Capítulo 1 - Percepção

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Carlie

Meu nome atual é Carlie Marie, mas me chamam apenas de Carlie. É claro que esse não é meu nome verdadeiro. É como um pseudônimo que, de tempos em tempos, preciso mudar para garantir minha situação legal e meu patrimônio.

Vivo em São Paulo, cidade metropolitana que me fascina, em um apartamento amplo e confortável, luxuosamente decorado, que combina perfeitamente com meu estilo de vida. Fica próximo ao parque Ibirapuera, o mais frequentado da cidade e onde costumo começar as noites dando uma longa caminhada antes de sair para as baladas.

Gosto de tudo que é fino, sofisticado e caro, muito caro, mas não pelos motivos que você deve estar imaginando. É que preciso de coisas duráveis, que possam me acompanhar por muito tempo, décadas de preferência. Séculos se possível.

Já rodei o mundo quase todo, com exceção de alguns lugares que não me despertam o menor interesse. Aqueles pontos remotos do planeta, onde temos a impressão de que o tempo parou e que as pessoas ainda vivem à espera que alguma grande revolução aconteça para mudar suas rotinas sem graça.

Passo boa parte do ano viajando. Principalmente no verão, quando costumo fugir para a Europa, mas sempre volto para São Paulo. Essa cidade tem tudo que gosto. A badalação com muita gente bonita, um pouco de cultura em cada esquina, a irreverência, a displicência e a sensação de que aqui tudo é possível.

Não posso me esquecer das noites enluaradas. São as minhas preferidas.

A essa altura você deve estar pensando que sou uma dessas patricinhas cheias de si, mas está enganado. Na verdade, sou bem reservada. Tenho consciência do que minha aparência física causa nos homens, mas isso não é importante para mim. Não mesmo!

Poderia continuar falando sobre mim por horas e você não se sentiria nem um pouco entediado. Pode ter certeza! Tem muito mais coisas a meu respeito que você acharia bem interessante, mas o resto é melhor não saber já. Por uma questão de segurança, entende? A sua segurança e, principalmente, a minha.

Você deve estar se perguntando o que eu faço para viver.

Não preciso trabalhar, se é nisso que está pensando. Tenho meus investimentos, que são mais do que suficientes para manter meu padrão de vida durante séculos, se for preciso. Estou aqui para desfrutar de tudo que esse mundo tem a me oferecer. Mas acredite, por melhor que seja a festa, no fim, o que você quer mesmo é ter alguém esperando em casa. E isso é o que eu não tenho.

Adoro tudo que o século XXI nos proporciona: a tecnologia, as facilidades e, principalmente, as possibilidades. Milhares delas, para alguém como eu, que quer aproveitar o que a vida tem de melhor, mas precisa de certa privacidade extra, se é que você me entende. Em 1915, quando nasci, tudo era bem diferente, o que tornava as coisas mais difíceis para todos nós.

Você deve estar ficando confuso, o que é compreensível, mas tudo se tornará cristalino quando eu revelar meu segredo: sou uma vampira. Não como aquelas criaturas medonhas das lendas, mas uma vampira real, que vive integrada em sua sociedade.

Vou esclarecer alguns pontos para que você entenda melhor.

Meu alimento é o sangue humano, mas em pequenas quantidades, provenientes de um ou mais doadores.

É. Você entendeu direito. Doadores.

Muitos de vocês apreciam minha raça e gostam de nos auxiliar. Precisamos disso para viver na sua sociedade sem infringir as leis e ficar parecidos com os monstros das histórias de terror. Para isso, organizamos companhias espalhadas pelo mundo todo, como uma grande rede. São o que chamamos de Casas Paraíso.

M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora