Donovan
Não precisava de nenhum dom especial para saber que, naquele exato momento, Carlie devia estar presenteando o pobre coitado atrás do balcão com um daqueles seus sorrisos encantadores e irresistíveis.
― Bom dia! ― ouvi quando o cumprimentou, mas ele parecia assustado demais para se deixar levar por um rosto bonito.
― Desculpe, mas a senhorita não pode ficar aqui. Precisa se retirar e levar seus amigos com você.
Definitivamente, aquilo seria divertido.
― Olhe para mim — ela insistiu com o homem.
Ao perceber que ela alterou o tom de voz, falando de maneira mais suave e incisiva, decidi não interferir, dando-lhe mais algum tempo.
— Meus amigos e eu precisamos descansar. Então, seja bonzinho e nos dê dois quartos. Você vai permitir nossa entrada no seu hotel e não vai fazer comentários sobre nossa presença. Entendeu?
― Sim, senhorita!
O homem balançou a cabeça em concordância. Carlie tinha conseguido. Agora a situação estava sob seu controle.
― O quarto dezessete e o dezoito estão vagos? ― Carlie questionou, observando o painel de madeira atrás do balcão, onde algumas chaves mostravam os números dos quartos disponíveis.
― Estão sim.
― Vou ficar com esses. E mais tarde, quero que leve uma garrafa de champanhe ao quarto dezessete. E roupas novas, para todos nós.
Ao ouvir o resto da frase não contive uma gargalhada. Carlie parecia uma criança deslumbrada com o poder e até para mim aquilo soou um tanto exagerado. Mas o homem não podia contestar suas ordens e depositou as chaves prontamente em suas mãos, acompanhando o gesto com um sonoro "sejam bem vindos".
Quando retornou à entrada onde aguardávamos, seu rosto exibia um sorriso de satisfação.
― Prontinho, rapazes! Tudo resolvido.
― Por que só pediu duas chaves? Não espera que eu divida o quarto com esse cara — questionei, apontando para o caído.
― É claro que não! John vai ficar comigo. O outro quarto é todo seu.
― Como é?! Está querendo dizer que vai dormir ao lado dele?
Minha indignação não poderia ser maior, diante daquela declaração absurda, mas Carlie simplesmente ignorou meu protesto e deu a mão ao caído, seguindo direto para a escada que levava ao andar superior. Aguardei até que estivéssemos no corredor dos quartos e voltei a argumentar. Segurei-a pelo braço, puxando-a para junto da porta.
Se naquele momento o caído tivesse feito algum movimento com intenção de me impedir, provavelmente, iniciaríamos outra batalha ali mesmo. Mas, por sorte, ele ficou na dele e esperou que ela retornasse.
― Você não pode estar falando sério!
― Não estou com a mínima disposição para iniciar uma discussão sobre minha vida amorosa — foi sua resposta seca. — E depois de tudo que aconteceu, acho mesmo que não lhe devo nenhuma explicação.
Sua atitude petulante me enfureceu, mas no fundo eu sabia que Carlie tinha sua cota de razão. Afinal, por minha culpa, ela havia passado por tudo aquilo e agora agia como se quisesse se vingar, me punindo por envolvê-la em meus problemas com Yuri.
— Maldito seja Yuri e toda sua organização! ― esbravejei intimamente, mas não retruquei. O que eu poderia fazer? Carlie estava decidida. Tinha feito sua escolha e eu havia perdido.
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M.A.D.E. Primeira Geração - série Mais Além da Escuridão
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