|Capítulo 46|

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Quando Roman se virou para deixá-la, Beatrice sentiu seu mundo ruir. Sentou no chão e se encostou no sofá, sem esperanças e sem alternativa. Não conseguiria impedi-lo de ir mesmo se tentasse. Ela o veria ir embora, impotente, falhando com a única coisa que deveria ser: Uma boa e presente filha.

O pior de tudo era que Bea entendia o porquê. Sabia que era para o seu próprio bem, mas não gostava do seu próprio bem quando, para isso, tinha que abrir mão de alguém.

"Eu também te amo" sussurrou a garota, sem ter a certeza de que ele escutara. Roman abriu a porta da frente e saiu, fazendo com que Maeve se despertasse da tristeza profunda e corresse até a porta, tentando alcançá-lo.

Beatrice encarou a casa vazia.

Como as pessoas faziam para seguir a vida em frente quando perdia quase tudo que importava? Quando nada tinha solução? Quando as coisas se tornavam insuportáveis de carregar?

Sentiu o bebê mexer. Um recado de que ele ainda estava ali, e ela teria de estar ali por ele. Não queria que sua agonia contagiasse seu filho, mas não conseguia evitar. Beatrice sentia que, assim como Roman dissera, uma parte grande de si fora embora, deixando-a vazia e incompleta.

Minutos depois, escutou gritos do lado de fora. Não gritos desesperados de agressão, e sim de briga. Ela espiou pela janela.

Maeve discutia com Roman, segurando o braço do homem antes que entrasse no carro. Ela falava alto e chorava, e ele apenas a observava com aquele olhar pesaroso.

"Eu não vou ficar, Roman!"

Ele dizia algo tão baixo que, da casa, Bea não escutava.

"Eu não ligo! Eu vou com você, para onde quer que for! " Mais algumas falas do outro, e ela prosseguiu com os gritos. " Diferente de Beatrice, eu não tenho ninguém no mundo para me buscar. Vou com você porque é tudo que tenho e amo. E sei que você é um cabeça dura! E precisa de mim sim!"

Roman continuava a discursar calmamente, mesmo que cansado. Maeve esmurrou o capô do carro.

" Eu não ligo se quer me proteger! Quero estar contigo! Eu te amo, Roman! Eu te amo!"

O Atwell entrou no carro e ela entrou na frente no mesmo momento. Bea sabia que ele não a atropelaria, e, pela primeira vez, o ouviu gritar: "Saia daí Maeve!"

"Não!" Ela gritou de volta.

Alguns segundos se passaram, e agora os dois conversavam baixo, ainda que um no volante e outro na frente do carro, e Beatrice não conseguia ouvir.

Se sentou novamente no chão e ficou olhando para a lareira, tendo o único barulho que se ouvia o crepitar das chamas e as ondas quebrando nas rochas, ao longe.

Observou os detalhes da casa que tanto gostava: O tom de cimento queimado das paredes, as escadas brancas, as prateleiras com algumas estatuetas e troféus e os poucos quadros na parede, com uma única foto de Roman e Lucien sobre a estante.

A Atwell cogitou voltar para o jardim. Talvez, quem sabe, quando estivesse sozinha, Lucien aparecia? Em carne e osso ou não?

Ela não tinha medo da morte. A morte não a assombrava. E mesmo que pessoas reais e vivas tivessem a ameaçado por ser filha de Roman, ela não tinha medo. Talvez, porque por alguns instantes na vida, já tivesse sentido como era morrer sem ser tocada por ninguém. Internamente, Beatrice já tinha se matado de tantas e tantas formas que nada mais importava. Agora, o que importava era seu filho, e, apenas por isso, sabia que não poderia morrer.

Se levantou e trancou as portas dos fundos. Escutou o carro de Roman partir e, ao observar novamente pela janela, viu que Maeve não estava lá. Ela o convenceu, afinal. Assim, Bea trancou as portas da frente.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora