|Capítulo 32|

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Para Beatrice, era um pouco difícil ignorar Lucien. O sujeito tinha muitas piadas para contar no caminho da viagem e todo um álbum da Madonna, o qual amava repetir as músicas favoritas umas três ou quatro vezes. Aos poucos, Bea foi se esquecendo do peso da carta que carregava no bolso esquerdo da calça. Virou-se para a paisagem, na tentativa de tentar identificar em que lugar se encontrava naquele momento. Dessa vez, ela não fora transportada para fora de Dooferhill em um carro escuro e estranho. Pela primeira vez, se permitiu ter esperanças de que as coisas mudavam aos poucos quando sentiu a brisa doce desalinhar seus fios castanhos. Sentia falta disso.

Depois, olhou para Lucien de canto de olho, em segredo. Via brilho nos olhos do homem, sem entender por quais motivos ele estava tão ansioso para a viagem. Era como se, depois disso, Lucien finalmente pudesse tirar um grande peso das costas.

Ele sorriu e começou, sem desviar o olhar da estrada:

- Está feliz?- Perguntou.

Bea assentiu, tirando os cabelos do rosto e uns fios da boca.

- Sim, muito.- Respondeu, virando-se novamente para a paisagem.

Assim que as músicas de Madonna acabaram, Beatrice sentiu como se os olhos pesassem uma tonelada. Foi adormecendo no banco do carona sem ao menos perceber, deixando Lucien e seus assobios de diferentes pássaros, sozinho.

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Bea mal acordou e sentiu o estômago roncar alto.

A primeira coisa que conseguiu dizer a Lucien era que estava com fome.

- Agora que percebeu?- Ironizou ele.- Seu estômago está gritando há horas. Mas, é claro, o que podíamos esperar da menina que não tomou o café da manhã?

Beatrice engoliu em seco, como se descobrisse que, por mais que se passasse por bobo, Lucien nunca era enganado. Assim como Roman.

Alcançou a garrafa de água.

- Não tive tempo. - Se desculpou.

Ele assentiu.

- Vamos comer alguma coisa aqui, passar o resto do dia e depois pegar o avião.- Disse o homem.- Seja bem vinda ao quase melhor estado americano, Little Beetle.

Beatrice se inclinou para olhar algumas placas. Em destaque as palavras "Nova Jersey" surgiram.

Ela inconscientemente abriu um grande sorriso. Lembrou-se da casa em que costumava passar as férias com a família em Princeton, dos desfiles que Judith fazia em Newark, e que Arthur dera seu primeiro beijo -horrível, segundo ele - em Rosedale. Observando agora, de fora, Bea percebeu o quanto já havia viajado pelos Estados Unidos com Peter, e ainda sim nunca soubera de Roman Atwell.

Lucien escolheu Jersey City para a hospedagem, já que afirmara que era bem melhor do que Trenton.

No almoço, a menina comeu alimentos quais remetiam às suas férias na infância: Sopa de milho, Pierogis, Bizcochitos e como sobremesa Raspberry Cream Tart. Sentia-se realizada, principalmente por não ter Judith ali regrando cada parte de sua comida.

Pelo resto do dia, eles visitaram alguns pontos turísticos na cidade. Dessa vez, compartilhando as histórias pessoais um do outro. Bea quase não acreditou quando descobriu que o próprio pai já havia caído em uma fonte repleta de patos-reais enquanto bêbado. Lucien se surpreendeu quando ela contou que Arthur aprendera a jogar futebol em uma das praças de Jersey City, muito novinho, com três moradores de rua e uma bola de meias. Depois disso, ele nunca mais largou o futebol.

Os dois tiraram muitas fotos juntos, compraram roupas até não terem mais como carregar sacolas, e, no fim do dia, jantaram em um restaurante em que fingiram ser noivos para ganhar uma sobremesa.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora