M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão

Capítulo 6 - O retorno

Donovan

Era quase meio dia quando entrei no apartamento de Carlie e me acomodei em uma das confortáveis poltronas da sala. Não demorou muito e ela saiu do quarto com aparência sonolenta, dirigindo-se direto à cozinha. Aguardei em silêncio até que notasse minha presença.

― Minha bela princesa da noite, você está ainda mais linda! ― declarei ao encontrá-la, finalmente, após quatro longos meses de ausência. ― Venha cá! Deixe-me olhá-la de perto.

Carlie abriu um sorriso estonteante e seus olhos se iluminaram. Naquele momento, soube o quanto ela também estava feliz por me ver e isso bastou para dar sentido à minha chegada repentina. Ela cruzou a sala, praticamente correndo e, ao fazê-lo, deixou respingar algumas gotas de sangue no caro tapete que revestia o piso, mas nenhum de nós deu importância ao fato.

Levantei-me da poltrona, onde estive esperando que ela despertasse, e a envolvi em meus braços. De imediato, fui tomado por seu delicioso perfume, que me atingiu em cheio, roubando-me os sentidos. A sensação de sua pele macia, ainda envolta no tecido suave da camisola, fez-me tremer por dentro. Minha vontade era me apoderar de sua boca, erguê-la em meus braços e levá-la para a cama. Precisei de muito esforço para lembrar que ela ainda não me pertencia.

Sem se dar conta da luta que eu travava internamente, ela retribuiu o abraço e tive que me controlar para depositar um beijo em sua testa, ao contrário do que meu corpo exigia.

Precisava criar alguma distância, antes que acabasse perdendo o controle de vez. Afastei seu corpo levemente e segurei suas mãos, voltando a me sentar. Mas ela acompanhou meu movimento, sentando-se no braço da poltrona e colocando as pernas displicentemente em meu colo.

― Por que não avisou que estava chegando? Eu poderia ir buscá-lo no aeroporto.

― Bem que tentei, mas seu celular estava desligado. Além do mais, sabe que isso não é problema. Mandei um carro me buscar e aqui estou.

― Ah, Don! Quatro meses! Você passou quase quatro meses na Europa. Nunca me deixou só por tanto tempo. Senti muita falta de você.

Sabia que ela estava sendo sincera; o que só servia para piorar minha situação e inflamar ainda mais o meu desejo.

― Eu sei, princesa. Mas não diga que a deixei sozinha. Isso não é verdade. Mantive contato todo esse tempo. Você sabe que se fosse preciso eu largaria tudo e voltaria imediatamente. Não sabe?

Carlie

Claro que eu sabia, pensei, depositando um beijo no rosto de Don, mas isso não mudava o fato de ter me sentido só, sem meu amigo e confidente.

Examinei-o atentamente, em busca de algum sinal de mudança, mas ele parecia o mesmo. Era como se tivesse partido ontem e voltado hoje. O cabelo liso e escuro, ainda mantinha uns fios mais longos caindo no rosto, levemente inclinados para a direita. A boca desenhada, com lábios volumosos e sensuais, e os olhos... Bem, os olhos de Don são profundamente negros e quando você olha para eles tem a sensação de que pode se perder por lá e nunca mais se encontrar.

Donovan era um pouco mais alto que o anjo. Todo de preto, vestindo um terno muito bem cortado, era o modelo do executivo bem sucedido. Juntando tudo isso à sua aparência, que não permitia que alguém desse mais de vinte e oito anos para ele, Donovan Hunter era a perdição de muitas mulheres humanas, que cometiam o erro de se deixar envolver por seu poder de sedução.

Ele havia entrado em minha vida há muito tempo. Era 1935. Eu estava prestes a completar vinte anos de minha vida humana. Como todas as moças da época, era romântica e sonhadora, e esperava encontrar um príncipe encantado, por quem me apaixonaria, com quem casaria e teria muitos filhos. Papai trabalhava para o governo da França, meu país de origem, e mamãe era uma linda mulher que dava muita importância à sociedade e aos costumes.