My Reasons

Capítulo 3: Blake's

Ao atravessarmos o estacionamento, Octávia parou em frente à um carro preto do lado do passageiro e jogou as chaves por cima do carro acertando diretamente nas mãos de seu irmão Bellamy que estava do lado do motorista.
Confesso que fiquei sem graça, achei que seríamos só eu e ela, de certa forma, sentia algum carinho mútuo por Octávia.
- Te reapresento o motorista — Octávia sorria abrindo a porta do passageiro — Meu irmão insuportável que serve pra algumas coisas, mas você já o conheceu no intervalo.
Sorri com o que ela havia dito e abri a porta de trás entrando. Bellamy fez o mesmo ligando o carro em seguida.
- Onde a novata mora? — Ele indagou me encarando pelo retrovisor.
- Na sétima rua do seu bairro, espero não ser um incômodo... — Falei sem jeito, já que, pelo visto, Octávia o pegou de surpresa.
- Relaxa, o Bell é mal educado tipo sempre, mas ele é de boa — Octávia falou claramente notando a vergonha em minha voz.
- Eu não mordo, fica tranquila Clarke.
- Ele me olhou e piscou com um sorriso meio malicioso, não entendi muito bem o significado mas fiquei tranquila, logo estávamos na rua com o som em um volume razoável. Em alguns momentos reparei que Bellamy me encarava pelo retrovisor mas ignorei. Logo paramos em frente à minha casa. Desci do carro e a morena abaixou o vidro, apoiei meu braço e encarei ela e o irmão.
- Obrigada pela carona Bellamy e Octávia — Sorri e logo apertei os lábios.
- Me agradeça começando a me chamar de O, eu sinceramente odeio que me chamem pelo meu nome inteiro — Octávia sorria apoiando um dos pés no banco.
- Sendo assim, obrigada O e Bellamy — Falei rindo e me afastando.
- Por nada!
Fui respondida por um coro da voz de ambos logo depois que me virei... e antes mesmo que eu pudesse acenar o carro já estava no meio da rua.
Cheguei em casa, joguei minha mochila no sofá e fui direto pra geladeira. Peguei um prato pronto com o que sobrou do jantar do dia anterior e fui almoçar em frente à televisão. Mandei uma mensagem a minha mãe dizendo que havia chegado mas ela nem sequer visualizou, provavelmente o hospital estava cheio.
Assistia um filme antigo na TV poucos minutos depois de terminar o almoço, quando meu celular vibrou.
* 1 NOVA MENSAGEM: GRUDE*
Espero que tenha dado tudo certo com a matrícula e com a Abby aceitar.

Sorri lendo a mensagem, e ao notar que em menos de 24 horas minha vida estava se ajeitando de uma forma tranquila. Abri a página de respostas e digitei.

Positivo para ambos. A notícia triste é que não seremos da mesma sala, mas de resto tudo certo. Espero ansiosa pela sua chegada. Eu te amo meu grude 😘

A mensagem foi visualizada. Ela não era de se despedir, justificava dizendo que não queria por fim a uma conversa que não deveria terminar nunca, então eu era acostumada.
Levei o prato até a pia e subi para o meu quarto, prendi meu cabelo em um coque e me joguei na cama, não demorou muito e eu estava dormindo.

                * * * * * *

Não demorou muito depois que deixamos Clarke em casa para chegarmos até nossa casa. Desci do carro e esperei Bellamy procurar as chaves, ele sempre as perdia no meio da bolsa.
- Meu Deus, eu já cansei de dizer pra você deixar as chaves comigo e poupar esse tempo diário procurando — Revirei os olhos me escorando na parede.
- E eu cansei de dizer que não.
Bellamy abriu a porta e eu entrei correndo me atirando no sofá.
- Meu Deus eu esperei o dia todo pra poder dormir, esse momento é todo...
- Levanta e pode ir entregar seus currículos O — Bellamy falou calmamente apoiando a bolsa no canto do sofá.
- Eu posso fazer isso amanhã — Fiz bico esperando uma aprovação que não veio.
- Chega de deixar pra amanhã, já conversamos sobre isso!
Ele tinha razão. Constantemente falávamos sobre sermos completamente independentes e arranjarmos um emprego, já que toda vez que a conta aumentava nosso pai ligava gritando e jogando na nossa cara que ele nos sustentava.
Na semana passada imprimimos alguns currículos e saímos distribuindo pela cidade. Bellamy teve mais sorte por ser maior de idade e amigo do Lincoln, que o indicou no seu antigo emprego, em uma oficina. Bell gostava de carros, então ele juntou o útil ao agradável.
Para mim as coisas estavam mais difíceis, ainda era menor de idade e não estava nem perto do meu aniversário. Mas Bellamy continuava me motivando, e para não desaponta-lo eu obedeci. Levantei quase me arrastando e fui para o quarto. Vesti um short vinho, com uma blusa de gola preta e botas também pretas. Assim que desci Bell havia colocado um prato na bancada com arroz, feijão e frango. Apesar de não parecer no colégio, eu e ele tínhamos uma ótima relação, literalmente éramos a base um do outro, e por mais que ele parecesse durão, Bellamy era um amigo leal e um ótimo irmão.
- Por que não chama a sua nova amiga pra procurar emprego com você? — Ele me encarava enquanto comíamos.
- Não somos bem amigas, conheci ela hoje. E além do mais, nem tenho o número dela — Dei de ombros.
- Então pegue amanhã, você precisa de mais amigas mulheres além da Raven.
- Vai começar de novo com isso? — Falei em tom irritado.
Bellamy era muito bom, porém o ciúme dele de irmão super protetor era cansativo e irritante.
- Só acho que você deveria expandir suas amizades Octávia. Raven tem um futuro planejado muito diferente do nosso e você sabe.
Engoli em seco e não respondi. Em parte porque isso me magoava, mas na grande maioria porque ele tinha razão. Por mais que Raven andasse conosco e fosse minha melhor amiga, ela tinha o sonho de fazer faculdade de astronomia, então passava a maior parte do tempo estudando. Raramente saía, era totalmente meu oposto. Eu vivia nas festas, e sempre, rodeada pelos garotos como Bell, Lincoln, Murphy e mais alguns garotos do colégio. No início eu me sentia deslocada, mas com o tempo me acostumei.
Acabamos de comer em silêncio. Peguei a pasta com os currículos e ia rumo a porta quando Bell me parou.
- Desculpa se fui rude, eu só quero seu bem e você sabe O. Eu preciso ir pro serviço, mas posso te deixar no centro antes, tudo bem? — Ele sorria fraco.
- Ah tanto faz, eu sei que minha melhor amiga é meu oposto e que quando o colégio acabar provavelmente não verei mais ela.
Dei de ombros e o abracei fechando os olhos com a cabeça em seu ombro. Ele me apertou, isso me trazia paz.
- Você sabe, mesmo quando todos se forem ainda seremos eu e você, contra tudo e todos. Agora vamos!
Eu assenti e saímos. Fomos conversando no carro, contei o pouco que sabia soube Clarke e ele se mostrou interessado, raramente isso acontecia. Bell me falou de como o chefe dele havia o ensinado a acertar motores. Logo estávamos no centro. Depositei um beijo em sua bochecha e desci do carro acenando. E lá começava minha longa jornada de paciência e educação.