser ameaçada por forças super-humanas ao descobrir que sua falecid...