|Capítulo 47|

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Na varanda, Beatrice abraçou Alfred por longos segundos. Repetia o quanto não esperava a visita dele, e como era bom reencontrá-lo, uma vez que não acreditava que o veria de novo tão cedo.

- Eu vou tomar um banho.- Joe interferiu os afetos, da soleira da porta.- Qualquer coisa, Beatrice, grite. Declan está na sala.

A garota riu, piscando pro noivo.

Alfred só parou de ficar vermelho quando viu o cowboy subir as escadas.

- Então...grávida?- Ele assobiou.- Você é boa em esconder algumas coisas.

Ela riu, se sentando na escadinha, e ele a acompanhou.

- Não estou escondendo. Só não me senti confortável para postar ainda...para tantas pessoas...saberem.

Ele a avaliou mais um pouco.

- Qual é a sensação?

- Estranha.- A garota cruzou os braços.- Tem dias que eu simplesmente choro por não entender como deixei isso acontecer. Choro com a ideia e responsabilidade de formar um ser humano dentro de mim, colocá-lo no mundo e educá-lo, ser responsável por alguém até os vinte e um. Tipo... nem eu tenho vinte e um!- Os dois riram.- Mas...tem dias que a sensação de tê-lo comigo é tão confortável, que não quero que saia daqui, nunca. Não quero me sentir sozinha. Não quero ter que nos separar, porque sinto que não vou aguentar. Vou ser uma mãe muito pegajosa, acredite.

- É um menino ou uma menina?

- Ainda não sabemos.- Garantiu.- O chá de revelação estava marcado para algumas semanas atrás, em Dooferhill. Mas...algumas coisas aconteceram, então, nós adiamos.

Subitamente, o clima ficou pesado. Alfred Wilson olhou para frente, reparando pela primeira vez o rio, e então limpou a garganta.

- Meus pêsames por essas..."coisas."- Declarou ele.

Bea baixou a cabeça.

- Meus pêsames também. Você o conhecia há mais tempo do que eu. Eram cúmplices, pelo que me lembro.- Tentou sorrir.

Ele fez o mesmo.

- Mas ele te amava. Essa era a diferença.- Alfred a olhou.- Me desculpe, não deve ser fácil para você voltar nesse assunto. Mas não posso negar que estou aqui por ele.

- Tudo bem.- A garota balançou a cabeça.- Eu já me acostumei com o fato de falar de Lucien no passado. Temos que nos acostumar, de uma forma ou outra, não é?

Mais silêncio.

- Procuro por Roman.- Confessou o rapaz.

- Então somos dois.

- Ele não mantém contato?

- Raramente, através de Maeve. Não faço ideia de onde ou como ele está. - Ela suspirou, cansada. O Wilson tinha um olhar pesaroso.- Ele está fugindo. Fugindo de mim, do meu amor, daquela casa e das próprias lembranças... Agora...me diga, Alfred. O que vocês ganham quando fogem? Existe algum tipo de alívio? Porque...eu devo estar fazendo algo de errado. Não consigo compreender esse lado.

Ele respirou fundo, antes de começar.

- A fuga é uma ilusão, Beatrice. Uma falsa ideia de liberdade qual, todos sabem, te devolve para onde você não quer voltar. Quando as coisas apertam e você foge, pensa inicialmente que seus pensamentos também ficarão para trás...que tudo que te assombra ficará para trás...mentiras que conta para si mesmo. Tudo te perturba mais do que o normal, e sequer um segundo da fuga consegue aliviar o que você sente.- Ele a olhou.- Naquela noite que saí de Dooferhill, pensei que com alguns drinques e um passaporte carimbado eu esqueceria a morte do meu pai. Não consegui. Voltei para casa três ou quatro vezes depois daquilo, e nunca se tornou mais fácil. - Alfred guardou as mãos no bolso.- Roman acha que deixará a tristeza da morte de Lucien para trás, mas ela o acompanha, onde quer que esteja. Eu só tenho medo do que ele faça enquanto evita sentir tudo isso. Estou muito preocupado com meu padrinho.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora