Acordei diversas vezes na madrugada, tive uma noite péssima, talvez por ter ido dormir tão cedo. Tomei um café da manhã como uma morta viva de tanto sono e fui pro colégio.
- Qual é a placa? — Octávia me encarava assim que cheguei.
- Que placa? — Olhava pra ela confusa, que estava sozinha, provavelmente esperando a Raven.
- Do caminhão que passou por cima de você. Vamos no banheiro arrumar sua cara por favor — Octávia me puxou pro banheiro e eu deixei.
- Mas e a Raven, você não tava esperando ela? — Falei confusa quando nos aproximávamos do banheiro.
- Eu tava esperando você, não ela — O. tirava algumas coisas da mochila e passava no meu rosto, em poucos minutos me vi renovada no espelho — Pronto, agora parece uma pessoa.
- Aí obrigada — Sorri me sentando na pia — Mas quando você vai me contar o que rola entre você e a Raven?
- Quando você me contar quem é essa tal de Lexa direitinho — Ela ria e ia pra porta.
- Você é um saco Octávia — Revirei os olhos e a segui até à sala.* * * * * *
Era por volta de 9p.m. quando eu ouvi a campainha tocar. Estranhei, já que minha mãe estava no serviço e não conhecia ninguém na cidade, mas fui atender. Me espantei quando vi Octávia com uma cara de desespero e uma mochila em mãos.
- O. tá tudo bem? — A olhei confusa.
- Se você acha que o Lincoln dormir no quarto do lado do meu pode ser considerado bem, sim — Ela dizia já entrando.
- Ok, vamos do começo por favor? — Fechei a porta e me sentei no sofá.
- Só se você me deixar dormir aqui — Ela fazia um bico como uma criança.
- É claro que eu deixo, se não se importar em dividir a cama comigo, porque a cama da Lexa só chega amanhã à tarde — Dei de ombros.
- Pra mim está ótimo, obrigada de verdade Clarke — Ela sorria e se sentava ao meu lado.
- Agora a senhora me deve uma resposta — Eu sorria curiosa.
- Sua mãe não está em casa? — Ela fitava à sala.
- Não, ela está no hospital, e não muda de assunto — Eu me levantava — Vem, vamos subir e você me conta tudo lá em cima.
Octávia concordou e logo estávamos no quarto. Peguei uns travesseiros que tínhamos reserva e coloquei na cama que era de solteira, porém box, cabia duas pessoas, um pouco apertada, mais suficiente.
- Você quer comer algo? — O. parecia tensa de verdade, o que começou a me preocupar.
- Não, eu já jantei.
Ela sorria de forma fraca, o que foi estranho pra mim, já que Octávia sempre era tão forte, cheio da extremos. Me sentei ao lado dela cruzando os pés em cima da cama e a olhei.
- Você sabe que pode me falar o que quiser que não vai sair daqui né?
- Você me promete? — Ela me olhava cruzando os pés como eu fiz.
- Sim. Agora me explica do começo por favor.
- Sabe o Lincoln que anda com a gente?
Eu concordei com a cabeça prestando atenção.
- Bellamy conhece ele desde que chegamos aqui, foi o primeiro amigo dele, isso já tem pouco mais de um ano...
- Mas vocês não se mudaram quando o Bellamy fez 18? Nesse ano? — Uma confusão surgiu em meus pensamentos.
- Sim e não. Nos mudamos ano passado. Quando eu comecei o colegial e ele ia começar o último ano, só que ele repetiu no final por estar preocupado com a nossa nova vida. Ele recebeu a responsabilidade de cuidar de mim sem nem sequer ter pedido isso — Octávia parecia triste.
- Então o Bellamy tem 19? — As coisas estavam começando a se encaixar – O. não se culpe, muita coisa aconteceu. Mas onde o Lincoln entra nisso agora?
- Sim, ele tem 19. Aí é que tá. Quando nos mudamos o Bell decidiu que queria cuidar de mim sem a ajuda dos meus pais, e passou o ano todo praticamente, atrás de emprego, procurando me ajudar nos estudos, cuidando da casa, e isso fez ele esquecer dele, por isso ele repetiu no colégio, porque ele mal tinha tempo pros trabalhos ou estudar... eu era nova e irresponsável, mal notei isso, mas o Lincoln notou...
Ela sorriu ao pronunciar o nome dele, e eu pude entender que Octávia sentia algo pelo Lincoln. Mas mais importante que isso, eu senti, por um segundo, admiração por Bellamy Blake. Mas só foi um segundo mesmo.
- ...Ele passou quase todo o verão em casa, estudando as matérias do último ano com o Bell, mas ele sempre ia dormir na casa dele, e algumas vezes o Bellamy ia estudar lá quando eu ia pra casa da Raven. Até que no final do verão ele arranjou um serviço pro Bell como ajudante na oficina que ele trabalhava, mas quando as aulas voltaram, o Bellamy teve que sair já que o serviço caiu. Mas o Lincoln conseguiu algo melhor e indicou ele pra função que era dele, agora ele tá trabalhando, estudando, cuidando de mim e grande parte disso é graças ao Lincoln.
Eu sorri quando ela terminou de contar e sem pestanejar a abracei. O. retribuiu um pouco surpresa, e com os olhos brilhando por algumas lágrimas me encarou rindo.
- O que foi isso Clar? – Ela ria com os olhos cheios.
- Você não precisa falar, eu já entendi. Você se apaixonou por ele não foi? — Sorri a olhando.
Antes que eu pudesse acabar a frase, uma lágrima escorreu dos olhos dela.
- Infelizmente... eu não escolhi isso entende? Eu não queria, mas...
- Ei, calma, respira — eu estranhei o desespero dela que era evidente — Qual é o problema nisso?
- Você não conhece o Bell, se ele sonhar com isso, ele literalmente expulsaria o Lincoln das nossas vidas, isso se não me mandasse pra morar com meus pais... e ele não gosta de mim, ele gosta da Cheryl, ele me vê como uma irmã, mas hoje, quando o Bell disse que ele ia dormir lá, eu senti como se meu coração fosse sair pela boca, eu não queria e nem podia ficar lá.
Octávia caiu aos prantos com a cabeça na minha perna. Me coloquei a fazer carinho nos longos cabelos escuros dela. Cada coisa que ela contava era como um pedaço de um enorme quebra cabeça que eu tentava montar pra entender, de uma vez por todas, onde eu estava.
- Por favor se acalma, o Bellamy não vai saber, minha boca é um túmulo eu prometo. Mas quem é Cheryl primeiramente?
- Você não viu ela ainda? É a líder de torcida do colégio, estuda no último ano. Ela é ex do Lincoln, eles namoraram por um ano antes deu e do Bell chegarmos aqui, mas parece que ela terminou com ele pra ficar com uma garota, eu não sei muito bem, mas eles ficam ainda, algumas vezes. Eu posso ser durona, mas a Cheryl tem mil seguidores naquele colégio, eu não quero me envolver nisso.
- Parece que amanhã você vai ter que me mostrar quem é essa garota — Falei sorrindo.
- Tudo bem, mas promete não se envolver em nada disso? — Ela virou o rosto pra me encarar.
- Prometo — assenti — Mas eu posso te perguntar algo que eu não entendo?
- Aproveita que eu tô contando tudo hoje — Ela falou rindo.
- Por que você veio pra cá e não foi pra Raven? O que acontece entre vocês? — Fiquei arrependida de perguntar antes de terminar a frase — Não que eu não te quisesse aqui porque eu gostei de ver que você me considera um colo, mas é uma curiosidade...
- Tudo bem Clar — O. sorria — Eu entendi relaxa. Mas essa história é mais complicada — Ela se sentava na cama novamente.
- Temos uma noite toda, mas antes me deixa ir buscar umas barras de chocolate — Eu ia me levantando quando O. interrompeu.
- Sabe, eu conto com uma condição...
- Qual? — A olhei confusa.
- Se você me contar sobre a tal Lexa — Ela sorria.
A minha cabeça ficou confusa na hora, mas eu realmente nunca tinha conversado sobre mim e Lexa com ninguém. Eu jamais tinha ouvido uma opinião sobre o assunto, e eu sabia que Octávia jamais iria contar pra alguém, então, só por isso, eu concordei.
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My Reasons
RomansaClarke tinha 16 anos quando perdeu seu pai. Abby passou a dar mais atenção à sua filha ao invés de viver no hospital. Com a chegada do final do ano, Clarke descobriu que o selo no seu boletim escolar foi vermelho com letras garrafais escrito "REPROV...