Capítulo 8 - Desafiando

1.9K 166 67
                                    

Mais um dia iniciava-se em Montemor. Para Catarina, aquele dia era diferente dos demais. Poder dormir e levantar viva agora tinha um significado mais especial, significava vida, renascimento e força.

Ela ainda não acreditava que realmente estava livre da fogueira. Olhava para sua própria pele em busca de qualquer queimadura, mas nada encontrou. Ainda lembrava-se do desespero que foi se ver em meio àquele fogo sem poder correr, sem poder pedir socorro a ninguém.

Eram por volta de 6 horas da manhã. Ainda caia uma chuva fina. Ela debruçou-se na janela observando as ruas vazias, olhou para o céu e viu um arco íris. Sorriu ao lembrar-se de sua mãe e mais uma vez agradeceu mentalmente pelo que a mulher havia feito. Tudo que ela mais queria era poder abraça-la mais uma vez.

Catarina fez sua higiene e em seguida foi até a cela de Luciola. Os guardas que lá estavam lhe fizeram uma reverência e ela aproximou-se das grades. Lucíola a olhou assustada. Acreditava estar diante de um fantasma.

- Olá, Lucíola. - Catarina disse e riu quando a mulher afastou-se amedrontada. - Não sou um fantasma, eu estou viva.

Lucíola, ainda desconfiada se aproximou e tocou a mão de Catarina percebendo que realmente era ela ali, em carne e osso.

- Alteza, mas como? Como está viva? Vossa pena fora adiada? - Ela perguntou confusa.

- Muitas coisas aconteceram durante esses dias, Lucíola. - Catarina falou e sentou-se no chão para começar a explicar. - Lembra-se de minha mãe, Brice? - Perguntou e ela assentiu. - Ela não permitiu que minha pena fosse concretizada. Minha mãe tinha um dom de controlar as forças da natureza. Nos últimos dias notei que ela estava fraca, mas sabia que ela estava em seus últimos dias. Sabia que o que a manteve viva foi buscar por mim durante esses anos. - Catarina falou e abaixou a cabeça lembrando-se de sua mãe.

- Ela vinha dizendo coisas estranhas sobre talvez minha pena não ser executada, mas eu já não tinha esperanças. Depois ela sumiu por um tempo e quando retornou disse que havia reunido o máximo de forças possível para controlar as forças da natureza a meu favor e foi o que ela fez. - Catarina parou de falar por uns instantes. - Mas agora ela se foi. Minha mãe morreu. - Catarina disse e deixou algumas lágrimas escaparem. Lucíola segurou sua mão e disse:

- Sinto muito, alteza. Enquanto estávamos livres lembro-me do carinho dela pela senhora. - Lucíola disse e Catarina sorriu. - Mas como ela a fez escapar da fogueira?

- Minha mãe fez algo que ninguém acreditou, Lucíola. Fez Montemor chover. - Lucíola ficou boquiaberta. - Primeiro uma escuridão nos céus, depois raios e em seguida a chuva. Mas o que vim lhe falar não é sobre isso. O bispo que me condenou à fogueira ainda encontra-se no castelo. Diante do que me aconteceu e da euforia pela chuva que há muito tempo não caia em Montemor tenho certeza que posso o convencer a não mais condená-la. - Catarina falou e os olhos de Lucíola brilharam.

- Faria mesmo isso por mim? - Ela perguntou.

- Com toda a certeza do mundo. Você esteve comigo em todos os momentos e seria de uma injustiça sem tamanho de minha parte desampará-la nesse momento. - Catarina falou e apertou as mãos de Lucíola. - Eu vou conseguir, você não irá para aquela forca.

- Muito obrigada, alteza, muito obrigada. - Lucíola dizia feliz.

- Agora tenho que ir. Preciso falar com o bispo o mais rápido possível antes que ele saia do castelo. Em breve estaremos juntas novamente, Lucíola. Eu não a deixarei sozinha. Além do mais, sei que Delano também ficará muito feliz quando for libertada. - Catarina disse e sorriu divertida quando Lucíola corou. Sabia que sua dama de companhia e o soldado estavam vivendo um romance às escondidas.

RiseOnde histórias criam vida. Descubra agora