O caminho até o hospital seria silencioso se não fosse pela música que tocava em um volume mediano. Mediano pelo menos até Octávia colocar no máximo quando começou "God is a woman".
- Sabe maninha, se Deus fosse realmente uma mulher como você gosta de cantar, você teria um carro e eu não teria que ser seu motorista. — O sarcasmo na voz de Bellamy era nítido enquanto ele estacionava.
- Deus tanto é uma mulher que te mandou pra Terra só pra ser meu motorista.
Octavia jogou um beijo enquanto descia do carro, e eu fui logo atrás dela rindo... a cara de Bellamy quando era pego de surpresa com esse tipo de resposta, era de fato, sensacional.
- Me espera, quero ir com vocês — Bellamy fechava a porta e dava passos largos para nos alcançar — Por que você tá ajudando minha irmã mesmo? — Ele me olhava com tom curioso.
- Porque ela me ajudou e me ajuda, sabe, não me deixando ser a nerd estranha do fundo da sala — dei de ombros.
- Bellamy, você poderia ser mais educado — Octávia colocou a mão nos bolsos traseiros da calça e olhou pro chão.
- Sabe, só existem dois motivos para alguém se preocupar com você...
Octavia tentou dizer algo mas Bellamy pareceu não notar e seguiu.
- ...ou ela te ama muito, ou você tem algo que ela queira. Acho que seu caso não é amor mútuo Clarke.
Ele me encarava com um olhar investigador, eu sentia como se meu corpo pudesse desmontar ali mesmo, e em segundos eu contaria toda minha história a Bellamy só para garantir que minhas intenções eram puras. Mas eu não deveria mostrar que ele tinha algum tipo de influência que me assustava, então de forma seca dei de ombros e respondi:
- Talvez eu esteja querendo dar uns pegas na sua irmã, levando em conta que meu último ex, na verdade, era uma mulher.
Bellamy não teve respostas pro que eu disse e Octávia riu, apesar de me sentir satisfeita no momento, sabia que O me interrogaria mais tarde.
Adiantei meu passo, abri a porta do hospital e encontrei Melissa de imediato. Minha mãe sempre falava dela quando contava histórias de seu dia, então era como se já nos conhecêssemos.
- Melissa, não sei se me conhecesse...
- Clarke, filha da Abby?! — Ela sorria — Desculpa ela sempre fala de você e mostra fotos.
- Ah tudo bem, ela sempre fala de você também — Sorri com a simpatia dela, era exatamente como minha mãe descrevia — Eu precisava encontrar minha mãe, pra resolver algo.
- Sua mãe está atendendo um caso da UTI, eu posso ajudar em algo? — Ela parecia preocupada.
- Não é nada grave, é só que ela comentou sobre uma vaga de recepcionista, e tenho uma amiga que precisava — Apontei pra Octávia que sorriu atrás de mim — Queria saber se ela poderia ajudar a gente.
- Ela eu não sei, mas eu sim, venham comigo!
Sem perguntar nada a seguimos, e logo, estávamos em uma salinha, o que parecia ser a administração.
- Qual o nome dela? — Melissa sussurrou para mim.
- Octávia — Respondi no mesmo cochicho.
- Dra. Yang, com licença... a vaga pra recepção ainda tá disponível?
- Meu Deus, claro que está, quem quer trabalhar das 17:00 às 22:00? As pessoas não podem estudar a tarde muito menos a noite, eu odeio esse turno com todas as minhas forças, exigem um salário tão alto...
A mulher se colocou a falar por mais alguns minutos, ela parecia cansada, até que Melissa a interrompeu.
- Bom, tem alguém que precisa do emprego. Octávia, amiga da filha da Dra. Abby.
Sorri para a moça e Octávia fez o mesmo colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Bellamy estava atrás de nós fitando o chão, provavelmente não queria atrapalhar a chance da irmã.
A Dra. Yang encarou Octávia com um olhar crítico e logo começou.
- De segunda à sexta, das 17:00 às 22:00, 800 dólares por mês. Você quer isso garota?
- Pra mim seria ótimo. — O. sorria animada.
- Espero que não chegue aqui alcoolizada ou precisando de um médico como os adolescentes da sua idade. Amanhã você passa aqui, às 18:00 pra acertar os detalhes e começa na segunda — Yang relaxava na cadeira — Agora podem ir, e Melissa, me traz um café por favor.
Melissa assentiu fechando a porta da sala quando Octávia pulou no meu colo com um sorriso enorme.
- MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS, eu não sei como te agradecer.
- Pode começar não me sufocando — Falei quase sem ar enquanto O. me apertava.
- Ata, desculpa, foi a empolgação — Ela me soltou um pouco sem graça — Obrigada, Melissa, não é?
- Isso — Melissa sorria — Foi um prazer conhecer vocês e não tem porque agradecer. Agora deixa eu correr com o café.
Assentimos e logo Melissa sumiu no corredor. Octavia abraçava Bellamy de lado enquanto caminhávamos até a saída e ele dava os parabéns a ela.
- Isso merece um belo Milk Shake como comemoração, e aproveita, porque o próximo é por sua conta — Bellamy ria cutucando Octávia que claramente não continha a felicidade.
- Fechado!
Assim que saímos comecei a andar na direção oposta à dos irmãos Blake, eu não queria me envolver na comemoração deles, ainda mais por não me dar muito bem com Bellamy.
- A onde pensa que vai loirinha? — Bellamy estava parado me encarando enquanto Octávia corria pro carro.
- Acho que esse é um momento de vocês não quero atrapalhar, eu posso pedir um carro pelo aplicativo — Dei um leve sorriso enquanto ele se aproximava e eu pegava meu celular.
- Se não fosse por você, não teríamos o que comemorar. Agora para de marra e entra no carro — Ele tomou o celular da minha mão.
Peguei o celular de volta e o encarei. Sabia que devia fazer isso pela O, então concordei. Caminhei até o carro e quando ia abrir a porta ouvi as palavras sarcásticas de Bellamy
- Mas se tentar "pegar" — ele fez aspas com as mãos — a minha irmã, eu vou ser obrigado a te matar loirinha.
Comecei a rir e entrei no carro, eu sabia o que me aguardava, e nem demorou.
- Pode começar a explicar essa história de dar em cima de mim Clarke — Octávia ria e me encarava do banco da frente, enquanto Bellamy sorrindo, me olhava pelo retrovisor. E assim, fomos, rumo aos milk shakes.* * * * * *
Cheguei em casa por volta das 17:00. Tomei um banho e deitei. Meu corpo pedia pra dormir, mas me coloquei a pensar no que aconteceu pelo dia.
Até chegarmos na lanchonete eu tive que contar a verdade pra eles, que eu nunca namorei uma garota, só dei um beijo na minha melhor amiga, que por sinal, havia sido roubado por ela... não que eu não tivesse gostado, mas foi diferente, novo. Prometi contar essa história pra eles mais pra frente. Na verdade, prometi contar no dia em que Bellamy passasse um dia sem ser sarcástico. Bom, conhecendo ele, eu acho que eles nunca saberão.
Descobri que Octávia podia ser uma ótima amiga, tirando o fato dela tomar o milk shake dela e o meu. O. sabia claramente como fazer alguém rir durante toda a tarde, o que foi uma surpresa pra mim, aquela garota da lanchonete não era nenhum pouco como a garota do colégio.
Bellamy não ficou pra trás, desfiz, pelo menos, por partes, uma primeira impressão errada que tive dele. Era nítido que, no seu passado, tinham muitas coisas que o transformaram em quem ele era hoje, mas uma coisa era certa, a casca que ele apresentava pro mundo, não era ele de verdade. Eu tive certeza disso mais cedo, na lanchonete, quando de forma despreocupada ele mimou Octávia como uma criança, brincando e fazendo piadas ridículas das quais todos rimos.
Se alguém visse de longe diriam que nós três éramos melhores amigos. Mas eu sei, que no fundo, os irmãos Blakes são leais e bem diferente do que aparentam, eu me diverti hoje, depois de um longo tempo, e no meio disso tudo, só existe um problema: eu preciso conhecer a verdadeira história deles!
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My Reasons
RomanceClarke tinha 16 anos quando perdeu seu pai. Abby passou a dar mais atenção à sua filha ao invés de viver no hospital. Com a chegada do final do ano, Clarke descobriu que o selo no seu boletim escolar foi vermelho com letras garrafais escrito "REPROV...