Capítulo 23 - A aliança com o anjo

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Donovan

Deixei o parque sem olhar para trás, desaparecendo em meio à penumbra do dia, que já se preparava para amanhecer. Ao chegar ao apartamento, às últimas palavras de Vladimir retiniam em meus ouvidos, e a sensação era de que a cada minuto Carlie estava mais perto da morte. Agora que eu tinha certeza de que ela estava nas mãos de Yuri, precisava traçar urgentemente um plano para resgatá-la.

Analisei as poucas informações que havia conseguido. Sabia que tinha deixado à cidade sozinha com intenção de se afastar, por conta da briga que tivemos. Assim como sabia também a direção que tinha tomado, até o ponto em que comprou o Mercedes, o que significava que Vladimir ou algum outro membro da organização a interceptou após a fuga.

Conhecendo-a bem, não foi difícil imaginar seu provável destino. Minha esperança era que tivesse conseguido se instalar na outra cidade antes de ser sequestrada. Assim, eu teria ao menos algum rastro para seguir.

Não poder me comunicar com ela por meio de convocação era o que mais me intrigava, já que nenhum membro da Among Us teria poder para criar esse tipo de interferência. Esse fato, somado ao que Vladimir falou antes de morrer, sobre Carlie estar nas mãos de alguém que eu sequer poderia imaginar, levava a crer que Yuri havia feito novos aliados. Alguém capaz de interferir em sua mente, bloqueando meu acesso. Mas, quem?

Não havia mais nem um minuto a perder com conjecturas. Carlie estava em perigo e cada instante que tardasse em encontrá-la, poderia significar sua morte.

— Seja quem for que Yuri esteja usando para encobrir seu paradeiro ― disse para mim mesmo ―, só descobrirei na hora.

Limpei as marcas de sangue, troquei a camisa rasgada por outra em boas condições, peguei a chave do carro e saí apressado do edifício, torcendo para que Yuri ainda não tivesse tirado Carlie do país, o que tornaria a busca ainda mais complicada.

Cruzei alguns faróis vermelhos e entrei por uma rua de pouco movimento, para chegar mais rápido a estrada. Foi então que senti um baque em cima do carro. Olhei pela janela e custei a acreditar no que via. Aquele anjo idiota tinha voado pela cidade e pousado exatamente sobre meu carro. Estava agarrado ao teto e gesticulava, pedindo que eu parasse.

Dei uma freada brusca, propositalmente, e ele escorregou, parando sobre o capô. Só então, encostei e baixei o vidro.

Quer sair de cima do meu carro, seu verme? Você vai acabar arranhando a pintura.

Aonde vai?

A última coisa que eu precisava agora era de algo que me atrasasse e aquela interferência do caído já estava me tirando do sério.

Isso não é da sua conta.

― Sei que vai atrás dela, mas não sabe onde ela está e eu sim. Além do mais, você vai precisar da minha ajuda.

― Acho que deixei bem claro que não preciso mais de você. Posso me virar muito bem sozinho e depois de tantos anos com ela, não será difícil encontrá-la.

Você não está entendendo. Carlie não está onde está por vontade própria.

― Acha que não sei? O que pensa que vou fazer? Ter uma conversa amigável com quem a está mantendo cativa?

Será que dá pra você destravar a porta? Ou prefere que eu continue agarrado ao teto?

Tinha de admitir: ele era persistente e em outras circunstâncias eu até poderia apreciar sua atitude. Sem responder, acionei o painel, liberando as portas.

M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora