Capítulo XXIII

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O dia amanheceu e peguei algumas roupas emprestadas do meu eu mais novo. Me sinto horrendo em tais vestimentas. Uso uma camisa branca "Por sorte não é tão apertada."  As calças de couro são extremamente coladas.

Cada curva da minha perna e de meu traseiro está marcada! "Como cheguei a esse ponto?" Meu eu mais novo saiu e minha mãe está lavando minhas roupas. Pretendo usá-las para ir buscar Ada. Nem morto que deixo ela me ver em roupas tão justas. Coloquei minha capa por cima para disfarçar a minha situação constrangedora.

Claro que não estou menos gostoso dentro dessas roupas, talvez esteja até demais para meu gosto. Não quero parecer um objeto de desejo para os outros. Seria detonar com minha reputação de Severo.

Arthur e Drogo estão dentro da cabana e eu estou sentado em um tronco de árvore acariciando minha asa esquerda. "Ada..."

Irei hoje para o covil das cobra ou diria bruxas. 

O tempo está mais calmo, mas continua escuro. Não consigo manter meu coração mais calmo que isso .

Olho para as roupas que ela estende sobre os galhos de uma árvore pequena. Vejo quando ela espeta o dedo em um espinho na Roseira vermelha.

Alço voo e pouso ao seu lado.

- Deixe-me ver... - ela estende a mão.

- Não foi nada. Elas também estão tensas. - reviro os olhos.

- Por que gosta tanto dessas rosas vermelhas? - ela olha para a Roseira.

- Elas são parecidas com sua mulher ... - pisco algumas vezes seguidas.

- O que quer dizer? - ela me olha e sorri.

- Ela é linda e cheia de alegria, mas é cheia de problemas. - ela aponta para as rosas. - Lindas e cheias de espinhos.

- Ada não tem nada de espinhos... Por que rosas vermelhas? - ela sorri e pressiona o dedo no tecido do vestido.

- Por que elas representam a rainha Vermelha... Ou como você chama em sua época Guardiã Vermelha.  Elas unem o passado e o presente. Elas são o lembrete de que a roda da vida vai continuar mesmo depois que tudo isso acabar. - assinto.

- Existe uma história do lado humano que conta a história de menina que tem que lutar contra a rainha vermelha por que ela é má. Ada é boa. - digo. Ela sorri.

- Depende da perspectiva que você olha. Se você olhar para um espelho verá sua imagem ao contrário. Seu lado esquerdo será o direito para a pessoa do outro lado do espelho. Espelhar é inverter, mas é refletir. Então se você olha do lado humano a rainha vermelha será um monstro, inverter... Mas se você olhar para o lado místico verá que é refletir. Ada é o reflexo da rainha vermelha, mas não o espelho dela. - suspiro.

- Então sou o espelho de morfeu. - ela sorri.

- Você é o reflexo dele também. Você é Faruk! Uma pequena parte de um todo. - suspiro. O vento frio corre solto.  Ela aponta o dedo para mim. - Viu? Parou. - sorrio e alço voo.

- Três dias. - ela assente e aceno.

Vôo por entre as árvores. Vôo tão depressa quanto posso e a cada vez que bato as asas me aprofundo mais na escuridão da floresta enganosa.

Assim que estou voando em meio ao breu quase absoluto, ouço uma risada alta. Pouso. Olho para frente e vejo muitas cabanas. Mais do que posso contar. Meu coração acelera. "Será uma carnificina..."

Caminho com elegância e cubro meu rosto com o capuz. Suspiro. O som das árvores balançando me dizem que aqui é o lugar mais sombrio da floresta enganosa. Ando entre as cabanas. Assim que uma bruxa me vê ergue a varinha.

- Parado! - ela grita. Ergo as mãos.

- Vim em gesto de paz. Quero falar com os líderes. - ela torce o nariz. Essa bruxa é nova. Deve ter minha idade. "Claro, sem os seis séculos!"

- Prove! - ela diz. Baixo o capuz. Meus olhos devem estar vermelhos como o sangue. Ela recua e mais bruxos surgem. "A recepção de boas vindas!"

- Quer que eu transforme alguém em rato? - ela sorri.

- Faça. - aponto o dedo para um bruxo atrás dela e névoa negra o cerca. Ele se converte em um pequeno camundongo. Ela olha para trás e suspira. - Nunca vi um bruxo com asas negras e olhos vermelhos. - reviro os olhos e me aproximo.

- Prazer, sou sua primeira vez. - digo e ela parece chocada. Sorrio. - Não se preocupe. Não vou te machucar. - ela engole seco. Bufo e tento parecer cordial - Sua mente com certeza está indo para o lado errado. Não quis dizer ... Bem, sou o primeiro bruxo que vê assim. - ela suaviza o olhar. Aponto para o ratinho. Ele volta a ser bruxo e toca seu corpo com alivio.

- Adamastor? - ela chama e um bruxo de barba branca e cabelos grisalhos se aproxima. - Leve ele para os líderes, ele é um bruxo que acabou de chegar. - o velho lança um olhar interrogativo. Sigo ele assim que ele volta a caminhar. Passamos por várias cabanas e o sigo com cautela. Muitos bruxos me encaram com cara de poucos amigos.

- Como se chama? - ele pergunta no meio do caminho.

- Faruk. - digo.

- Não é conhecido receio.

- Não. Sou uma versão de solitário. - digo. Ele caminha para uma grande cabana. Bruxos com imensas capas negras estão parados a frente da porta.

- Este bruxo quer ver os líderes. - um dos guardas não parece seguro.

- Ele se parece com um ser alado para mim. - limpo a garganta.

- Se quiser eu provo. - ele me olha com curiosidade.

- Faça isso. - "Céticos!" Aponto para ele. A fumaça o envolve e ele se transforma em um coelho. Os outros guardas dão espaço. Volto a transformar ele em bruxo.

- Satisfeito. - ele assente e sai do caminho. Usar o feitiço de transformação é simples e rápido. Também não mede meus poderes. Isso é uma vantagem. Uma das coisas que tenho que evitar é me expor ao inimigo. Eles tem que acreditar que apenas um bruxo normal, demonstrarei apenas força o suficiente para que possa estar entre os líderes.

Entro porta a dentro e nove rostos jovens me olham. "Malditos!" Me pego imaginando quantas mulheres morreram para que eles mantivessem o rosto assim.

- Quem é você? - um deles pergunta. Sorrio e seguro os lados da capa. Me curvo e abro ela para os lados. Volto a encarar eles e me endireito.

- Sou o bruxo mais velho de todos desta cabana!

FARUK II - A Rosa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora