Capítulo 33 - A força da convocação

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Carlie

Após quatro horas na estrada, sentia-me um pouco mais calma, mas a imagem da loura intrometida sozinha na casa de John, livre para vasculhar sua intimidade, não saía da minha cabeça. Decidimos fazer uma parada em Stans para passar a noite e planejar nosso roteiro pela Suíça. Foi lá que ouvi o chamado pela primeira vez.

Tínhamos acabado de nos instalar no hotel, que ficava bem na praça da aldeia. Estava me preparando para tomar um banho, quando a voz de Donovan invadiu minha mente.

― Carlie...

Assustada, apoiei o corpo na bancada de mármore que revestia a pia. Fiquei imóvel por alguns segundos, pensando que, talvez, fosse apenas minha imaginação. Mas a angústia refletida em sua voz era real demais para ser apenas um delírio. Aguardei por um tempo e nada. A sensação se dissipou tão inesperadamente quanto surgiu. Aos poucos, os sons do ambiente retornaram: o anjo se movendo no quarto, o barulho da mala sendo aberta e os ruídos vindos da praça. Tudo voltou ao normal.

Entrei no Box e abri a ducha, deixando a água me acalmar e pensando em Donovan. Nunca havíamos passado tanto tempo afastados. Mesmo quando ele viajava, sempre havia ligações telefônicas e mensagens. Mas, agora, era como se ele tivesse me excluído completamente de sua vida.

Aquilo não fazia o menor sentido. Se ele quisesse falar comigo podia ligar para o meu celular, afinal, estávamos no século XXI. Achei melhor não comentar nada com John por enquanto, ao menos, até ter certeza do que estava acontecendo.

Saí do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e outra no cabelo. John estava sentado na cama, estudando um mapa.

― Aí está você! Pensei que não sairia mais daquele banheiro ― John fez uma pausa, dando uma boa olhada em mim. ― Está tudo bem?

― Claro! Por quê?

― Não sei. Você está pensativa.

― Impressão sua, amor. Está tudo ótimo! Vamos nos arrumar logo, quero dar uma volta na cidade. Nunca estive aqui.

― Finalmente! Precisamos comemorar ― ele retrucou, sorrindo.

― Agora fiquei confusa. O que devemos comemorar?

― Bem, é a primeira vez que paramos em algum lugar onde você nunca esteve. — Rimos, enquanto ele puxava minha mão. ― Venha cá! Quero mostrar uma coisa.

― O que está planejando para nós?

John me observou por alguns segundos, antes de responder com outra pergunta.

― Você gosta de esportes de inverno? Sabe esquiar?

― Se eu sei? Eu poderia ganhar fácil de um desses esquiadores profissionais. — Dessa vez ele riu com vontade. — O que foi? Está duvidando?

― Não, amor. É que você parece uma garotinha, empolgada com a ideia de fazer alguma travessura.

― Sabia que às vezes você é muito implicante?

― Olha só ― ele desviou o assunto, voltando à atenção para o mapa. ― Podemos passar dois ou três dias aqui, se você gostar da cidade, e depois seguir para St. Moritz. O que acha?

― Adorei a sugestão. Faz tanto tempo que não vou a uma estação de esqui.

― Então, está decidido. Vamos sair para conhecer um pouco desse lugar e quando você quiser, seguimos para as montanhas.

― John, porque nunca me conta nada sobre seu passado?

― Não é verdade, mocinha! Você já sabe praticamente tudo que aconteceu na minha vida, desde que cheguei aqui. Ou pelo menos, tudo que foi importante.

M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora