Donovan
De volta ao apartamento, aguardei a chegada de Carlie. Apesar de o gesto ser totalmente contrário à minha natureza, tentei imaginar como ela se sentia naquele momento. Certamente, o primeiro impacto já teria passado, o que atenuaria um pouco a fragilidade que ela demonstrou diante da situação. Só esperava que o maldito anjo não a encontrasse dentro da casa e se aproveitasse de seu estado para envolvê-la ainda mais.
Não demorou muito e ouvi seus passos no corredor. Mas, ao invés de vir a meu encontro, ela foi direto para seu apartamento e se trancou lá. Talvez fosse melhor assim. Sabia que àquela altura Carlie estava furiosa comigo. Era melhor dar o tempo que ela precisava para se refazer, antes de termos outra conversa.
Toda aquela confusão matinal acabou atrapalhando os planos que eu tinha feito para o dia e no estado em que me encontrava não tinha cabeça para tratar de nenhum outro assunto. Diante das circunstâncias, o melhor a fazer era adiar meus compromissos, ao menos até resolver definitivamente aquele problema. Mais cedo ou mais tarde, Carlie viria a minha procura e quando isso acontecesse eu queria estar ali.
No fim do dia ouvi sua porta bater. Um sinal claro que havia saído apressada. Decidido a não deixar que aquela história se estendesse mais do que o necessário, fui para seu apartamento e me acomodei no sofá. Esperaria ela votar de seu passeiozinho noturno e então teríamos uma conversa definitiva.
Por volta de uma hora depois ela retornou. Pareceu surpresa por me encontrar, mas não disse nada. Apenas caminhou em minha direção, sentando-se ao meu lado.
― Foi você não foi? ― ela perguntou com a voz embargada. ― Eu pedi tanto! Implorei que não fizesse isso, mas você não conseguiu me ver feliz com alguém, não é mesmo?
A acusação me surpreendeu. Aquela atitude não era nem de longe a que eu esperava e, sinceramente, não fazia a menor ideia do que ela queria dizer.
― Do que está falando, Princesa? Não sei o que pensa que eu fiz, mas...
― Por favor! ― ela me interrompeu bruscamente. ― Não faça esse tipo inocente comigo, Don! O anjo agiu de uma maneira muito estranha. Parecia outra pessoa e tenho certeza de que você teve alguma participação nisso. Você o ameaçou de algum modo, não foi? Por quê? Só me explique isso. Por que, Don?
Então, eles estiveram juntos e algo havia dado errado. Mas, o que aquele maldito caído teria dito para fazê-la pensar que eu o ameacei?
― Princesa, já disse o que penso sobre esse cara. Você não devia confiar nele.
― Só responda minha pergunta, por favor! Preciso saber o que você fez para ele me tratar desse jeito. O que você disse para convencê-lo a romper comigo?
Romper?! Por mais inapropriado que fosse, a palavra soou como música em meus ouvidos. Achei que finalmente o problema estava solucionado, mas novamente eu estava enganado.
― Então, ele rompeu com você! Ele a decepcionou e você acha que a culpa é minha?
― Eu sei que é, só não sei exatamente o que você fez. Mas seja o que for, deve ter sido muito sério para ele agir dessa forma.
Carlie fez uma pausa, durante a qual se demorou me observando. Tinha consciência que naquele instante ela estava atenta à minhas reações, tentando decidir o que faria a seguir. Achei melhor não responder, aguardando que ela prosseguisse.
― Sempre amei você como a um irmão, Donovan ― ela declarou, após alguns segundos. ― Minha relação com John não mudaria em nada o que existe entre nós. Mas você não tinha o direito de fazer o que fez. Você acabou com a única chance que eu tive em décadas de ser realmente feliz.
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M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão
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