Por incrível que pareça, entre Octávia sair de dentro da casa e seu coração parar de bater levou apenas 7 minutos. O que parecia uma vida não passou de 420 segundos.
Segundo os médicos as queimaduras eram muito graves, e ela respirou fumaça em excesso fazendo seus pulmões falharem, e consequentemente, ter uma parada cardíaca.
Bellamy havia tido queimaduras de terceiro grau, mas estava bem, pelo menos, fisicamente. Com a residência dos Blake destruída, ele acabará passando a noite em casa enquanto seus pais vinham para a cidade, e para o enterro de Octávia que seria no dia seguinte.
Segundo os bombeiros a casa havia explodido por conta de um vazamento de gás. Não restou nada, tudo se acabou em cinzas.Bellamy não havia dito mais que cinco palavras desde a morte da Octávia. Tentei dormir abraçada à ele, mas a verdade foi que nenhum de nós pregou o olho.
Assim que amanheceu, me levantei e tomei um banho. Eu não conseguia chorar, nem sorrir, ou sequer formar uma frase inteira. Minha melhor amiga estava morta. Meu namorado, sobreviveu, mas estava morto por dentro. Lincoln foi retirado de cima do corpo de Octávia quando seu coração parou de bater, e somente seu pai conseguiu levá-lo dali. Raven e Lexa estavam voltando para o enterro.
Fechei o chuveiro e respirei fundo. Vesti uma roupa preta, a mesma que fui ao velório do meu pai. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e fui até a cama. Bellamy cochilava, e seu rosto estava visivelmente inchado de tanto chorar.
Desci as escadas e encontrei minha mãe na cozinha, também com roupas pretas, ela fazia o café da manhã.
- Olá — ela sorria com ternura.
- Oi — me sentei em um dos bancos.
- Posso te abraçar? — ela se aproximava.
- Não — levantei de súbito me afastando — Se você me abraçar eu vou desmoronar, e eu não posso fazer isso porque eu prometi pra ela que cuidaria do Bellamy.
Minha mãe assentiu sem dizer nada. Alguns minutos depois de um longo silêncio ela colocou na minha frente algumas torradas e um copo de suco de laranja.
- Vou levar isso lá pra cima e acordar o Bellamy, ele não come nada desde ontem.
- Tudo bem, o pai do Lincoln passou aqui mais cedo e deixou um terno pro Bellamy.
Fitei o terno aberto no sofá.
- Como o Lincoln está?
- Segundo o Jaha ele não sai do quarto desde que chegou em casa. Ele ouviu algumas coisas sendo quebradas, mas acha que ele vai ao enterro. Aliás, a hora que vocês quiserem ir me avisem.
- Tudo bem, os pais do Bell concordaram em nos encontrar lá direto. Só vamos precisar ir mais cedo.
Ela assentiu e eu peguei as torradas, o suco e o terno e subi. Eu realmente não queria acorda-lo mas era necessário. Apoiei o terno na cama e a comida na mesa de cabeceira. Afaguei de leve seu cabelo e acariciei seu rosto, foi o suficiente para os seus olhos se abrirem.
- Olá — sorri lentamente.
- Oi — ele segurou minha mão apertando-a.
- Trouxe um suco e algumas torradas, você precisa comer.
- Eu não quero Clarke.
- Não me importo, você vai comer. Eu prometi que cuidaria de você.
Peguei o suco e as torradas e coloquei em seu colo.
- O Jaha trouxe um terno pra você.
Ele assentiu tomando um gole do suco. Caminhei até meu armário e alcancei uma blusa preta de alcinha.
- Isso deveria ficar com você.
Bellamy me encarou sem entender.
- Era dela, foi na última festa que fomos e ela dormiu aqui. Imagino que no estado em que a casa ficou você não teria mais nada dela, então agora tem.
Vi seus olhos se encherem de lágrimas. Ele envolveu a blusa nas mãos e a apertou como se aquele fosse o seu bem mais precioso.
- Vou tomar um banho.Havíamos acabado de chegar na capela, eu, minha mãe e Bellamy. Assim que entramos uma moça alta e loira veio abraçar Bellamy com Jason vindo logo atrás.
Me sentei com minha mãe em um dos bancos e deixamos que eles tivessem aquele momento.O velório havia começado. Echo, mãe de Bellamy estava sentada ao lado de Jason, que a abraçava constantemente. Ao seu lado estava Bell, eu, e Lincoln. Agora, eu segurava a mão dos dois, porque não poderia imaginar qual deles sofria mais. Murphy, Lexa e Raven estavam sentados no banco atrás de nós. De última hora decidimos por fazer algo especial para Octávia. Apostamos o quanto ela odiaria aquele chororo todo, então, teríamos cada um, dois minutos para falar algo sobre ela, e anexar uma foto com ela ao painel, assim, os Blake poderiam lembrar dela como ela era, feliz e incrível.
A primeira a se dirigir até a frente da capela foi Raven. Seus olhos estavam marejados mas ela se segurava. Todos estavam em silêncio aguardando suas palavras.
- Octávia Blake — ela deu uma risada leve — A garota que conseguia convencer todos nós a irmos em uma festa na terça à noite só porque ela tava entediada. A mulher que inventou de dar uma festa enorme pra escola toda só pra poder conquistar o cara que ela queria — todos rimos — A Octávia não era uma garota qualquer, ela era uma força da natureza. Ela era protetora, a Cheryl Blossom que o diga, confiante, obstinada, amiga e principalmente, ela era a paz de todos nós. Não havia tempo ruim com ela. O. conseguia transformar a pior das tempestades em um belo arco-íris não importava quantas portas ela teria que derrubar. Eu digo que foi uma honra conhecê-la, odiá-la e amá-la, tudo na mesma intensidade, porque ela conseguia fazer isso com a gente. E agora, provavelmente, deve tá tendo uma balada no céu ao som de thank u, next porque ela tá entediada — todos rimos de novo e Raven se virou para o caixão atrás dela — Obrigada por ter me dado a dádiva de poder conhecê-la.
Por fim Raven prendeu sua foto com O. no painel e foi se sentar com um coro de aplausos.
Logo depois, Murphy se levantou. John sempre parecia distante de todos, mas ele tinha algum tipo de conexão com Octávia que eu admirava. Bellamy apertou minha mão e sorriu de leve para mim, foi o primeiro sorriso que vi em seu rosto. Do meu outro lado Lincoln chorava com a foto dele e Octávia nas mãos. O abracei de imediato e ele apoiou a cabeça em meu ombro.
- Eu não sei fazer isso direito, e a Octávia deve tá morrendo de rir de mim onde quer que ela esteja agora — John fitou a foto em suas mãos e continuou — Se algum de vocês achava que Octávia era santa, esqueçam. Ela era uma maloqueira de marca maior, dançava, bebia, brigava e dava uns amassos doidos no Linlin — eu dei uma risada baixa por saber que Murphy estava sendo exatamente como ele era — A verdade é que, como Raven disse, a Octávia era uma força da natureza. Convencia a gente do impossível. Inventou que queria ser médica e morria de medo de agulha. Me zoou por um ano pela minha nota baixa na prova que ela só tirou nota alta porque colou. Mas além de ser a doida mais legal que eu já conheci, ela era pura — ele riu — Genuína, se ela gostasse ótimo, se não, você que corra. Ela era incrível, e foi uma das minhas melhores amigas no meu momento de dor. A verdade é que ela colocava todos acima dela, porque ela queria todo mundo bem. E ela foi ela mesma, até seu último momento, o que me deixa extremamente orgulhoso de ter conhecido ela. Eu sei que agora ela tá em paz, brava talvez por ter ido embora muito cedo, mas em paz.
John fitou o painel e colocou sua foto.
- É uma droga você não tá mais aqui pra mim ter minha revanche.
Eu sabia que Lexa não diria nada, afinal, elas mal tinham contato, então sobrará eu, Lincoln e Bellamy. Apertei a mão de ambos e me levantei.
- Se preparem — sussurrei para eles.
Olhei todos aqueles rostos, alguns inchados de chorar, outros desconhecidos para mim. Engoli em seco e sorri.
- A Octávia foi minha luz no final do túnel, e eu digo isso literalmente. Quando eu cheguei na cidade, eu não queria amigos, vínculos nem nada do tipo, mas ela sentou do meu lado, e, bom... fui eu que dei a cola da prova pra ela — dei de ombros e vi Jason e Echo rirem — Ela me deu amigos, histórias, e a luz que eu precisava pra sair do luto pelo meu pai. Porque a O. era isso. Luz. Ela era bondosa, apesar da casca dura, generosa e super protetora, principalmente com o irmão. E se vocês me perguntassem, conhecendo a Octávia como eu conheço... conhecia, ela teria entrado naquela casa de novo sem hesitar, porque era o irmão dela lá dentro. Eu aposto que ela não carregou arrependimentos, ou mágoas, e espero que ninguém leve dela também, de coração, espero que vocês lembrem dela como ela era, sorridente, feliz e até meio maluca. Eu sou grata por tê-la conhecido, tê-la a amado, e por ela ter me salvado.
Anexei minha foto no painel e voltei pro meu lugar.
Para minha surpresa, quem se levantou foi Lincoln. As lágrimas não paravam de rolar em seu rosto e ele apertava a foto em suas mãos, só então notei que ele carregava duas.
- Essa mulher, Octávia Blake, foi o amor da minha vida. E eu sei que muitos de vocês podem achar que é coisa de adolescente, mas não. Eu me apaixonei por ela bem antes dela saber quem eu era. Vi a energia singular dela naquela pista de dança e eu sabia que tava ferrado. Ferrado porque o Bellamy é bem bravo, e ferrado porque eu jamais iria conseguir esquecê-la... — Bellamy sorriu e eu vi as lágrimas rolarem por seu rosto — Graças a Clarke, muito tempo depois, a gente teve a chance de ficar junto, e eu me odeio por ter esperado tanto. Odeio o fato de ter acabado tão rápido. Nós não tivemos tempo o suficiente. A gente precisa de mais tempo...
Lincoln começou a chorar descontroladamente e Bellamy se levantou abraçando o melhor amigo. A dor deles podia ecoar pela capela. Senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Bellamy pegou as fotos da mão de Lincoln e as pregou no painel junto com a dele, que me fez chorar ainda mais.
Lincoln saiu da capela às pressas e me virei de súbito, vi John indo atrás dele então me voltei para Bellamy que secava os olhos.
- Eu não tenho o que dizer. Na verdade eu tenho. Eu tenho muito pra dizer. A família da Octávia era eu, que cuidei dela quando ela teve as piores fases da vida. Meu pai, que a abraçou e correu quando ela pediu por favor. O Lincoln que fez minha irmã sorrir como nunca antes. A Clarke que atendia todos os pedidos e sonhos malucos dela, até tava esperando um ano pra elas fazerem a faculdade juntas. A dona Abby que cuidava dela no trabalho e a apoiava. O John que apesar de tudo, sempre esteve lá por ela. A Raven que nunca desistiu dela. E até mesmo a Lexa, que estava conhecendo ela. Todos os outros que estão aqui, inclusive você mãe, vocês não eram a família dela. Você nunca veio ver a gente, quando ela te chamou pra conhecer o namorado, ou convidou pro almoço em família, você nunca veio. A única coisa que te trouxe aqui foi saber que a sua filha tava dentro de um caixão. Sinceramente, a minha irmã era incrível demais, por isso ela sobreviveu tendo somente uma progenitora no lugar da mãe. A minha irmã era uma garota foda, que não tinha medo de nada, nem de entrar em uma casa explodindo pra proteger quem ela amava. A Octávia era mesmo uma força da natureza, ela era a luz de cada um de nós, e agora vocês podem ter certeza que o mundo vai ficar bem mais escuro sem ela. Sem a risada estridente, as provocações e aquela voz de bebê ridícula que ela fazia com o Lincoln quando achava que ninguém tava vendo. A minha irmã foi a pessoa mais incrível que eu já conheci, e eu tenho muito orgulho de ter sido o irmão e a outra metade dela. Sorte de quem pode realmente conhecê-la e azar de quem perdeu esse tempo.
E assim Bellamy saiu da capela deixando todos em um silêncio ensurdecedor, sem pestanejar fui atrás dele. Lincoln, John, Bellamy e eu entramos no carro e fomos para onde a Octávia realmente gostaríamos que estivéssemos, na loja de milkshakes.
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My Reasons
RomanceClarke tinha 16 anos quando perdeu seu pai. Abby passou a dar mais atenção à sua filha ao invés de viver no hospital. Com a chegada do final do ano, Clarke descobriu que o selo no seu boletim escolar foi vermelho com letras garrafais escrito "REPROV...