Capítulo 6 - A dor da despedida

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Faltavam alguns dias para a condenação de Catarina. Ela praticamente não dormia, sua mente fervilhando de pensamentos. Um filme se passava em sua mente, tudo o que havia feito, tudo o que havia conquistado, mas que de nada lhe serviram. Tudo que conseguiu foi uma condenação a morrer queimada em uma fogueira.

Se ela pudesse mudar algo em seu passado, mudaria apenas duas coisas: jamais teria machucado tanto seu pai e jamais teria amado Afonso.

Ela sorriu amarga ao pensar nele, odiava sua mente que sempre a levava a pensar naquele homem e também se odiava por não conseguir esquecê-lo completamente. Fez tudo o que podia para conquistá-lo, fez tudo para tirar a maldita plebeia de seu caminho, sonhou acordada várias vezes em construir uma família com ele, mas tudo que recebeu foi indiferença e desprezo.

Ainda se lembrava do dia que o seguiu, desconfiada de que Afonso se encontrava às escondidas com Amália, enquanto eram casados e quando suas suspeitas foram confirmadas era como se uma espada tivesse atravessado seu peito. Poucas vezes em sua vida havia chorado tanto como naquele dia, seu coração havia sido dilacerado, mas ainda alimentava a ilusão de que um dia ele a amaria.  Ilusão essa que lhe trouxe apenas uma coisa: sua queda.

Mas sua maior dor era saber que ele a odiava por algo que ela não tinha feito. "Talvez esse seja meu maior castigo, ser odiada por aquele que tanto amei", ela pensava já conformada com a ideia de que seu momento estava há apenas alguns dias de acontecer. Não tinha mais forças para falar, para pedir que a ouvissem, para gritar por sua inocência. "De que adiantaria? Ninguém acredita", pensava triste.

Fugiu daqueles pensamentos quando Brice apareceu em seu quarto. Catarina correu para abraça-la assim que a viu.

- Minha mãe, porque sumiu durante tantos dias? - Catarina perguntou preocupada. Brice havia sumido há dias. Estava com seus cabelos completamente brancos, sua pele seca e seus olhos azuis, que eram tão brilhantes, agora estavam opacos e sem vida.

- Não se preocupe comigo, minha filha. Estive reunindo forças para o momento mais importante de toda a minha vida. - Catarina a olhou sem entender o que ela dizia. Brice segurou suas mãos e lhe acaricou os cabelos. - Quero lhe contar algo.

As duas sentaram-se na cama. Catarina estava apreensiva com todo o mistério que sua mãe fazia.

- Você sabe que eu procurei por você durante toda a minha vida. O desejo de te encontrar foi o que me manteve viva durante tantos anos, a vontade de te encontrar, de te abraçar, de dizer que te amo. E agora que eu te encontrei, minha missão está quase completa. - Brice falou e Catarina ficou calada esperando que ela continuasse. No fundo sabia o que ela queria dizer, sua mãe já havia lhe falado que não teria mais muito tempo de vida. Seu coração apertou ao lembrar disso.

- Eu sinto que a minha hora chegou. - Brice disse em meio a um sorriso um pouco triste e Catarina foi às lágrimas. - Mas eu vou em paz, vou feliz, porque finalmente realizei meu maior sonho, te encontrar. - Brice segurou o rosto de sua filha entre as mãos. - Você foi o que me manteve viva durante esses longos anos, o amor que sinto por você, minha filha, me deu forças para seguir.

- Mãe, por favor, não... - Catarina dizia chorando. - Não me deixe. - Brice sorriu e abraçou.

- Não se preocupe, meu amor. Eu estou feliz e em paz, mas sei que a hora da minha partida chegou. - Brice disse e deixou algumas lágrimas caírem por seu rosto. - Antes eu quero que saiba de uma coisa. - Ela disse e Catarina assentiu. - A sua hora ainda não chegou. - Catarina a olhou confusa.

- Como assim? Eu fui condenada, não há mais nada que eu possa fazer pra fugir disso.

- Você não, mas eu sim. - Brice disse. - Lembra que falei que minha missão estava quase completa? - Catarina assentiu. - Eu reuni todas as minhas forças para completar a minha missão. Não vou permitir que pague por algo que não fez. Sei que a guerra foi seu plano e acho que já pagou por seu erro em vida, mas pela explosão da mina você não irá pagar.

- Minha mãe, do que está falando? Está me deixando assustada. - Catarina disse e Brice sorriu.

- Eu sou uma bruxa com diversos dons e um deles é o controle dos elementos água, ar, fogo e terra. Tenho o controle da natureza em minhas mãos. - Brice levantou da cama e fez um pequeno vento passar pelo quarto para demonstrar o que dizia. - E uma bruxa, ao completar seu ciclo de vida, acaba evaporando e junta-se à natureza. É o que acontecerá comigo e quando isso acontecer eu posso, pela última vez, ter o controle dela. - Catarina continuava sem entender nada e Brice foi até ela e segurou suas mãos.

- Por favor minha mãe, não deveria ter gastado todas as suas forças pra tentar me salvar. A minha hora chegou, não há como mudar isso. - A fé de Catarina havia ido embora, ela havia aceitado seu destino. Brice sorriu.

- Tudo irá acontecer no seu momento de maior desespero, quando sentir que a vida irá se esvair do seu corpo, quando sentir que nada a salvará, os céus te darão a resposta. - Brice falou e Catarina sentiu sua pele arrepiar. Não entendia porque sua mãe dizia isso com tanta convicção. As duas ficaram em silêncio e Catarina disse:

- Não queria que tudo tivesse acabado assim. Queria poder ter mais tempo com você. - Ela chorava sentindo a dor em seu peito por saber que perderia sua mãe. - Sempre quis ter uma mãe e agora que tenho uma vou perdê-la.

- Não se preocupe, meu anjo. Todo esse tempo que estivemos juntas foram os melhores da minha vida, eu não poderia estar mais feliz.

- Eu te amo, minha mãe. - Catarina disse enquanto a abraçou forte e Brice sorriu feliz. Se sentia completa.

- Eu te amo, minha filha. Minha hora chegou, mas nunca esqueça disso, eu te amarei pra sempre. - Brice falou e beijou o topo da cabeça de Catarina e as duas permaneceram abraçadas.

Brice sentiu seu corpo enfraquecer cada vez mais, suas forcas se esgotaram. Deu seu último suspiro e se foi. Catarina se soltou dela quando a mesma começou a virar pó. Seus olhos não podiam crer no que tinha visto, sua mãe havia se desfeito em seus braços e evaporado pelo ar. Não restava nenhum resquício dela.

Catarina sentiu seus joelhos fracos e caiu no chão. Ela gritou a plenos pulmões na tentativa falha de arrancar de si a dor que sentia.

Agora entendia quando as pessoas diziam que não havia dor maior que a de perder uma mãe e naquele momento tudo que mais desejava era que sua condenação chegasse logo para que sua tristeza queimasse e virasse pó junto com sua carne.

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Olá, pessoas ~me escondendo das pedras~

Eu sei que devem estar tristes com a morte da Brice, mas eu optei por deixar assim mesmo porque queria fazer a minha versão do que aconteceu nesses meses de prisão da Catarina e minha versão da morte dela.

Próximo capítulo é, até agora, o mais importante. Saberemos o que foi que Brice fez para ajudar a Catarina e o que ela queria dizer com "os céus te darão a resposta". E também é nele que teremos aquele trecho da sinopse.

Até lá. Beijos ❤❤❤

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