Capítulo 24 - O resgate

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Donovan

Nova Orleans é uma cidade muito eclética, se é que se pode chamar assim. É considerada a cidade dos vampiros. Um lugar onde a bruxaria é praticada abertamente e onde seres sobrenaturais se misturam aos humanos, sem se preocupar em manter a discrição. Talvez por isso ela seja tão atraente. Um reduto de diversão. O lugar ideal para quem deseja permanecer oculto em meio à multidão.

Algumas horas de voo e chegamos ao aeroporto internacional Louis Armstrong. Segundo o anjo, o melhor local para iniciarmos a busca era pelo French Quarter. Tomamos um taxi e rumamos direto para lá.

Em circunstâncias normais eu jamais iria até Nova Orleans. Não que ainda estivesse preocupado em me ocultar. Mas infelizmente, Yuri não era o único inimigo que eu havia cultivado ao longo de minha existência, e aquela cidade certamente estava repleta de outros como ele. Só esperava não cruzar com nenhum pelo caminho, o que certamente me faria perder mais tempo.

Alertei o anjo sobre o fato, para que não fosse pego de surpresa, caso algo inesperado acontecesse.

― Estou ciente disso ― ele respondeu. ― Na verdade, agora que você mencionou, faz todo sentido terem trazido Carlie para cá. Ela está aqui. Posso sentir.

― Já que é tão familiarizado com a cidade, faz alguma ideia de onde podem tê-la aprisionado?

― Faço sim, mas há mais de um século não caminho por essas ruas. Logo depois que caí tratei de sair da cidade. Esse lugar nunca me agradou.

Aquele blábláblá do caído já estava me cansando. Tinha que dar um basta, antes que ele começasse a se lamuriar e resolvesse me contar a história da sua vida.

― Vamos manter o foco, ok? Não viemos aqui para reviver seu passado de anjo renegado. O que quero saber é onde Carlie está.

― Agora não dá para explicar ― ele retrucou e se dirigiu ao taxista: ― Aqui! Pode parar aqui mesmo.

O motorista obedeceu, parando em frente a uma espelunca que fazia às vezes de bar. Antes mesmo de entrarmos percebi que o lugar estava repleto de bêbados e prostitutas.

― O que espera encontrar aqui?

― Ainda não sei exatamente. Preciso pensar.

― Quem diria que um anjo frequentaria esse tipo de ambiente! ― provoquei. ― Talvez prefira me dizer onde ela está. Assim pode ficar por aqui, enquanto eu a resgato sozinho.

― Não seja idiota! Acha que vim aqui para beber? Não se esqueça de que sou um caído. Não vim parar na terra por ser o melhor exemplo de comportamento.

Diante de sua reação, tive vontade de soltar uma sonora gargalhada, mas no último momento me contive. Era melhor não chamar muita atenção, se quisesse sair logo daquele lugar. O anjo também não parecia disposto a iniciar outra discussão e se limitou a dizer:

― Vamos entrar!

No interior, o aspecto do bar era ainda pior. O verniz sobre a madeira das mesas estava desgastado, a cor das paredes era indefinida, revelando que há muito não recebiam uma nova pintura, e como se não bastasse, o proprietário parecia não primar pela higiene.

Pedimos uma bebida e ocupamos uma das mesas, agindo como turistas comuns.

Após alguns minutos, o caído voltou a chamar o garçom e, se fingindo interessado, começou a pedir informações sobre os pontos turísticos da cidade. O homem, que antes parecia entediado pela clientela frustrante que frequentava o lugar, passou a nos dar atenção.

M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora