Acordei com uma forte dor de cabeça. Antes mesmo de abrir os olhos, tentei me recordar como cheguei em casa, e lembrei de Murphy me jogando em seu carro dizendo que minha mãe precisava de mim. Quando cheguei, a casa estava vazia e eu estava tão cansada que, vim para o meu quarto sem nem me perguntar o que havia acontecido.
Abri os olhos sentindo a claridade me incomodar profundamente, me levantei com muito esforço, vi no relógio que já era 10:00 a.m., peguei algumas roupas no armário e fui para o banheiro. Tomei um longo banho tentando acreditar que aquilo aliviaria minha dor de cabeça, sem sucesso. Deixei que a água caísse em uma enorme quantidade sob meus ombros enquanto me lembrava do que aconteceu.
Lexa havia passado o dia todo me ouvindo e contando histórias sobre ela, a conversa estava terrivelmente agradável, eu não queria sair dali. Ela era tão inteligente, altruísta e preocupada. Sem sombra de dúvidas, era alguém de se invejar e de se desejar. Eu já havia ficado com garotas antes na minha fase "rebelde", e por isso pude ver que hora ou outra, ela flertava comigo. No começo, eu neguei qualquer avanço, mas quanto mais cerveja eu bebia, mais receptiva a aqueles olhares eu ficava. Até que o assunto se esvaiu e encarei Lexa fitando meus lábios.
- Se eu pudesse te beijaria agora - Ela sussurrou sorrindo.
- Então o faça - Dei de ombros.
Mas diferente do que eu pensava, ela segurou minha mão e fomos para o andar de cima. Definitivamente não deveríamos ficar tão expostas, e eu agradecia hoje por isso. Quando entramos no banheiro eu soube que ninguém saberia daquilo, então, depois de muito tempo, fiz o que meu desejo pedia pela primeira vez, beijei Lexa sem me importar com nada.
Abri o chuveiro deixando a água passar de morna para gelada, queria afastar aquela lembrança, queria esquecer que por um mero minuto desejei aquela garota perdidamente. Eu não era mais assim. Os combinados com minha mãe haviam sido claros. Fechei o chuveiro e me envolvi na toalha.
Depois de fazer toda a minha higiene e passar uma base no rosto pra disfarçar minhas terríveis olheiras, desci, encontrando minha mãe na sala que visivelmente não estava feliz.
- Bom dia.
Falei baixo enquanto caminhava até a cozinha. Me servi um copo grande de café com algumas torradas e fui para a sala me sentando ao seu lado.
- Que horas você chegou ontem?
- Não faço ideia - Dei de ombros.
- Eu achei que aquela Raven rebelde tinha ficado pra trás - Ela desligou a TV me encarando.
- E ficou - Mordi minha torrada - Eu sai uma noite mãe, não é como se o mundo fosse acabar.
- Pra você vai - Ela sorriu irônica - Qual o nome daquele garoto que você falou ter interesse, de outra cidade?
- Finn. O que tem? - A encarei bebendo meu café.
- Ele veio ontem aqui.
- A senhora deve estar se confundindo. Ele não me disse nada - Dei de ombros.
- Ele não disse nada ou você não viu seu celular? - Ela me encarava com um sorriso de vitória, como se a vida já tivesse me castigado por escorregar por uma noite.
Larguei o café e o prato com torradas sobre a mesa e corri para o quarto. Peguei meu celular e vi que tinha quatro mensagens do Finn.Finn 👨🚀
Você poderia abrir a porta da sua casa?
Eu tenho uma surpresa pra você.
Raven?
???A última mensagem havia chegado às 2a.m. o que me dizia que eu cheguei bem tarde. Engoli em seco e liguei pra ele de imediato. Depois de três toques ouvi sua voz do outro lado da linha.
- Me desculpe por não responder, eu sai com as meninas, o que aconteceu?
- Tudo bem. Hora que eu te ligar você pode abrir a porta?
- Por que?
- Porque eu meio que vim buscar o amor da minha vida.
- Finn, você tá aqui? - Falei visivelmente animada.
- Acho que já era hora de um abraço.
Ele desligou antes que eu respondesse, abri um enorme sorriso e me troquei. Enquanto vestia minhas roupas senti um peso grande em meu coração, eu não era a mesma menina da noite anterior, a fiel Raven. Eu havia o traído, quebrado nossa promessa de esperar um ao outro sem terceiros envolvidos. E o pior de tudo isso, era que, eu não estava nem de longe arrependida.* * * * * *
Ainda era 8a.m. quando acordei, mole de sono. Meus lábios e minha garganta estavam totalmente secos. Encarei a cama ao lado e vi Octávia, passei os olhos pelo quarto mas não encontrei a Clarke. Meu coração se apertou levemente, então coloquei os chinelos e desci, esperando encontrar uma jarra d'água na cozinha e em seguida voltar pra cama.
Quando cheguei na metade das escadas, meu coração acelerou. Semicerrei os olhos e tirei os chinelos, não queria acordar quem dormia no sofá. Desci mais alguns degraus e me aproximei, mesmo com minha mente gritando como eu não deveria fazer aquilo, a cena que vi fez meu coração ser espremido como um limão.
Bellamy Blake estava deitado com o braço passado embaixo da nuca de Clarke, que o usava como travesseiro tranquilamente. Sua outra mão apertava a cintura dela contra seu corpo, e o que mais me doeu naquela cena, foi ver a mão de Clarke apoiada sobre a dele, e seus dedos entrelaçados. Eles dormiam tão tranquilamente, o sono de ambos parecia leve.
Meu coração não batia, martelava, com uma força surreal. Me afastei, temendo acorda-los. Fui até a cozinha, bebi um grande copo d'água e subi novamente para o quarto. Quando deitei, uma pilha de questionamentos começou a passar pela minha cabeça. Ela dormirá com ele por que queria ou havia outro motivo? Eles estavam naquela posição por que realmente queriam ou foi involuntário? Ela sentia algo por ele? Ele sentia algo por ela?
Chacoalhei a cabeça afastando aqueles pensamentos e tentei dormir, mas o embrulho no meu estômago crescia. Senti uma lágrima quente escorrer pela minha bochecha e a sequei, eu odiava como o ciúme e a raiva me invadiam involuntariamente. Mantive meus pensamentos em busca de novas lembranças e, a imagem da noite anterior veio a minha mente.
Clarke já havia traçado o limite "nada de amigos", e eu o atravessei sem pensar duas vezes. Não por ela, mas porque eu quis. O que me fez ficar ainda mais assustada. Depois de tanto tempo querendo só a Clarke, pensando só na Clarke, vivendo só por ela, eu realmente quis outra pessoa, mesmo que por um segundo, eu desejei aquela morena, e enquanto eu estava com ela, eu nem sequer me lembrei da Griffin. Como seria uma vida sem desejar a Clarke? Eu não sabia, afinal, nunca pensei que pudesse existir essa vida para mim, mas agora, isso era incerto.* * * * * *
Senti as mãos de Bellamy brincando com meus cabelos, eu iria xinga-lo mas estava tão cansada que mantive meus olhos fechados me aproveitando do cafuné. Alguns segundos depois senti ele tentando se desvencilhar e abri meus olhos.
- Que horas são? - Murmurei preguiçosa.
- 11 horas loirinha - Ele sorria se sentando no sofá.
Me sentei ao lado dele e fiquei encarando o nada por longos minutos.
- Preciso comer algo - Falei me levantando e indo até a cozinha. Fui surpreendida por uma Octávia bebendo café e comendo algo parecido com iogurte.
- Bom dia - Ela sorria - Espero que não se importe por eu ter invadido a geladeira.
- De forma alguma - Dei de ombros me servindo.
Bellamy pegou café na jarra e sentou ao meu lado.
- Lexa não vai acordar? - Octávia me olhava.
- Não sei, não é da minha conta - Dei de ombros.
- Dormiu com esse aí e afiou a ferradura pelo visto.
Lexa falou enquanto entrava na cozinha. Encarei Bellamy que deu um sorriso discreto e Octávia que arqueou as sobrancelhas.
- Bellamy até que é quente - Dei de ombros.
- Será que derreteu seu gelo? - Lexa me encarava seria.
- Acho que é melhor a gente ir - Octávia falou se levantando.
Bellamy seguiu os passos da irmã.
- Me manda mensagem quando chegar?
- Claro - Octavia me deu um beijo no rosto, pegou sua bolsa e saiu com Bellamy que não se incomodou em devolver minha xícara e foi bebendo o café.
Quando fechei a porta vi Lexa encostada no batente da porta me encarando enquanto bebia seu café.
- Por que dormiu com ele?
- Por que ficou com a Raven?
Lexa empalideceu, pude ver sua mão tremer levemente. Ela deu alguns passos se aproximando e antes que ela pudesse se explicar falei.
- Eu dormi com o Bellamy pra não ter que dormir perto de você. Acredite ou não, sinto bem mais afeto por ele que por você.
Lexa deu uma risada irônica me encarando e deu um gole em seu café.
- Você não tem afeto pelo Bellamy que sabemos.
- Exato, agora você sabe que sinto muito mais por ele do que por você, e menos que nada é equivalente a ódio.
Pisquei pra ela e subi as escadas.
- CLARKE A GENTE PRECISA CONVERSAR.
Entrei no quarto correndo e tranquei a porta. Lexa começou a bater fortemente e me sentei no chão deixando que algumas lágrimas caíssem. Eu não a odiava, era o oposto disso, mas ela me desrespeitou, desrespeitou o meu lar. Eu sabia que aquilo machucaria a nós duas, mas eu não queria mais, não queria ter nenhum tipo de relação amorosa com ela.
- Eu vou derrubar essa porta Clarke - Ela falava furiosa do outro lado.
Um momento de silêncio pairou até que eu ouvi um estrondo tão grande que realmente achei que a porta viria abaixo. O barulho de vidro se espalhando me deu a confirmação que queria, ela atirará a xícara contra a porta. Me encolhi e respirei fundo, as crises de Lexa me aterrorizavam, mas não seria uma garotinha com medo.
- Espero que limpe sua bagunça antes que minha mãe chegue!
Coloquei meus fones no último volume, me deitei na cama e fechei os olhos. Meu celular vibrou, e então encontrei uma mensagem de quem não esperava.Bellamy Blake
Tá tudo bem loirinha?Estaria melhor se eu não
estivesse nessa casa!Que tal um milk shake
no Grill então?Desde quando somos
amigos?Desde que eu sou "quente"
Te pego em dez minutos.
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My Reasons
RomanceClarke tinha 16 anos quando perdeu seu pai. Abby passou a dar mais atenção à sua filha ao invés de viver no hospital. Com a chegada do final do ano, Clarke descobriu que o selo no seu boletim escolar foi vermelho com letras garrafais escrito "REPROV...