|Capítulo 31|

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Bea tentou parecer invisível. Segurava o livro contra o peito tão apertado que as pontas dos dedos ficaram brancas. Sentia que não podia respirar, já que, caso o fizesse, faria com que Roman percebesse que o estava observando.

Sabia que era ruim observar alguém que quer privacidade, mas, Roman manteve a porta entreaberta e seria um grande desperdício se ela não desse uma espiadinha rápida. Que bom que fez isso. Roman era ótimo quando se tratava de habilidades ocultas. Anteriormente, ela havia descoberto o quão bom ele era com o piano. Agora, contra a luz da janela, o pai pintava uma tela com aquarela. Por conta do ângulo, ela não conseguia ver bem o que ele fazia na tela, e a curiosidade a matava. Infelizmente, caso se movesse, seria horrível ter que dar explicações do porquê de estar ali.

Inclinou a cabeça para o lado tentando entender a mistura de vermelho e vinho escuro. Sentiu o coração sair do peito quando uma mão tapou sua boca e a arrastou para longe da porta. Lucien a encostou levemente na parede e sorriu.

Beatrice recuperou o fôlego.

- Você...- ele a interrompeu com um "shhhh", colocou o indicador em sua boca e olhou para trás, para a porta do quarto de Roman. A menina diminuiu o tom de voz a um sussurro.- Me assustou.

- Desculpe-me. - Disse o homem, também sussurrando. Eles começaram a caminhar juntos até o próximo corredor, onde Lucien voltou a falar em tom normal.- Eu te salvei. Sabe como seria complicado explicar pra ele o que você fazia ali?

Ela deu de ombros.

- Eu daria um jeito. Por que ele esconde essas coisas que faz?

- Roman simplesmente não gosta de ser público. Em nenhum caso. Ele aproveita com mais intensidade as coisas que faz sozinho.- Explicou.

- Entendi porque moramos no meio do nada. Obrigada.- Pensou um pouco.- Quando é que ele vai terminar?

- Eu não sei.- Respondeu.- Nunca saberemos, na verdade.

- Como assim?

- Não sei o que Roman faz com os quadros. Ele pinta há anos. Nunca me mostrou. Nunca expôs. Eu só o vejo pintando às escondidas.

Mais uma vez, Bea olhou para trás, certificando-se de que ninguém os via.

- Como assim? Por quê?

- Talvez fiquem feios.- Lucien zombou.

- Só poderemos dizer se descobrirmos. Como vamos pegar esse quadro? Qual é o plano?- Perguntou.

Ele riu com desdém.

- Não tem plano, Little Beetle. Não vamos nos intrometer, ok? E não faça mais isso. Quanto mais Roman se sente pressionado por uma coisa, mais rapidamente ele se livra dela, o que é pior. Se perceber que nós colocamos expectativas sob suas pinturas, ele parará de pintar.- Disse.

Ela assentiu.

- Se perceber que sinto falta de casa, me manterá presa aqui.- Pensou alto.

Lucien parecia desconfortável.

- Vi que terminou o primeiro livro de Sherlock.- Ele batucou os dedos na capa do segundo livro, nas mãos dela.

- Sim, é muito bom.

Os olhos de Lucien brilharam.

- Boa menina, sabia que tinha bom senso.

Eles riram, descendo as escadas juntos.

- Ah, e aliás...Não que eu goste de cobrar...Você me deve um presente de aniversário.- Brincou.

- Está mais perto do que você imagina, querida. Logo terá seu presente.- Sussurrou, e do jeito que o fez, não pareceu brincar.- Esta noite falaremos sobre isso. Não durma antes que eu passe no seu quarto, ok?

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora