Capítulo 15: A Verdade Dói

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Eu sei que jogar com a loira era realmente perigoso, mas eu gostava do perigo, e gostava ainda mais da forma como ela não cedia à mim. Ela brincava com as palavras e com os olhares, mas traçou um limite claro entre nós dois, e minha meta, era sem dúvidas, quebra-lo, só pra tirar aquela marra dela e mostrar que ninguém resiste a mim.
O flerte começou no intervalo, e eu tive a confirmação que, ela também queria aquele jogo.
Eu tava aproximando meu pé da perna dela quando vi uma garota morena se aproximar e perguntar se poderia sentar. De imediato recuei meu movimento e a encarei, quando vi Clarke se levantar e um beijo acontecer.
De início me senti confuso, mas aos poucos lembrei do que Clarke disse antes de beija-lá, "Lexa", então aquela era a melhor amiga, ou, pelo que vimos, algo a mais.
Depois de concluir quem era a morena, me levantei e sai dali antes mesmo do beijo delas quebrar, visivelmente irritado. Quem poderia entrar em um jogo de flertes e seduções quando se tem compromisso com outra pessoa? Independente de qual fosse a resposta só havia duas saídas: ou eu ia esquecer completamente a loira e aquela loucura, ou, esse jogo ia ficar mais perigoso do que jamais poderia ser.

* * * * * *

Depois que me desvencilhei de Lexa, engoli em seco sorrindo e vi que todos na nossa mesa nos olhavam. Octávia com aquela expressão de "O", e os outros tentavam disfarçar o espanto que ainda sim ficou nítido. Só então notei que Bellamy não estava mais ali.
- Eu falei que faria uma surpresa - Lexa sorria animada se sentando no lugar antes ocupado por Bellamy.
- Põe surpresa nisso - Raven tomou um gole do suco.
- Suponho que seja a Lexa né? - Octávia a encarava.
- Quando ia contar que era lésbica loira? - Murphy ria visivelmente empolgado.
- Quando ia contar que namorava? - Lincoln visivelmente parecia surpreso.
- É Clarke. Quando ia contar que namorava? - Bellamy falava mais irritado que surpreso - E da licença que é meu lugar novata - Ele encarava Lexa.
Octavia olhou de mim para Bellamy como quem tentava juntar as peças de um quebra-cabeça. Eu realmente não entendi aquela reação dele, então engoli em seco.
- Depois eu respondo as perguntas de vocês, agora Lexa, vamos lá fora conversar por favor - Eu a encarava seria.
- Tudo bem - Ela deu de ombros se levantando.
- E a propósito, eu não namoro - Falei enquanto passava por Bellamy.

Alguns minutos depois eu e Lexa chegamos a arquibancada. O caminho foi silencioso. A encarei assim que sentamos.
- Que recepção foi aquela? - Indaguei irritada.
- Eu achei que ficaria feliz...
- Eu ficaria feliz com sua chegada, não com aquela cena - Semicerrei os olhos.
- Me desculpa, é que nos nunca conversamos sobre... você sabe. Achei que não se incomodaria - Ela me olhava de forma triste, então conclui que estava sendo dura demais.
Respirei fundo e a abracei. Apoiei meu rosto em seu ombro e ela fez o mesmo. Meus olhos se fecharam e só por um segundo eu esqueci o que havia acontecido e me permiti matar aquela saudade.
Me afastei um pouco e a encarei, seus olhos ficavam ainda mais claros com o sol refletido neles, e seu sorriso para mim era ainda mais branco do que quando parti.
- Acho que precisamos conversar de verdade.
Ela assentiu de forma lenta e segurou minha mão.
- Antes eu quero saber... tem alguém? - Ela me olhava visivelmente preocupada.
- Claro que não Lexa! - A olhava - Por que pensou isso?
- Não sei... só me preocupei. Mas pode falar - Ela sorria.
- Eu senti muita falta sua. E muita culpa também...
Ela ia me interromper quando arqueei uma sobrancelha e ela riu. Lexa me conhecia tão bem que sabia que quando eu arqueava a sobrancelha era porque não queria interrupções, ninguém jamais me conheceu até esse ponto, além dela é claro.
- Me culpei por não te dar respostas, te deixar no escuro, e pra piorar tudo, te afastar. Quero que saiba que não te afastei porque você fez algo, mas sim, porque precisava ficar sozinha. Sempre que te via eu lembrava das viagens e momentos com ele - Sorri ao lembrar - E isso foi uma tortura. Mas foi injusto te culpar por algo que você não fez, e eu quero pedir perdão por isso - A encarei apertando os lábios.
- No começo isso me magoou muito, mas eu entendi com o passar do tempo que você necessitava de espaço, então o dei. Mas não pense, nem sequer, por um instante, que eu não senti sua falta todos os dias do ano passado Clarke - Ela olhava no fundo dos meus olhos. Um olhar que me tirava o fôlego e fazia meu coração bater forte no peito. Meu estômago estremecia e eu sentia uma vontade instantânea de beija-lá. Isso me fez lembrar porque eu realmente me afastei dela - Eu te amo, isso não mudou, e eu te perdoo, porque você precisava de espaço, eu não te culpo por isso.
Ela veio me abraçar mais uma vez, mas logo me esquivei.
- Não foi só por isso que me afastei Lexa - Eu decidi não mentir. Mentiras eram nojentas e só levavam a mais confusões - Isso vai me levar ao outro assunto que devemos conversar.
Seus olhos brilharam quando mencionei o outro assunto, e eu sabia que as coisas ficariam difíceis, então segurei sua mão, talvez na tentativa de não deixá-la correr depois de tudo que eu dissesse.
- Naquela noite, quando você me beijou - Respirei fundo - Eu não senti nada mudar. Nada dentro de mim. Não foi como se eu descobrisse o amor. Eu não senti nada Lexa.
Vi seus olhos encherem de lágrimas e me culpei por um segundo, mas continuei antes que a coragem se esvaísse.
- A única coisa que senti dali em diante foi um tipo de atração. Nas poucas vezes que te vi depois daquilo eu quis te beijar, e não nego que gostei de você me beijar agora. Mas é mais como um imã que me chama pra você. Nada além disso.
Vi uma lágrima escorrer pela sua bochecha e a sequei com a ponta dos meus dedos.
- Por favor não chora. Eu não suporto te ver assim, mas é que eu não podia mais mentir pra você ou me esquivar dessa conversa e da verdade.
- Chega - Ela me interrompeu - Não fala mais nada - Sua cabeça olhou em direção ao céu como quem segura as lágrimas - Eu preciso digerir isso. Seremos amigas, mas não grudadas, e na frente da sua mãe tudo será normal. Mas não tente forçar nada, porque agora, pra mim, não dá.
Ela se levantou, e segurar a mão dela foi inútil, porque ela se foi mesmo assim, falando por fim.
- Te espero na saída para irmos embora juntas.
Eu assenti com a cabeça vendo-na se afastar. Senti meus olhos se encherem mas não deixei que nenhuma lágrima caísse.
Encarei o campo e pensei se não havia sido dura, mas eu cativei aquilo, e só se pode cortar pela raiz, com a verdade.
Mordi meu lábio inferior e vi a última pessoa que esperava se sentar ao meu lado e me abraçar, sem nem sequer dizer nada. Sabia que não tínhamos intimidade para aquilo, mas eu o abracei de volta e fiquei ali por alguns minutos, sem conseguir segurar as lágrimas, e quando elas sessaram eu só fiz o agradecer.
- Obrigada por isso, não precisava Lincoln - Fiquei cabisbaixa.
- Claro que precisava. Agora vamos conversar!

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