| Capítulo 22|

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Beatrice e Alfred se jogaram do gira-gira carrossel que, apesar de enferrujado, ainda rodava muito. Os dois riam alto, e o Wilson começou a tirar algumas folhas dos cabelos dela. A terra estava molhada, com poucos resquícios da neve.

A menina tentou disfarçar uma expressão de dor, que, não passando despercebida por Alfred, fez com que ele se levantasse rapidamente.

- Você se machucou?

- Não, foi divertido, como todas as outras trinta vezes.- Ela riu mais uma vez, se sentando. Olhou para os outros brinquedos abandonados do parquinho, e então se levantou, sentando no balanço. - Mas não estou me sentindo bem. É melhor pararmos antes que eu coloque todo o jantar pra fora.

O outro assentiu, apoiando um pé no outro balanço. A fogueira iluminava o rosto preocupado dele.

- Continua sentindo essas dores no estômago, não é, Bea?- Ele colocou o outro pé no brinquedo, balançando de forma errada e perigosa.- Não existem outras opções. Você precisa dizer logo ao seu pai que está doente.

- Não estou doente.- Ela mostrou a língua. - É um mal-estar temporário. E, a propósito, a senhora Wayne já me conseguiu alguns frascos de remédio, já que o natural não funcionou.- Ela suspirou cansada.- Vou melhorar, Alfie.

- Você tem dois dias e, se não melhorar, eu mesmo te levo ao médico. - Ameaçou.

Bea levou uma das mãos à cabeça, dramatizando.

- Pretende retirar essa princesa da torre? Isso nunca, jamais, aconteceria!

Ele riu da encenação.

- Roman disse que você não é proibida de sair de Dooferhill.

- Não, não sou. Mas da última vez que saí, eu tentei fugir. Lucien e eu discutimos. Ele não contou pro Roman, me privando de um castigo ou sei lá, mas temos um acordo de que ele não me leva mais pros lugares. E, bem, sem o Lucien, não tenho como sair.

- Nunca pediu para ir à cidade com Roman?

- Não, nem pensar. Isso me arrepia. - Ela balançou a cabeça negativamente.- Não consigo ao menos ficar no mesmo cômodo com ele, pensar em entrar num veículo e me distanciar dessa zona de conforto ainda é...difícil.

Alfred franziu o cenho. Não entendia a relação de pai e filha que os Atwell tinha.

- Maeve está demorando, não é?- Ele perguntou, mudando de assunto. Beatrice encarou as três barracas vazias, o lixo em volta da fogueira.

- Claro que está, essa noite ela ficou responsável por arrumar o "acampamento" dos escoteiros. Vai demorar muito. É uma sem vergonha.- Os dois riram.

- Sem vergonha é o Lucien, que nos abandonou na primeira noite. Não sobreviveria uma semana na mata.- Complementou o outro.

- Sim!- Eles riram mais uma vez.

Beatrice se lembrou da ideia aleatória que ocorreu na sexta. Por que não montar acampamento perto do lago, ao lado do parquinho? Eles não tinham nada para fazer, seria uma diversão.

De início, Roman ficou receoso de deixá-los dormir ao relento, longe da proteção de Dooferhill. Mas, como magicamente -ou após muita insistência- Lucien concordou em estar lá, o anfitrião se sentiu mais tranquilo.

Aquela era a terceira noite que dormiam ali. Durante o dia, eles se divertiam e restauravam tanto a roseira quanto a piscina. Enquanto a noite, cantavam e dançavam em volta da fogueira, além das histórias de terror.

- E então, o que vamos fazer agora?- Perguntou Beatrice, os pés batendo ansiosos no chão, enquanto olhava para o céu estrelado. Detestava o silêncio, porque além de uma situação constrangedora, isso permitia que ela pensasse em sua vida, e estava evitando bastante isso.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora