18. Amin

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Amin Roriz olhava com tensão aquela conveniência que incandescia perante as horas da noite. Em contraste com ela, a paisagem de pontos coloridos sobre uma colina negra era Presidente Figueiredo, a cidade onde cresceu. Este era o lugar para o qual seus pais nunca quiseram vir, mas um dia, por algum motivo que ele nunca quis saber, aqui estiveram, até aparecer aquele índio perseguidor. 

Amin estava nervoso. Sua camiseta gasta e desbotada como a pele e um idoso tremulou com um pequeno sopro do vento. Não conseguia estrategiar direito. Mas ele sabia que, assim como das outras vezes, sempre conseguia sair com o que precisava. Sua mãe tinha fome e seu pai... ele não estava mais aqui. Então ele era o 'homem da casa'. Ele tinha que fazer o que era mais difícil. 

Um velho senhor sorridente sentou-se à sua esquerda para olhar a paisagem atrás dele.
— Coisa bela, né, meu filho?
Amin olhou para ele.
— A paisagem de noite, — explicou o senhor — ela é bonita.
— Mais do que de dia. — concordou o rapaz, com voz trêmula. O senhor olhou para ele com mais atenção. Amin não retribuiu o olhar, mas sentiu que estava sento analisado. Fez um movimento com a cabeça que derramou seus cabelos loiros à frente dos olhos. Acreditava que se outros não pudessem olhá-lo nos olhos não podiam penetrar-lhe a alma. O velhinho, mais sábio do que ele, apenas o acompanhou olhando a conveniência.
— Se acha bonito, — avisou ele — está olhando para o lado errado.
— Hum. — Amin, incomodado, coçou o pescoço.
— O que você vai roubar?
— O que?! — o rapaz se assustou.
— Acha que é o primeiro rapaz que senta neste banco e fica olhando aquela loja tremendo feito vara verde? Todo garoto que pensa em roubar lá faz o mesmo.   

Amin ficou envergonhado e olhou para os pés. O senhor escorregou pelo banco para ficar mais perto dele e continuou:
— Mas a diferença entre esses e os que chegam em uma moto com armas na mão é que os do banco fazem isso porque não sabem mais o que fazer. — com isso, o jovem finalmente encontrou aqueles envelhecidos olhos azuis que sorriam — O que há com você, meu rapaz?
— Minha mãe. — ele decidiu contar, após uma pausa silente — Ela está com fome. Me deu tudo o que tínhamos e agora eu quero dar de volta. Eu preciso dar de volta.
— Ela não pode trabalhar?
— Não podemos ficar aqui por muito tempo.
— E por que?
— Eu... — Amin gemeu e olhou para o chão — não posso contar.
— Meu jovem, — o senhor falava pausadamente — sua mãe é alguém que consegue entender que sacrifícios, às vezes, são necessários e eu a parabenizo por isso. Eu estou vendo que você também tem essa capacidade, mas se há algo que eu aprendi nos meus setenta e quatro anos foi que fazer o mal deve ser nosso último recurso. — ele retirou dinheiro de sua carteira e o ofereceu. Amin arregalou os olhos. O sábio continuou — Antes disso, há menos vergonha em pedir ajuda. 

— Obrigado, senhor, obrigado! — o garoto sorria e abraçava aquele velhinho sábio e bondoso. Estava tão feliz que não conseguiria expressar. 

— Não se preocupe com isso. — ele disse, gemendo enquanto levantava — Vá comprar um lanche para vocês dois. Tenho que ir para casa.
Amin Roriz se dirigiu sorridente para a loja. O senhor o assistiu com felicidade. Comprou o que precisava, mas havia sobrado algum dinheiro, e quando retornou para devolver, o velhinho havia partido.

— Carla — Amin ouvia a mãe dele gritar nervosamente enquanto se aproximava dela no beco — Carla! Você não entende! A gente não tem mais o que fazer! Almir está morto. Eu estou nas ruas com meu filho sem um tostão furado! ... Não! Carla? Carla!
— Ela não acreditou em você? — Amin perguntou, quando chegou atrás da mãe, que tirou o aparelho do ouvido.
— Ela não quer acreditar, Amin. — ela dizia chorando e deixou que seu cabelo loiro caísse para cobrir o rosto.
— É de se esperar, mãe. Todo esse tempo essa família que temos só nos trouxe problemas e ninguém nunca nos ajudou. 

— Quando a bateria acabar — ela repetia em lágrimas — não vamos ter comunicação.
— Mãe. — Amin pedia — Não faça isso consigo mesma.
— Meu menino — não parecendo ouvi-lo, sua mãe insistiu, virando para ele e segurando com seus braços delgados os ombros do filho — Lembra do plano 'B'? Quando o caçador nos achar você precisa estar longe de mim.
— Mãe, nós já falamos sobre isso...
— Longe de mim, meu filho. — ela tremia — O mais distante possível.
— Chega! — Amin gritou — Eu vou chamar a polícia.
— Polícia? Não!
— Eu sei que você não quer isso, mas eles podem...
— Amin, meu filho, vão todos morrer!
— E advinha, mãe: Nós dois vamos morrer de qualquer jeito! O papai... — nesse momento, uma lágrima rolou sobre seu rosto — Ele morreu porque decidimos enfrentar esse problema sozinhos. Agora não temos mais casa, nossos amigos fugiram e nossa família continua sendo a mais babaca do universo. 

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