- Fique comigo, por favor, não feche os olhos, só mais um pouco...
* * * * * *
Havia se passado quatro dias da formatura, finalmente as férias tinham chegado. Bellamy e Lincoln estavam dedicando todas as suas manhãs ao serviço. Octávia havia pegado um turno maior no hospital e ela conseguia sair às 4p.m. Lexa havia viajado com Raven para sua cidade natal, apresentar a namorada a família verdadeira. Murphy passava a maior parte do tempo nas festas de Cheryl, tentando conquistar uma garota específica. E eu, bom, ando passando a maior parte do tempo na praia. Gosto do cheiro de maresia, e do calor que reflete da areia. Sentar aqui e ler Um Porto Seguro era uma verdadeira terapia.
São 3p.m. e estou esperando Bellamy que deve chegar a qualquer momento. Ele havia me pedido para que o esperasse, depois de buscar Lincoln ele viria me buscar e então encontraríamos Octávia na casa dos Blake para fazermos um piquenique de final de tarde no parque. A ideia era animadora.
Fui tirada dos meus devaneios ao ouvir a buzina do alto da praia e ver o carro de Bellamy. Peguei minha canga, meu livro e caminhei sentindo meus ombros arderem pelo sol. Pude ver meu rosto no celular, minhas bochechas estavam vermelhas, o que contrastava bem com o tom dos meus olhos.
Abri a porta do carona e encontrei Bellamy sorrindo como bobo.
- O que foi? — falei fechando a porta.
- Você conseguiu ficar ainda mais linda se é que é possível.
Sorri sem graça como de costume e depositei um beijo rápido em seus lábios.
- Oi Lincoln tudo bem? Como foi seu dia? Você está cansado? — Lincoln falava ironicamente no banco de trás.
- Eu não sou a Octávia queridinho — joguei um beijo pra ele rindo.
Bellamy acelerou e seguimos rumo a casa dos Blake.
Nossas mãos estavam entrelaçadas, e a música era suave. Lincoln cochilava tranquilamente no banco de trás e eu observava Bellamy dirigir, ele sorriu sem desviar os olhos da estrada ao notar meu olhar. Em poucos minutos estávamos na porta de casa. Joguei minha canga na cara do Lincoln.
- Acorda velhinho.
- Trabalhador, isso sim.
- Que desculpa hein irmão.
Bellamy ria enquanto descíamos do carro. Assim que entramos encontramos O. ajeitando as coisas em uma enorme cesta.
- Finalmente hein queridos.
Lincoln lançou os braços em sua cintura e deu um beijo em sua cabeça.
- Graças a Deus você tá aqui, tão fazendo bullying comigo minha gata.
Octávia lançou um olhar reprovador para mim e Bellamy que caímos no riso.
- Vou pro carro esperar vocês — falei pegando a cesta com algumas comidas.
O sol havia amenizado, mas o clima ainda estava bom, entrei no carro, mantendo a porta aberta e liguei o rádio, tocava Rise Up, uma das minhas músicas favoritas. Lincoln logo surgiu com duas caixas de cerveja e as ajeitou no banco de trás, junto dele.
- Pode soltar que elas não vão fugir — eu ria vendo como ele protegia a bebida.
- Vai que você acaba com elas né.
Mostrei a língua para ele e vi Octávia vindo em nossa direção com uma toalha em mãos rindo.
E então aconteceu. Tudo de uma vez. Tão rápido que mal poderia associar. Uma explosão enorme veio de dentro da casa fazendo o carro chacoalhar e as garrafas tintilharem. Antes que pudéssemos descer do carro Octávia largou a toalha no chão e correu para dentro de uma casa em chamas gritando por Bellamy.
- OCTÁVIA — o grito de Lincoln foi estridente.
Assim que corremos em direção a casa outra explosão, dessa vez não tão grande soou fazendo a porta da frente cair, nos impedindo de passar.
O meu cérebro havia parado, algumas pessoas saíram de suas casas e observavam horrorizadas a casa dos Blake pegando fogo. Antes que pudesse pensar no que fazia me vi pegando o celular e ligando para os bombeiros.
- Um incêndio. Tem pessoas lá dentro.
Em alguns minutos a moça que me atendeu desligou e eu sentia as lágrimas escorrendo em meu rosto. Lincoln tentava se aproximar a cada minuto mas sem sucesso. Bellamy e Octávia estavam lá dentro. As chamas já haviam se alastrado e tomado toda a casa. Meu estômago estava embrulhado, eu queria entrar e salvar as pessoas que eu amava desta vez, mas não tinha como. As janelas haviam explodido, porém os buracos eram muitos pequenos para passagem, e a porta estava caída na transversal em chamas. Os minutos passaram como se fossem horas, não havia o que ser feito até que os bombeiros chegassem.
- BELLAAAAAAAAMY!
O grito que saiu de mim foi tão alto que fez minha garganta raspar, cai de joelhos no chão. Não podia acabar assim, eu não podia perder quem eu amava dessa forma. Por que isso explodiu? Eu estava aí dentro a cinco minutos. Era um piquenique. Não fazia sentido. Senti meu sangue gelar quando vi um Bellamy cinza e um pouco ensanguentado saindo pelos fundos. Levantei sem exitar e corri para os seus braços que me envolveram com uma força tão grande que soltei o ar dos meus pulmões, nem sequer tinha notado que havia os segurado por tanto tempo.
- Graças a Deus, graças a Deus — choraminguei em seu ombro.
Meu cérebro parou mais uma vez. Lincoln estava ajoelhado no chão, sem reação.
- Cadê a Octávia? — Bellamy me soltou de súbito.
- Ela entrou pra te procurar — sussurrei chorando.
Assim que corremos para a entrada ouvimos o barulho da porta sendo chutada inúmeras vezes. Bellamy e Lincoln se aproximaram e gritaram algo que meus ouvidos não registaram, talvez pelo desespero do momento. Um chute em conjunto fez a porta desabar de vez, e uma Octávia muito mais ensangüentada saiu de lá de dentro. Antes que pudesse dar cinco passos, O. caiu no chão. Bellamy correu para o carro e pegou um kit de primeiros socorros. Lincoln apoiou a cabeça de Octávia em sua perna. Os ferimentos dela eram inúmeros, seus braços estavam em carne viva e sua cabeça sangrava. Sentei ao seu lado e acariciei seu longo cabelo preto.
- Você vai ficar bem, vai ficar bem — Lincoln chorava.
- O Bellamy, ele tá... — O. engasgou e sangue jorrou da sua boca — ...ele tá bem?
- Sim, ele tá vindo.
Bellamy se juntou a nós com ataduras. Imediatamente tirei elas de sua mão.
- Não, ela tá muito queimada, as ataduras vão grudar na pele dela e piorar tudo. Não tem o que fazer até os médicos chegarem — sussurrei para que só ele ouvisse.
- Não Clarke, não — ele chorava sem parar assim como todos nós.
- Clarke — Octávia me chamava quase sem voz.
- Eu to aqui — a encarei sorrindo apesar das lágrimas.
- Cuida do meu irmão, ele te ama — ela tinha aquele sorriso travesso que era só dela.
Assenti em silêncio. Minha mãe era médica, eu já tinha visto muitas situações assim. Eu sabia que as chances eram poucas, e se o pior acontecesse, não queria me arrepender de não ter dado a ela o que queria. Abaixei minha cabeça e depositei um beijo em sua testa, apesar das fuligens a área estava boa. Aproximei meus lábios de seu ouvido e sussurrei para que só ela soubesse.
- Você foi a melhor amiga que eu tive, eu te amo muito, e eu vou cuidar do seu irmão como se fosse a minha vida.
Ela assentiu em silêncio e sorriu pra mim. Seu peito mostrava que a respiração tava difícil. Apertei os lábios e me afastei, pior que perder meu namorado seria perder a minha melhor amiga. A pessoa que me deu a vida que tenho em Nova York. Que me fez rir, e me obrigou a se enturmar. Que devolveu meu sentido para viver.* * * * * *
- Para de se despedir, você não vai morrer, eu não deixo você morrer me ouviu? — Bellamy gritava alto, mas sua voz já estava longe.
- Me escute Lincoln — fitei os olhos do homem que eu amava acima de mim — Eu te amo como nunca amei ninguém. Você me fez viver três metros acima do céu, no paraíso, e eu... — a tosse estava piorando, e o gosto metálico de sangue na minha boca me assustava — ...eu sou grata por isso.
- Calada, vamos ter três filhos ainda, e você vai virar médica lembra? A Clarke tá esperando você pra isso.
Ele sorria. Ah, aquele sorriso, eu era apaixonada por ele. Mas não tinha mais tanta força assim para dizer tudo que estava pensando. Então só assenti.
- Pode me deixar com o Bell?
Ele confirmou e se afastou, as pernas de Bellamy agora substituam as dele. Meu peito doía, e eu sentia cada queimadura em meu corpo, o vento leve fazia com que elas ardessem ainda mais. Minha cabeça estava pesada, e eu sabia que tinha poucos minutos. Sorri com as lágrimas escorrendo.
- Me desculpe — solucei — Eu preferia me arriscar do que estar no seu lugar agora.
- Eu vim pelos fundos, você não podia ter entrado lá Octávia. Você é a minha vida, eu não posso viver sem você, não posso.
O desespero em sua voz só deixava mais claro o quão ruim a situação estava. O calor aumentava cada vez mais e o cheiro de queimado me dava náuseas.
- Me escute, só dessa vez. Seja feliz com ela, vocês se amam. E... — não dava mais, doía muito respirar — ...nunca, em hipótese alguma se culpe.
Meus olhos se fecharam. Assim era mais confortável, e cansava menos.
- Fique comigo, por favor, não feche os olhos, só mais um pouco...
Bellamy me ensinando a andar de bicicleta aos seis anos. Os passeios de moto com o papai. O chute de casa. Festa na Clarke. Lincoln no quarto comigo. Nosso passeio de moto. Filmes em grupo. Praia com as meninas. Todos bêbados na formatura. A formatura. Eu nunca chegaria até a formatura.
Respirar se tornou mais cansativo que eu podia suportar, então, eu parei.
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My Reasons
RomansaClarke tinha 16 anos quando perdeu seu pai. Abby passou a dar mais atenção à sua filha ao invés de viver no hospital. Com a chegada do final do ano, Clarke descobriu que o selo no seu boletim escolar foi vermelho com letras garrafais escrito "REPROV...