Donovan
Agora que havia recuperado o controle, precisava resolver minha situação com Carlie. Nunca tivemos uma briga tão séria quanto na noite passada. Por mais que ainda sentisse um resquício de raiva remoendo em meu íntimo, não podia deixar que isso abalasse nossa relação, ou mesmo que interferisse nos planos que há muito fiz para ela.
Antes, porém, precisava resolver alguns assuntos que ficaram pendentes, por conta do inferno que se instalou em nossas vidas no dia anterior. De qualquer forma, um pouco de distância seria bom para fazê-la entender que dessa vez havia passado do limite.
Pelo resto do dia e parte da noite fiquei retido em inúmeros compromissos, que se acumularam por conta de minha ausência prolongada. Ainda assim, de tempos em tempos, permiti que minha mente se distraísse com imagens dela, e já estava estranhando a falta de um telefonema. Provavelmente, Carlie ainda estava chateada comigo, por acreditar que tive alguma participação no término de sua relação com o caído.
Era quase meia noite quando estacionei na garagem do prédio e segui até o elevador. Subi e fui direto para o seu apartamento, acreditando que, àquela altura, ela estaria tão ansiosa quanto eu para fazer às pazes. Mas, para minha surpresa, Carlie não estava.
Analisei as prováveis explicações para sua ausência. Conhecia bem seus hábitos noturnos e como ela não contava mais com a companhia do namoradinho, àquela hora devia estar voltando de alguma sessão de cinema ou fazendo uma caminhada pelo parque. Não demoraria muito para chegar.
Fui até o bar no canto da sala e me servi de uma dose de uísque. Examinei a vasta coleção de CDs que ela mantinha bem organizada e optei por um da banda Imagine Dragons. Nos primeiros acordes de Demons, aumentei o volume do som e me sentei no sofá. Aguardei por mais de uma hora e nada. Acabei desistindo. Ao que tudo indicava, Carlie tinha saído para alguma balada e não voltaria tão cedo. Por mais que quisesse conversar com ela, não estava disposto a perder o resto da noite esperando-a.
No dia seguinte, a história se repetiu. Nenhum sinal de Carlie no apartamento durante o dia ou mesmo à noite. A vaga que ela ocupava na garagem permanecia vazia e as chamadas para seu celular eram desviadas para a caixa postal.
Por mais que não quisesse, fui forçado a admitir que havia apenas uma explicação para seu sumiço prolongado: tinha reatado o romance com o maldito caído e, provavelmente, estava na casa dele. Do jeito que era teimosa, quanto mais eu insistisse em separá-la do caído, mais ela me afrontaria, ficando ao seu lado. Assim, decidi dar a ela mais uma noite e se não voltasse pela manhã, eu seria obrigado a ir até lá buscá-la, nem que fosse à força.
Passei a madrugada me torturando, imaginando Carlie nos braços do anjo, e quando o dia amanheceu eu era uma sombra de mim mesmo. Mas, então, algo totalmente inesperado aconteceu.
Estava sentado no parapeito da janela, observando o movimento dos humanos que caminhavam apressados pela manhã, quando ouvi a campainha tocar. Ignorei, pensando que, fosse quem fosse, certamente não me interessava, já que eu sabia de antemão que não era Carlie. Mas a pessoa do lado de fora era insistente e o som se repetiu mais algumas vezes. Mesmo assim, não fiz menção de atender, até que ouvi o ruído da porta se abrindo.
No mesmo instante, captei a presença de um ser sobrenatural e não precisei me virar para saber quem era. O maldito caído estava parado no meio da minha sala, aguardando minha atenção.
Movi a cabeça para demonstrar que estava ciente de sua presença, mas ele permaneceu quieto, sem proferir uma palavra.
Já estava farto daquele cara, mas apesar disso, a visita inesperada aguçou meus instintos. Voltei-me e o encarei com um olhar gelado.
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M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão
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