M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão

Capítulo 35 - De volta ao Brasil

Donovan

Após a batalha contra os Among Us no Castelo do Anjo, em Nova Orleans, decidi me afastar de Carlie e de seu romance com o caído, e voltei para o Brasil. Afinal, ela fez sua escolha e eu não faço o tipo que fica para servir de plateia.

Meses se passaram, mas era impossível tirá-la da cabeça. A simples ideia de Carlie nos braços daquele sujeito me fazia surtar. Raiva, desprezo, depressão e vários outros sentimentos, ainda menos nobres, cresciam dentro de mim a cada dia, a cada semana. Ficar sentado no apartamento, remoendo o fato de que, provavelmente, os dois estariam agora se amando e se divertindo, era deprimente. Pior ainda era pensar que a perdi justamente para ele.

― Maldito Johnatan Fallen! Maldita seja toda a raça dos caídos! Aqueles vermes desprezíveis.

Precisava encontrar uma maneira de tirar Carlie da cabeça, antes que fosse totalmente consumido pela lembrança dela. Não havia outro jeito. Ou voltava a ser o antigo Donovan ou aquilo ia acabar comigo. Felizmente, eu sabia exatamente o que precisava fazer para trazê-lo de volta e um pouco de diversão seria um bom começo.

As noites de São Paulo podiam ser bem quentes, para alguém que conhecesse os lugares certos e tivesse uma boa grana disponível. E foi por aí que comecei minha viagem de volta aos velhos tempos, antes que a presença de Carlie mudasse minha vida.

Passava os dias apagado, jogado na cama, recompondo-me, enquanto as noites eram dedicadas à diversão nas mais badaladas boates da cidade. Por vezes, emendando uma coisa na outra, até não saber mais ao certo onde estava ou com quem estava. Bebia quantidades absurdas, saía com diversas mulheres e me dedicava a saciar minha sede como há muito tempo não fazia. Tudo no intuito de esquecê-la. Porém, no final de cada noite, acabava sempre sozinho no sofá do apartamento, com um copo de uísque na mão e deploravelmente pensando nela.

Nunca poderia imaginar que eu, o poderoso Donovan Hunter, príncipe de uma família temida por tantos, estaria algum dia nessa situação. Totalmente apaixonado por uma mulher, e rejeitado. Trocado por um caído.

Era lastimável o estado em que me encontrava, bebendo sozinho e convocando-a sem receber resposta. Até que, certa noite, ainda embriagado, entreguei-me mais uma vez à mórbida e degradante tarefa de imaginar o que ela estaria fazendo, enquanto a convocava mentalmente, quase por instinto. Foi então que finalmente a alcancei.

Lá estava ela, preparando-se para o banho. A pele branca, os cabelos negros... Ainda mais linda do que quando surgia para me torturar em meus sonhos, e estava ao meu alcance. Eu podia senti-la, quase tocá-la. Tudo que eu desejava naquele momento era estar lá de verdade.

Antes que ela entrasse no banho forcei a conexão, chamando-a pelo nome, e pela primeira vez, depois de tanto tempo, ela reagiu. Percebi que estava recebendo o chamado quando, por alguns instantes, ela vacilou. Observei quando ela se segurou na bancada da pia, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Sorri, satisfeito com meu pequeno sucesso, mas durou pouco. Logo a conexão foi cortada pela presença do caído.

Aquele maldito anjo! Sempre no meu caminho. Mas agora, eu sabia que nossa ligação ainda era forte e isso me bastava, por enquanto.

Não foi intencional, mas aquilo acabou se tornando um prazer meio sádico e de vez em quando, depois de uma noitada, eu voltava para casa e me dedicava a convocá-la. Algumas vezes, não conseguia completar a conexão e acabava dormindo ali mesmo, sentado no sofá, totalmente entregue ao efeito do uísque. Mas em outras, a alcançava e quando isso acontecia o egoísmo tomava conta de mim. Agia sem pudores e fazia o possível para sustentar a convocação até que ela me ouvisse.

Tinha consciência de que estava me viciando em buscá-la e aquele era um jogo perigoso e sombrio, do qual eu precisava sair antes que arruinasse completamente o pouco de sanidade que ainda me restava.