Capítulo 23: Atrações (Parte II)

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9:38 p.m.
Já estava de noite e a festa seguia a todo vapor. Felizmente minha mãe iria dormir na Melissa pra deixar a casa livre, apesar deu acreditar que algum homem estava envolvido nisso, preferi não ser invasiva quando ela contou dos planos para aquela noite.
Passei a maior parte do tempo com Octávia que vez ou outra fugia coincidentemente quando Lincoln sumia. Bellamy ficou a festa toda com Murphy e mais alguns garotos que não conhecia, e, Lexa, passou a festa inteira com Raven, elas pareciam melhores amigas e riam muito juntas, confesso que o ciúmes apareceu diversas vezes ao longo do dia pela situação, mas logo afastei aquele sentimento, afinal, eu confiava nela.
A maioria das pessoas já estavam bem alteradas, exceto por nós, eu diria que a pessoa que mais se aproximou de estar bêbada da nossa roda foi Raven, o que me surpreendeu.

Já passava das 9 quando fui até a cozinha pegar mais um copo de cerveja. Olhei para minha casa que estava irreconhecível pela quantidade de lixo espalhado e bebidas derramadas e notei que aquele ambiente não me deixava feliz, como os outros jovens pareciam estar. Me trazia uma sensação de vazio, que era preenchido momentaneamente por drinks, beijos e músicas, mas e quando o som desligasse a bebida acabasse?! Ainda seríamos todos cascas ocas.
Perdida em pensamentos senti uma mão balançar meu ombro e logo me virei vendo Murphy se aproximar do meu ouvido por conta da música alta.
- Viu a Raven?
Olhei para o sofá onde ela passou maior parte do dia e noite com a Lexa e não vi nada além de algumas garotas bêbadas no colo de uns rapazes aparentemente mais velhos.
- Ela estava com a Lexa no sofá, mas pelo visto saíram, por que? - O encarei.
- A mãe dela me ligou, ela não atende o telefone e precisa ir pra casa, mas não sei o motivo.
- Posso te ajudar a procurar - Dei de ombros.
- Aceito loirão.
Ele falou e ambos rimos tomando rumos diferentes para procurar pela Raven.
Já havia se passado dez minutos e eu tinha olhado cada canto daquela festa minuciosamente, dei de ombros e fui para o único lugar que ainda não tinha olhado, o andar de cima, antes, vi o Murphy parado em uma roda.
- Achou ela?
- Na verdade não, você achou? - Ele me olhava sem graça.
- Não, mas vou olhar no andar de cima.
- Qualquer coisa manda mensagem - Ele se virou para os meninos antes que eu respondesse.
Passei a faixa nas escadas e subi, por um momento senti meu corpo cansado por aquele dia, não estava acostumada a farrear tanto. Caminhei até nosso quarto, não tinha ninguém, exceto uma blusa masculina. Revirei os olhos e lembrei que Octávia e Lincoln estavam aqui mais cedo.
- Mais que droga.
Dei risada sozinha e chutei a blusa do Lincoln pra trás da porta com medo do que poderia ter passado por ali. Fechei a porta e sai, olhei no quarto da minha mãe, também sem sucesso.
Vi a porta do banheiro entre aberta e a voz da Lexa. Finalmente. Acelerei o passo e parei quando ouvi o que parecia ser um gemido. Engoli em seco, minha mente provavelmente estava me pregando peças por conta do cansaço. Pela porta aberta pude ver o reflexo no espelho de uma Lexa de costas e um par de mãos desconhecidos em sua cintura a apertando com mais intimidade do que pensei que jamais veria. O som da risada dela era abafado e estalos do que parecia ser um beijo quebravam o silêncio daquele corredor, fiquei ali por alguns segundos pensando se sairia e fingiria que nunca vi aquilo, se invadiria o banheiro perguntando o por que de desrespeitarem os limites da escada ou se simplesmente admitiria a mim mesma que ver aquelas mãos em sua cintura me deixaram furiosa. Enquanto via aquela cena pelo reflexo do espelho e minha mente vagava entre as três possibilidades, vi as mãos que estavam em sua cintura, virar-a de forma inesperada a pressionando contra a parede e fazendo ela sorrir entre um beijo que parecia devorar ambos os lados. A raiva dentro de mim estava grande e ela só fez piorar quando Lexa entrelaçou os dedos naqueles longos cabelos morenos o erguendo o suficiente para que eu pudesse ver quem estava com ela. Raven. Meu estômago embrulhou de imediato, corri dali entrando no meu quarto e disparei para o banheiro, onde, provavelmente, vomitei tudo que bebi mais cedo. Fiquei sentada por alguns minutos à beira do vaso sanitário pensando no que acabei de ver, me segurando pra não chorar, Deus sabe lá o por que.
Me levantei, prendi meu cabelo em um coque momentâneo e escovei os dentes, entrei no chuveiro tomando um banho rápido e deixando aquela água de piscina sair de mim, passei um pouco de shampoo pro típico cheiro de frutas vermelhas voltar ao meu cabelo. Em quinze minutos estava com uma roupa limpa, cheirosa e com os batimentos regulares novamente. Peguei meu celular, enviei uma mensagem ao Murphy avisando que não tinha encontrado a Raven e desci.
Aproveitei a festa como se não houvesse amanhã, graças a todos os deuses não vi a Lexa nem a Raven, na verdade, eu estava fugindo disso mais que tudo. Era quase 1a.m. quando as pessoas tinham ido embora, havia alguns caras completamente bêbados procurando por chaves, carteiras e outras coisas mais.
Fui até os fundos e peguei uma grande sacola começando a limpar os copos plásticos e os pinos de drogas que encontrei pela minha sala e cozinha, como os jovens podiam usar tanto isso? Enquanto recolhia as coisas do lado de dentro, vi Octávia e Bellamy recolhendo do lado de fora, o que me surpreendeu, já que achei que Bellamy estaria tão bêbado quanto os outros convidados. Octávia estava tão feliz que ninguém conseguia entender o motivo, além, claro, de mim.
Murphy tinha levado Raven pra casa pelo comentário que ouvi e Lincoln foi com um carro do aplicativo antes de todos. Lexa era a única que eu não vi e nem sabia onde estava, sinceramente, eu não queria. Ficamos por tanto nós três arrumando a zona.
Era quase 4 da manhã quando acabamos, nos jogamos no sofá de casa mortos, porém, satisfeitos por estar tudo limpo. Concordamos que os Blake dormiriam mais uma noite aqui por estar muito tarde, sendo assim, Bellamy foi o primeiro a tomar banho o que foi um alívio por dar a mim e a Octávia a chance de conversar mais um pouco.
- Vocês ficaram quantas vezes no final das contas? - Indaguei depois dela me contar cada detalhe da noite.
- Vejamos - Ela fez uma cara pensativa - Quatro se contar a primeira.
- Parece que alguém saiu no lucro - Falei rindo.
- Nem me diga, olha isso.
Octavia me estendeu o celular e me mostrou uma mensagem de Lincoln onde estava escrito "Isso realmente me pegou de surpresa, mas eu gostei. Agradeça a Clarke por mim 😘"
- Você acha que devo puxar assunto? - Ela me olhava preocupada.
- Bellamy vê o seu celular? - A olhei arqueando as sobrancelhas.
- Ele não é louco, só vê o visor quando alguém me liga e não estou por perto.
- Então não vejo porque não - Falei dando de ombros.
- Obrigada por hoje, você é incrível!
Me pegando totalmente de surpresa, Octávia lançou os braços ao redor do meu pescoço e me apertou em um abraço carinhoso que eu logo retribui.
No primeiro momento, quando sentamos nesse sofá, depois da festa, eu pensei em contar tudo que vi mais cedo, mas ela estava tão feliz por finalmente conseguir o que tanto queria, que fiquei sem coragem de estragar aquele momento e guardei para mim. A bomba poderia demorar uns dias para explodir, ou, quem sabe, nunca explodir.
- Qual é o motivo desse abraço?
A voz de Bellamy ecoou atrás de nós, ele vinha com os cabelos molhados e uma blusa branca que marcava bem as curvas de sua barriga.
- Carinho de momento - Dei de ombros - Usa o banheiro do quarto, vou tomar banho no corredor O. . Ela só assentiu e me seguiu pro andar de cima.
Tomei um banho rápido, prendi meu cabelo e fui para o quarto. Encontrei Lexa dormindo em sua cama com as roupas da festa ainda. Deitei em minha cama e fiquei lembrando do que havia acontecido, peguei o lençol e os travesseiros que Bellamy usará na noite anterior e olhei para Lexa dormindo, lembrei das mãos em sua cintura mais cedo a puxando como se, de alguma forma, aquelas almas fossem se fundir junto com os corpos, mais uma vez, senti meu estômago embrulhar, uma mistura de raiva, nojo e talvez, só talvez, um pouco de ciúme. Eu nunca havia desejado tanto Lexa quanto aquelas mãos que a seguravam no banheiro desejará, será que isso mudaria algo?! Peguei meu travesseiro na cama, minhas dúvidas secretas e desci as escadas.
- Achei que tinha esquecido de mim - Bellamy falou enquanto bloqueava o celular.
- Foi quase isso - Joguei os travesseiros nele.
- Eu agradeço a benevolência, mas não preciso de três travesseiros - Ele falou enquanto ajeitava os dele no sofá.
- Eu sei, o outro é pra mim. Não quero dormir no meu quarto.
Joguei meu travesseiro no chão ao lado do sofá e me deitei.
- Admita, você quer dormir comigo - Ele ria me olhando.
- Ah claro, até porque você vale o esforço de dormir no chão - Revirei os olhos.
- Perdoe-me, faltou meu cavalheirismo - Ele falava ironicamente se levantando - Use o sofá, eu posso dormir no chão.
- Me poupe, pode deitar aí, eu to bem - Falei o encarando.
Bellamy não hesitou em deitar novamente.
- Seu sofá é grande, você pode dormir comigo se prometer não me agarrar - Ele ria fazendo um bico como se fosse uma estrela de novela e eu fosse louca por ele.
- Tô bem aqui - Suspirei irritada, eu realmente não estava no clima dos jogos ou piadinhas.
- Qual foi Clarke, você vai acordar cheia de dor, e não passamos pano na casa, vai saber o que passou por aí...
Senti um pontada de nojo, realmente não passamos pano na casa porque o chão aparentava estar limpo, os lixos eram secos, mas nunca se sabe. Me sentei no chão, encarei o espaço que sobrará no sofá. Encarei o chão mais uma vez. Lexa iria me odiar se acordasse e me visse dormindo com Bellamy. Afastei esse pensamento me lembrando de que eu só estava dormindo ali porque ela fez eu sentir nojo de dormir no meu próprio quarto.
- Quer saber - Dei de ombros - Chega pro lado.
Coloquei meu travesseiro entre minhas costas e o peito de Bellamy.
- Nem ouse me encostar - Falei firmemente.
- Como se isso nunca tivesse acontecido antes.
Revirei os olhos com o que ele disse, apoiei meu rosto na minha mão e em alguns minutos peguei no sono, caindo em um abismo de escuridão, onde finalmente, eu não estava questionando mais nada.

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