Capítulo 29: Trevos Sem Sorte

938 72 55
                                    

Conhecer a Raven era tudo que eu sempre quis no último ano.
Saber como ela cheirava, como sua pele era, o gosto de seus lábios e o efeito que seu toque me causaria. Eu almejei isso por tanto tempo, que jamais cogitei a hipótese dela não estar totalmente certa sobre mim.
Eu pensava que quando chegasse seria nós dois, do começo ao fim. Mas as coisas mudaram.
Resolvi ficar a semana toda aqui, hoje é terça, só iria embora no domingo. Ontem ia vê-la, mas ela me mandou mensagem quando eu estava saindo do banho dizendo que precisava ver uma amiga, remarcamos para hoje, mas ela adiou dizendo que tinha coisas pra resolver.
Das duas uma, ou ela não encontrou em mim o que esperava, ou a ficada do sábado com a tal Lexa não foi só uma ficada.
Esse quarto de hotel barato era tedioso, então peguei meu notebook e resolvi saber quem era a Lexa. Até que consegui.

Eu tinha que admitir, a menina era linda

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu tinha que admitir, a menina era linda. Achar o Instagram dela só me abriu portas, encontrei seu Facebook e seu Twitter em seguida. Fiquei feliz de não ver nada relacionado a Raven em nenhuma rede social, pelo contrário, tudo era sobre uma loira, que pelo que vi se chamava Clarke. A Raven já tinha comentados da tal Clarke comigo mas nunca dei muita atenção.
Continuei stalkeando a morena por mais alguns minutos e já sabia onde ela estudava e que morava com a loirinha. Ambas as informações me deixaram tenso. Ela via a Raven constantemente no colégio e provavelmente saiam juntas já que o círculo de amigos era o mesmo.
Se Raven estava me deixando de lado pra dar mais atenção pra garota era bom eu começar a me preocupar, afinal, elas já eram da mesma escola, precisava de mais tempo juntas?!
Segui a menina pelo perfil de um amigo meu e ativei as notificações, qualquer coisa mais séria, eu saberia.
Nunca amei ninguém como amava a Raven. Ela sempre foi igual a mim, me entendeu, me acolheu nos piores momentos. Pertencíamos um ao outro, e ninguém mudaria isso.

* * * * * *

Assim que cheguei em casa do colégio tomei um banho, coloquei uma roupa fresquinha e comi algumas panquecas que minha mãe fizera pro almoço. Troquei algumas mensagens com o Finn sobre como tinha sido a aula, peguei minha bolsa, coloquei as chaves, dinheiro e o celular dentro e esperei o carro que chamei, que não demorou a chegar.
Assim que encostamos na praça eu pude ver Lexa, sentada no mesmo banco do dia anterior, comendo algo que eu não pude decifrar o que era de longe. Paguei o motorista e fui ao encontro dela.
- Açaí? Eu quero! - falei rindo ao meu sentar do lado dela e roubar uma colherada.
- Você é extremamente folgada - ela puxou o açaí tentando esconde-lo rindo.
Cruzei as pernas em cima do banco e apoiei minha bolsa ao meu lado.
- Vou ter que implorar pra você me contar seus mistérios senhorita Reyes? - ela me encarava com a colher na boca dando um leve sorriso.
- Até que seria legal, mas não precisa - falei rindo - Essas coisas, que eu vou contar, eu nunca contei pra ninguém.
- As minhas eu também não contei - ela deu de ombros.
- Se contar os meus segredos contarei os seus - falei rindo e respirei fundo.
Era difícil lembrar do passado e se manter sem chorar, mas eu não queria sofrer, afinal, passou. Fitei o chão, mordi o lábio e respirei fundo mais uma vez.
- Ano retrasado, eu conheci alguém. Sabe... a Clarke da minha vida - falei rindo pra quebrar o clima tenso.
Lexa deu uma risada mais seguiu em silêncio.
- A gente se gostava, chegamos até a namorar. Mas minha mãe não sabia que eu era bisexual. Na verdade, nem eu sabia. Já tinha ficado com algumas garotas, mas era mais pra fazer a linha descolada, não que eu gostasse. Até conhecer a Malia.
- Um belo nome - Lexa sorriu delicadamente.
- Malia Hale. Ela era linda, toda estressada, mas nos dávamos bem, éramos o complemento uma da outra.
Mordi fortemente a parte interior da minha bochecha sentindo minha boca sangrar, com a dor era mais fácil conter as lágrimas das lembranças.
- O que aconteceu pra acabar? - Lexa rompeu o estranho silêncio que se formara.
- Ela frequentava a minha casa como minha amiga. E eu frequentava a dela, mas ela morava sozinha, vi o pai dela uma vez, ele era estranho, mas não se importava - dei de ombros - Um dia, estávamos no meu quarto, e eu tava ensinando matemática pra ela, até que nos distraímos e caímos nos beijos, o clima tava bom sabe, até minha mãe abrir a porta do nada e ver a gente.
Senti meu coração se acelerar com a lembrança e apertei o banco com uma força tão grande que pude ver minhas juntas ficarem brancas.
- Ela fez um escândalo, disse que a Malia tava se aproveitando da minha amizade, expulsou ela de casa e mandou que nunca mais voltasse. Quando ela saiu eu contei tudo, que estávamos juntas e que eu a amava.
Meus olhos se encheram de lágrimas, dei uma risada pra disfarçar e segui. Queria acabar logo com aquela tortura da lembrança, era estranho, eu jamais relatei aquele dia em voz alta, até agora.
- Minha mãe deu risada, disse que eu estava louca, que aquilo não era amor. Falou que eu era uma verdadeira decepção, que jamais imaginou a filhinha linda dela beijando outras garotas, que era nojento, e que se eu decidisse seguir esse caminho eu seguiria longe dela, porque ela preferia acreditar que eu morri a acreditar que eu beijava outras garotas.
O peso saiu de mim, arrancado como quando se tira um curativo. Senti uma lágrima escorrer mas logo a sequei.
- Depois disso, no outro dia, antes de ir pro colégio, eu pedi desculpas, disse que não queria magoa-lá, esperei que ela fosse reconsiderar as palavras, mas a única coisa que ela disse era que esperava que eu tomasse a decisão certa.
- Isso é cruel, ninguém deveria ouvir isso. Sua mãe reconsiderou né?!
Ignorei a pergunta dela e segui com a história, era difícil demais começar, e agora eu só queria concluir logo.
- Fui pro colégio, encontrei a Malia e disse o que tinha acontecido. Ela sugeriu que nos afastássemos, até as coisas se acalmarem. Mas menos de um mês depois ela se mudou Deus sabe pra onde, trocou o número e nunca mais me deu notícias. Depois daquela conversa eu nunca mais soube nada sobre ela. A única coisa que sobrou foi essa foto dela que tirei uma semana antes de tudo acontecer, tínhamos chegado de uma festa. Eu guardei no fundo do backup pra minha mãe não achar.
Tirei o celular da bolsa e estendi pra Lexa com a foto no visor.

My ReasonsOnde histórias criam vida. Descubra agora