Donovan
De repente, vi-me diante da cena do sonho que o caído descreveu, como se suas lembranças tivessem ganhado vida. Carlie estava mais ao fundo, na parede atrás das cadeiras. Tinha os pulsos atados por grossas correntes de aço, que a mantinham presa a um ankh ou cruz dos vampiros, como alguns preferiam chamar. Estava desacordada e parecia muito fraca.
Vê-la naquele estado despertou meu demônio interior. Queria correr até lá e tirá-la daquela maldita cruz, ampará-la em meus braços e alimentá-la até que pudesse se recuperar sozinha. Então, eu poderia voltar minha atenção àqueles que a colocaram ali e arrancar seus corações, um a um. Mas não seria assim tão fácil. Percebi a neblina negra que a rodeava. Eu sabia o que significava. Se tentasse me aproximar, seria o meu fim.
O caído fez menção de ir até ela, ignorando o perigo, mas segurei seu braço a tempo, impedindo-o de se aproximar.
― Nem pense nisso! ― alertei-o, apontando para a fumaça negra que envolvia a base da cruz.
O vampiro que ocupava a cadeira do meio se levantou e caminhou em minha direção. Um sorriso de escárnio começando a brotar em seu rosto. Havia ao menos oitenta anos que eu não ficava frente a frente com Yuri e mesmo todo esse tempo não foi suficiente para amenizar o desprezo que eu sentia por ele.
― Donovan Hunter! Finalmente voltamos a nos encontrar.
― Limpe a boca antes de pronunciar meu nome, seu velho arrogante!
― Eu devia dar-lhe um corretivo por falar assim comigo, garoto! Mas hoje é um dia especial, já que estamos aqui em família, na companhia de seu novo amigo e de sua amada Carlie.
― Você queria a mim e já estou aqui. Agora, deixe-a ir e vamos resolver isso entre nós.
― Acha mesmo que depois de todo trabalho que tive, trazendo-a até aqui para atraí-lo, simplesmente permitirei que ela se vá, só porque você está pedindo?
O riso sarcástico de Yuri encheu meus ouvidos e ecoou pelo salão.
― Então, ao menos, solte-a.
― Você não está em condições de reivindicar nada, mas vou atender seu pedido como uma amostra de minha boa vontade. ― Yuri declarou cheio de arrogância, antes de prosseguir. ― Alec! Anaim! Tirem-na de lá, mas não deixem que ninguém se aproxime.
Fiquei parado, enquanto observava os dois vampiros libertarem os braços de Carlie e tirarem ela daquela maldita cruz.
― O que pretende, mantendo-a aqui?
― Não seja tão apressado, meu filho! Tenha um pouco de paciência. Quero que nossa convidada de honra esteja acordada para presenciar nosso encontro. Logo o efeito do sono que Alec induziu acabará e ela despertará.
― Para seu próprio bem, espero que não tenha feito nenhum mal à Carlie, porque, do contrário, juro que...
― Todo esse sentimentalismo já está me cansando. ― Yuri me cortou, dirigindo-se ao anjo: ― Você, certamente, é Johnatan Fallen. Como deve ter percebido, os dois que estão com Carlie são Alec e Anaim, e esses aqui a meu lado são Bartolomeu e Demétrio ― ele falou, apresentando os vampiros que o acompanhavam: ― É um prazer conhecê-lo! Sou Yuri Zarco, pai de Donovan Hunter Zarco.
John
Durante todo o percurso, desde que saímos de São Paulo, imaginei um milhão de possibilidades para o sequestro de Carlie, mas aquilo era algo que jamais cogitaria. Então, aquele cara parado à minha frente era pai de Donovan! Deduzi, perplexo. Sequer imaginava que ele poderia ter família, muito menos que houvesse tanto desprezo envolvido naquela relação. Mas o que mais impressionava era a intensidade com que Donovan odiava o outro vampiro. A expressão em seu rosto era de quem estava a ponto de explodir em fúria. Cada vez que Yuri alardeava aos quatro ventos que era seu pai, sua ira aumentava ainda mais.
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M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão
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