Capítulo 45 - O diário de Catarina

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Catarina ainda se encontrava em Montemor após a notícia da concessão do empréstimo por parte do Conselho da Cália, porém não por muito tempo. A rainha mal havia recebido a notícia e já começou a planejar sua viagem para Artena. Ela não via a hora de voltar àquele lugar e não via a hora de retomar as obras de reconstrução que, apesar de não terem paralisado, haviam desacelerado bastante o ritmo.

A rainha estava em seus últimos preparativos para a viagem. Ela estava bastante pensativa, com sua mente viajando em meio a inúmeras ideias e pensamentos. Tal comportamento não passou despercebido aos olhos atentos de Lucíola, que penteava seus longos cabelos negros.

- Vossa majestade parece tão distante hoje. Algo a preocupa? - Questionou sua dama de companhia.

- Tantas coisas, Lucíola, e todas ao mesmo tempo. Fico pensando na viagem, no que me espera em Artena e especialmente no que me espera aqui em Montemor quando retornarmos. Principalmente quem me espera. - Ela falou apenas confirmando o que Lucíola pensava.

- Fala de vossa majestade, rei Afonso, não é? - Lucíola questionou e Catarina assentiu positivamente.

- Ainda me sinto tão insegura em relação a ele. As vezes quero agir feito uma adolescente inconsequente e me entregar de vez a esse amor que insiste em não me deixar em paz, mas ao mesmo tempo tenho medo. Você sabe tudo que sofri, tudo que aguentei, tudo que tive que me submeter, principalmente quando ele ainda estava com aquela rata ruiva brincando de ser rainha aqui dentro desse castelo. - Catarina falou sentindo a raiva se apossar de si quando sua mente trazia as lembranças a tona.

- O rei mais parecia enfeitiçado por Amália, mas hoje não mais. Creio que ele realmente a ama e a quer ao seu lado. - Lucíola disse.

- Eu ainda temo. E se eu resolver deixar acontecer e tudo se repetir novamente? E se ele resolver correr atrás dela de novo? Ou mesmo de outra? Não sei como agir, não sei o que pensar. - Catarina disse cansada. - As vezes acho que eu poderia ser um pouco menos racional, mas é essa racionalidade que me mantem firme, com os pés no chão. Não tenho como evitar ser assim, é parte de quem sou.

- Use esse tempo em Artena para reorganizar vossos pensamentos, majestade. Esse tempo sozinha pode ser bom para fazê-la pensar melhor em tudo que está ocorrendo.

- Tens razão. Será bom passar algum tempo longe de Montemor e de Afonso. A presença diária dele só me faz mais confusa e eu preciso desse tempo comigo mesma para pensar melhor e para decidir o que farei daqui para a frente. - Catarina disse encarando novamente sua imagem no espelho voltando a viajar no turbilhão de ideias que corriam por sua mente.

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Afonso e Gregório estavam na sala de reuniões onde discutiam sobre os rumos da reconstrução da mina. Assim como em Artena,  as obras em Montemor também precisam desacelerar consideravelmente e agora era a hora de retomar o ritmo.

Como rei era óbvio que Afonso estava feliz em ver seu reino no caminho para o desenvolvimento, mas como homem não podia deixar de pensar no medo que sentia de Catarina ir embora assim que Artena estivesse novamente de pé. Era como se um buraco se abrisse em seu peito só de pensar. E claro que aquilo não havia passado despercebido aos olhos sempre atentos de Gregório.

- Me deixe adivinhar. - Gregório disse chamando a atenção de Afonso. - Vossa majestade está assim, tão pensativo e distante porque está pensando na rainha Catarina. Ou melhor, nos dias em que não a verá.

- Parece até que leu meus pensamentos. - Afonso sorriu e falou. - Mas sim, é isso mesmo. Estava pensando sobre esses dias longe dela. Sei que é um pensamento extremamente egoísta, mas não consigo não pensar. Logo Artena estará reerguida novamente e eu temo que Catarina vá embora.

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