Fecho os olhos e me recosto sobre o peito de Faruk.
O silêncio é suportável quando sabemos que a mesma dor que sentimos é sentido por alguém mais, quando sei que lá fora um corpo frio descansa, mas sua alma calorosa irá permanecer em um lugar acolhedor e bonito.
Algumas pessoas carregam uma essência tão boa em vida que ao deixar o corpo se perde. Se perde toda a alegria, a paz, os traços de bondade.
Faruk se move e sai da água. Continuo olhando para a borda da banheira e pisco lentamente sentindo a água quente envolver meu corpo frio. Sinto novas lágrimas querendo descer e suspiro. Sinto a mão de Faruk sobre meu ombro e levanto a cabeça olhando para ele. Seu olhar doloroso é a combinação perfeita com a chuva que vai lá fora.
Cinza. O tempo é cinza. Meu mundo novamente parece cinza.
Ele estende a mão e me levanto olhando para o homem que amo com expressões tão dolorosas. Ele me enrola em uma toalha e saio da banheira, Faruk limpa minhas asas e em seguida meu corpo. Ele já está completamente seco.
Calada estou. Calada permaneço.
Faruk se afasta e olho para minha barriga. "Você será uma dádiva em meio a tanta dor..."
Pisco e lágrimas correm soltas. Fungo e Faruk suspira. Olho para cima e ele me puxa para um abraço.
- Vamos voltar para casa... Amanhã pela noite sairemos daqui. Estaremos em casa no outro dia pela manhã... - assinto.
- Desculpe... - soluço e ele me aperta.
- Pode chorar, não te culpo. - assinto e ele acaricia meus cabelos, colo meu rosto ao seu peito e sinto quando ele deposita um beijo no topo de minha cabeça. Ele se afasta e me pega no colo. Me leva para a cama e me senta. Ele estende meu braço. - Cerre os dentes. - assinto e faço. Ele pressiona a toalha contra o antebraço.
- Argh... - rosno e ele faz o mesmo na parte de cima, no braço. Fecho os olhos contendo as lágrimas.
Lembro que dor física não se compara a dor que sinto no coração, bem... Dói tanto quanto.
Abro os olhos quando Faruk afasta a toalha.
- Pronto. Vou enfaixar. - assinto e ele se senta ao meu lado. Ele está tão calado quanto eu.
Ele gentilmente começa a enfaixar e sinto a dor latejante.
- Será que agora viveremos em paz? - pergunto com a voz trêmula. Ele pausa e engole seco. A chuva lá fora é um lembrete que seu coração também está dilacerado, mas a dúvida de um dia poder ser feliz... Sem medo. Sem lutas. Sem dor. Sem perdas.
A dúvida... Ela permanece.
Ele volta a enfaixar e não me encara, aperta o maxilar e relaxa. Suas expressões na face pálida são como uma pequena montanha russa. São muitas emoções. Unidas em um único rosto. Desenhadas em um rosto perfeito com perfeitos traços do que se pode sentir de verdade e com intensidade.
Assim que ele enrola as faixas caminha para as tochas no quarto e as apaga. A chuva cai e meu corpo realmente pede cama. Ele sobe na cama e me puxa para perto. Me aconchego perto de seu corpo assim que ele se deita.
- Não posso te garantir paz... - ele suspira. - Não posso garantir sossego, eu sinto tanto por tudo... - a voz dele se torna dolorosa - Não posso garantir nada para você... - a voz é trêmula - Sinto muito por ter te tirado dos seus pais... - medo? "Não faça isso com você ..."
- Meu amor eu...
- Me perdoe Ada, eu te arranquei todas as alegrias e continuo arrancando de novo e de novo e...
- Pare! - me levanto abruptamente e olho para ele. Nego com a cabeça. - Não faça isso... - sussurro e encaro o olhar doloroso, pesado e com lágrimas contidas. Ele engole seco e vira o rosto, escondendo-se de mim. - Faruk... - ele não me olha e sinto um nó na garganta. - Pare de se culpar... Eu não suporto te ver sofrer por causa das coisas que os outros fazem... - soluço. Ele não me encara e suspiro. Meu corpo trêmulo sabe que ele aguenta mais do que todo mundo, ele sabe que a força de Faruk é apenas uma capa fina sobre a dor pulsante em seu peito.
Ele nem mesmo pode saber disso.
Ele nem mesmo sabe que a força que tem é escassa e se castiga, se destrói, se martiriza por tudo de ruim de acontece.
Alguém faça ele parar! Ele precisa notar que não é assim!
- Faruk! - ordeno com firmeza e ele se senta com o rosto baixo, seus cabelos negros escondem sua face. As asas são como escudos frágeis em torno do seu corpo quando ele as curva para tentar me afastar.
- Eu sou o culpado de tudo... Essa ... - ele suspira e levanta os olhos, negros. - Essa porra dessa chuva persiste ! - "Ok! Estou chocada! Faruk xingando!? Alguém por favor me acorda por que estou sonhando!" - É por minha causa que você sofre... Todos! Todos sofrem por minha causa. Veja para onde eu trouxe meus melhores homens. Morte! - puro medo é expressado. - Eu só crio problemas para você, eu só trago tragédias... - nego.
- Você é meu alicerce e por sua causa que quero acordar amanhã - meus hormônios estão gritando e quero socá-lo e abraça-lo ao mesmo tempo. - Quer culpar alguém!? Culpe essa maldita coisa que sua mamãezinha chama de roda da vida! Estou consciente do que quero e não é essa coisa ridícula que vai continuar comandando minha vida! E daí se não podemos mudar nossas ações!? Eu escolho mil vezes tudo o que me aconteceu se isso significa que eu acabei de salvar centos de geração! - ele pisca perplexo.
- Não me culpa? Por sua mãe? Seu pai? - sua voz dissimulada não é uma surpresa, nem seu olhar cruel - Por ter passado por todas as atrocidades possíveis? Pela morte da coruja infame? Por... Por Drogo, Arthur e Gael... Pelas vidas que perdeu? Todas. E as crianças que morreram afogadas?! soterradas!? - nego e soluço, levanto uma mão secando as lágrimas - Eletrocutadas?! E as famílias chorando? E as árvores destruídas!? As casas? E os seres místicos que perderam suas vidas?! - nego.
- Pare...
- Diga-me Ada? Voce realmente é feliz por amar um monstro!?
- Pare... - peço e fungo.
- Você é feliz? Feliz ?! - ele gargalha e segura meus ombros. - Você não é!
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FARUK II - A Rosa Vermelha
FantasiaWtf mundo???? Dois? Finalmente! Após todo o sofrimento, Ada começa a ter estranhos pesadelos que terminam sempre antes de ter uma explicação. O pior? Faruk sumiu. Agora ela tem que correr contra o tempo para salvar seu amado... Vem comigo em mais...