Capítulo 2

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Eu estava além da exaustão. Havia uma semana inteira em que eu mal havia conseguido fechar os olhos, consumida pela preocupação constante com o desfile iminente em Milão. Os dias se aproximavam rapidamente, e minha ansiedade me mantinha acordada durante as noites. Se não fosse pela habilidade da minha maquiagem em camuflar as olheiras, elas estariam estampadas em meu rosto.

Dessa vez, porém, eu havia acertado em cheio na contratação. Anabelle já fazia parte da equipe há duas semanas e sua dedicação ultrapassava qualquer expectativa. Seu esforço era notável, sua entrega era surpreendente. Ela estava se mostrando uma peça valiosa, contribuindo além do que eu poderia imaginar. No entanto, apesar de sua importância crescente na minha rotina profissional, eu sabia muito pouco sobre ela pessoalmente.
A curiosidade me instigava, mas eu não podia permitir que isso se tornasse uma distração agora. Havia tantos detalhes a serem ajustados, antes do grande evento. No entanto, mesmo que eu tentasse ignorar, um sussurro incessante no meu subconsciente me alertava para a necessidade de dar uma atenção especial a ela. Uma atenção que eu conhecia muito bem.

Já se passava das nove horas da noite, e eu estava assinando contratos de algumas modelos que eu havia contratado para o desfile, eu estava exausta e faminta. Desliguei o computador,  e relaxei na cadeira jogando minha cabeça para trás e respirando fundo 

—Senhora, Hamilton —a voz de Ana soou doce misturada com o som da porta se abrindo.

—Oi, Anabelle. Pode entrar.  — disse calmamente ajeitando-me na cadeira.

  — Eu já fiz a contabilidade do dia, e enviei os e-mails que a senhora havia me pedido, inclusive adiantei algumas papeladas do contrato com o seu sócio de Milão  que irá organizar os desfiles. 

—Nossa! Incrível! —exclamei com entusiasmo genuíno. — Você, Anabelle, foi a melhor contratação que já fiz nessa empresa.

Deixei meu corpo se erguer da cadeira e, com passos lentos e calculados, circulei minha mesa, observando-a com admiração. Apoiei-me na superfície sólida, cruzando os braços e permitindo que meus olhos vagassem por sua figura.

  — A senhora pode me chamar de Ana—  ela disse, enquanto colocava uma mexa de seu cabelo ondulado  atrás de sua orelha.

  — E a Ana pode me chamar de Natalie. — brinquei

  — Me desculpe, mas é porque você é minha chefe—disse ela sorrindo—eu preciso manter um certo respeito 

— Eu entendo, mas eu prefiro ser chamada de Senhora em outra ocasião. —  mordi os lábios em um movimento involuntário, porém perceptivo, mas eu sabia que Anabelle era boba demais para ver maldade em minha fala ou em meu gesto. Ela apenas me fitou com um olhar que realmente não tinha entendido a frase.

—Você esta com fome? —continuei — eu estou saindo para jantar, se quiser... 

  — Eu agradeço, mas um amigo meu vem me buscar hoje, eu combinei em ajuda-lo em uma coisa. 

— Tudo bem—rodeei minha mesa novamente e me sentei— então, você já pode ir. 

  — Boa noite, Natalie

— Até logo, Ana.. 

Eu percebi que Anabelle não era o que eu estava buscando. Ela era muito reservada, o que me deixava inquieta. No entanto, meu desejo inconsciente ansiava por desvendar seus segredos e despir sua aparência séria e formal.

Respirei fundo, peguei meu celular e verifiquei as inúmeras mensagens que havia recebido. Eu precisava ir para casa, tomar um longo banho de banheira com sais L'Occitane. Desliguei as luzes da minha sala e, ao sair, notei que a mesa de Anabelle estava vazia, sem sua presença.

Enquanto eu seguia pelo corredor em direção ao elevador, desviando minha atenção para as inúmeras mensagens piscando no celular, algo inesperado chamou minha atenção. Ali, no final do corredor, estava Ana, acompanhada por Jared e Steven, ambos integrantes do departamento de Recursos Humanos. Apesar da proximidade aparente entre eles, algo me dizia que Ana não estava completamente à vontade com os toques sutis de Steven em seu braço. Eu os conhecia muito bem, ouvi rumores sobre eles em relação a algumas funcionárias.

— Parem, por favor!

Escutei Anabelle falar visivelmente incomodada com o toque de Steven em seu ombro, e os risos do amigo.

Caminhei um pouco mais rápido, mas sem que meus saltos  fizessem tanto barulho, e ao me aproximar fingi mexer em minha bolsa, e vi quando seus olhos se arregalaram com a minha presença.

   — Por que não me esperou?  — disse dando um sorriso de canto e me perdendo na imensidão verde dos olhos de Ana. 

— Me desculpe — respondeu desconfiada mais entendendo que eu estava ali ajuda-la a sair daquela situação — eu pensei que você ainda ficaria até tarde.

Virei-me para os dois que estavam com os semblantes duvidosos  nos olhando.

   — Algum problema, rapazes? Por um acaso, vocês não estavam a importunando, ou estavam?- disse com um tom ríspido.  

O elevador havia chegado. 

   — Não, senhora Hamilton   — falou Jared tropeçando em suas palavras e coçando a nuca.  

   — Vamos esperar o próximo. — disfarçou Steven.

   — Ótimo.  Por que se estiverem a importunando ou qualquer mulher dessa empresa eu acabo com a carreira dos dois com um estalar de dedos.

Ambos se olharam e suponho que engoliram a saliva a seco , conduzi Ana até o elevador, e apertei o térreo, ela me olhava com um sorriso cerrado em seus lábios. 

— Obrigada, Senhora Hamilton. 

— Eu juro que  na próxima eu não vou salvar você, se continuar a me chamar de Senhora —brinquei. 

 — É que você me intimida— Ana falou com um olhar sem jeito, desviando seus olhos do meu.

— Então, eu intimido você? 

Fico feliz por afeta-la desse jeito. Sutilmente, coloquei um fio loiro que caía em seu rosto, delicadamente o puxei para trás de sua orelha. Novamente, nossos olhares se encontraram, criando uma conexão intensa e indescritível.

O som do elevador se fez presente, interrompendo o momento. Rapidamente, me afastei, ciente de que a situação estava se tornando mais complexa do que eu imaginava. Logo, meus olhos foram atraídos para um jovem de aparência pálida, com os cabelos meticulosamente penteados em um elegante topete. Seu jeito afeminado chamava a atenção, mas foi o largo sorriso que ele dirigiu a Ana ao vê-la sair que realmente me intrigou.

'' Odeio interrupções " disse internamente.

  — Eu pensei que você tinha ficado presa lá em cima— disse ele a abraçando.

Decidi não ficar e presenciar a recepção calorosa entre Ana e o misterioso rapaz. Segui em direção à saída, onde Paul, meu leal motorista e guarda-costas, já me aguardava para me levar para casa. Enquanto ele dirigia pelas ruas movimentadas da cidade, mergulhei em pensamentos profundos e me deparei mais uma vez com a dolorosa sensação de solidão. 

Descobrindo o Prazer (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora