Capítulo XIII

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Uma dica... Leiam escutando Te extraño - Sad Piano.


***


Estou sentada e desligada de tudo ao redor. O choque ainda é grande e não consigo administrar as coisas que estou sentindo. Nada. Nada é a resposta para o que estou sentindo.

O barulho da água toma meus ouvidos e um cheiro bom no ar. Pisco algumas vezes seguidas. Olho em volta e a noite caiu. "Quanto tempo fiquei fora?" Olho em volta e vejo uma fogueira. Vejo Arthur assando algum bixo. Creio que seja um porco do mato. Ele grita mesmo sendo exposto a brasa quente. Ainda é difícil para mim acreditar que alguns animais não morrem de verdade quando são mortos.

- Ei! - olho para frente e Gael continua encostado na árvore, só que ele está limpo. Ele faz uma careta - Achei que queria um banho. Você é a única suja aqui! - olho para meu corpo e pisco, olho para frente novamente e ele sorri fracamente. - Não aguento te ver assim. Melhore essa cara. - rio de mim mesma internamente. O cara que amo acabou de me dar um pé na bunda depois de correr atrás de mim por  séculos e me prometer amor eterno. "Idiota!" Sinto raiva de mim mesma por não conseguir dizer algo para machucar ele também.

Suspiro e realmente devo estar péssima.

- Fechem os olhos rapazes! - grito me levantando e olho para Gael. Ele continua me olhando enquanto me viro. - Eu falei sério! - digo e afrouxo o espartilho. Olho para Drogo e ele fecha os olhos. Arthur também. Viro para o rio e sigo, desço uma manga e olho para Gael. Olhos fechados.

Me dispo e entro na água. Cada célula do meu corpo fala alto. Pedia por esse banho. Fico horas na água e Arthur limpa a garganta.

- Preciso ver se o porco já deu ponto guardiã! - olho para ele.

- Pode abrir os olhos, estou na água. - ele abre os olhos e acanhadamente verifica o fogo. - Vamos para o vilarejo. Quero que troquem essas roupas e coloquem curativos de verdade antes de atravessarmos a maldita rasura. - digo com a voz firme. Assim que fecho a boca sinto a visão turva. Arthur se senta e fecha os olhos novamente e a voz de Drogo aparece.

- Não precisa se fingir de forte mais Ada! - ele parece bravo - Sabemos que chora sempre que não vemos! Sabemos que está sofrendo, não guarde a dor para você! - sinto quando a lágrima cai e mesmo que ele não possa ver dou meu olhar de agradecimento. Abro a boca e minha voz falha.

- Obrigada. - digo com a voz chorosa. "Obrigada..."

Saio da água e balanço as asas algumas vezes. Alço voo na vertical e ganho cada vez mais altura, atravesso as copas das árvores.

- Ei! - uma grita e ganho o céu. Vôo cada vez mais alto. As gotas de água somem e o vento frio da noite embala meu corpo. Fecho as asas e caio em queda livre. Assim que aproximo das copas abro as asas em leque. Pauso. Volto a descer e pouso vestindo minhas roupas.

- Podem olhar... - digo. Eles abrem os olhos. Suspiro. - Descansamos o dia todo, vamos voar para fora dessa floresta agora mesmo e ir em direção ao vilarejo. Quero estar lá antes do dia amanhecer.

- Não podemos, Gael não pode forçar tanto ass...

- Posso. - olho para Gael e seu olhar é impassível. - Voaremos. - ele diz. Engulo seco. - Faremos como a guardiã pede.

- Mas Gael... - Arthur tenta ponderar.

- Vamos fazer como Ada pede! - ele ordena e Arthur fecha a boca. Suspiro aliviada. O porco começa a me incomodar. O grito fino não é bem vindo quando meu coração está pedindo por silêncio.

Me sento perto de Gael e ele geme baixinho. Olho para o lado e fico estática quando sinto braços ao meu redor. Tento sufocar a tristeza que permeia me engolir, mas os braços quentes me aconchegam e me deixam fraca. Soluço. Gael suspira.

- Chore se quiser. Não é fraqueza sofrer por que alguém quebrou nosso coração... - me agarro a Gael com força e choro sentida. "Por que você fez isso? Por que me abandonou!?" Puxo a camisa de Gael e aperto entre os dedos.

- Por que ele fez isso Gael? - digo com a voz trêmula e deixo as lágrimas correrem sentindo uma parte de mim sendo espancada. Gael suspira e esfrega um pouco abaixo da raiz das minhas asas.

- Eu não sei... - a voz dele é sombria. - Mas desejo bater nele. - olho em volta e vejo troncos de árvores grandes, mas além delas não consigo ver cor. De alguma forma as cores parecem mais opacas.

Não tem como explicar a dor de perder alguém e saber que nunca mais vai poder vê-la, tocar, ouvir...

Não existe remédio para as feridas que se abrem quando se perde alguém. Podem passar anos e a perda de minha mãe e meu pai nunca vão ser preenchidas por outros rostos.

E agora eu também perdi Faruk. Outro vazio que jamais será preenchido. "Como dói!"

A pior parte é saber que essa perda irreparável de alguém que você ama não pode ser compensada com o pensamento de que o amor existia. É uma parte que foi arrancada e que ninguém vai poder virar e me dizer que ele se foi, mas o sentimento era mútuo e dura para a eternidade.

Paro de chorar e respiro pesadamente contra o ombro de Gael.

Ele me prometeu que nada iria fazer ele parar de me amar! Ele me prometeu filhos!

Ele me prometeu tantas coisas...

O som de sua risada invade meu pensamento. "Por que fez isso? O que mudou?"

E a promessa de envelhecer ao meu lado? Ela morreu?

E a vontade de acordar todos os dias ao meu lado? Morreu?

Ninguém pode deixar de amar tão depressa!

O que eu fiz de errado!?

Apenas amei de volta... Meu erro foi corresponder?

Fungo e seco meu rosto. Meu coração não se acalma, mas forço meus pensamentos a se acalmarem. Me afasto de Gael e lhe ofereço o melhor sorriso que consigo. Ele parece preocupado.

- Está pronto. - Arthur diz parecendo melancólico.

Ajudo Gael se levantar e levo ele para perto da fogueira, ajudo a se sentar e observo os três comerem. Tudo passa em camera lenta. Seus movimentos são alheios para mim.

- Come Ada. - Drogo exige. Nego. Dou-lhe um sorriso fraco.

- Tenho frutas lembra? Quando sentir fome eu comerei. - digo.

Não tenho vontade de viver se não puder ver, ouvir ou tocar em Faruk. Não tenho vontade de viver...

Lenços!!
Preciso de lenços para as lágrimas aqui...

Aaaaaaaah
A mesma dor que ela sente eu sinto.

FARUK II - A Rosa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora