Capítulo XXV

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Já é noite no acampamento dos bruxos. Fui designado a uma cabana pequena ao lado da cabana da bruxa que tem minha idade. "Será um problema se Ada souber!" A bruxinha veio a minha cabana trazer almoço e jantar.

Meus instintos não estão gostando das boas ações.

Estou deitado olhando para o teto da cabana. "Ada..." Tenho medo de fechar os olhos e sonhar com ela como tem acontecido. Apenas a lembrança dos sonhos me deixam louco. "Minha..."

Engulo seco.

Trovões ressoam. Cada pancada no céu me deixa ainda mais sombrio. Se minha mãe mentiu sobre ela não ser queimada enquanto estou aqui irei matar ela. Suspiro. Minha criança está em perigo e estou fingindo ser um bruxo em busca de vingança. Se algo a machucar terei o prazer de esquarteja-lo.

Respiro fundo e decido falar com ela. Talvez eu ganhe uma bronca por mentir.

'Ada? Se puder me ouvir agora apenas me deixe saber que está bem... Me perdoe por dizer aquelas palavras duras. Eu achei que iria embora depois que lhe disse... Doeu tanto em você quanto em mim. Por vezes enquanto cuspia aquelas palavras duras desejei apenas tomar seus lábios e me esquecer de tudo, mas estava tentando te proteger. Sou o causador do sofrimento de Pearl e consequentemente o seu, não suporto mais lhe causar tanta dor.'

Sinto meu corpo pesado, acabei de lhe dizer minhas preocupações e não estou perto dela para poder tocar sua pele e saber que está tudo bem. "Quão bastardo posso ser!?"

' Nem acredito que está falando comigo! Senti tanta sua falta. Está tudo bem meu amor, sabe que não posso guardar raiva de você com facilidade. Meu coração é traidor estúpido e sempre corre para você! Estou bem, não se preocupe, não quero lhe preocupar por nada. Arthur me disse que eu deveria manter sua cabeça mais clara. Sinto que as coisas não estão boas para você. Está tudo bem? O tempo parece extremamente violento. Ouço trovões a todo momento e vez ou outra tremores de terra. '

Ela deveria se preocupar com a própria vida! Ela pode ser queimada. Torço para que eles mantenham ela na cela pelo menos até que eu possa ir ao seu encontro. Me sinto aliviado por saber que ela não está brava.
Parte de mim me diz que estou errado e que ela está furiosa, mas ouvir sua doce voz me acalma e se ela diz que está bem. Confio.

' Estou bem... Irei te tirar dessa cela logo! Não se preocupe. Espere mais dois dias e estarei aí para você.'

Espero durante alguns minutos, mas a resposta não vem. Suspiro. "Preciso ver ela!"

Me sento na cama e puxo uma asa para perto. Acaricio. "Minha pequena e doce Ada está em perigo..." Mesmo que ela diga que está bem sinto um aperto profundo no peito. Maldita hora que ela saiu de Pearl para retornar ao passado. Ela tinha que ter seguido em frente. Eu seria apenas um lapso de memória na cabeça dela.

Teimosa.

Ela poderia ter escolhido Miguel. "Ele não tem capacidade de protegê-la como eu! Seria uma escolha falha!" Bufo. Talvez Gael. "Ele não sabe como agradar ela! Não como eu! Ela seria incompleta! Ele não!" Sinto um calafrio.

"Qualquer um que se aproximasse dela não seria o suficiente." Me sinto extremamente egoísta por ser tão possessivo. Ela não me conheceria e nem eu a ela. Minha vida seria solitária e infeliz e iria apenas sobreviver a cada dia.

Me levanto e saio para fora. Caminho entre as cabanas e me sinto tonto. Preciso descansar. Volto para a cabana e me deito. Sei que assim que dormir a imagem de Ada vai me atormentar, mas preciso descansar mesmo que para isso eu tenha que me torturar com sua imagem.

Adormeço.

***

Acordo com alguém tocando meu rosto. Antes que abra os olhos agarro o pulso. Sinto raiva remoendo e trovões ressoam. Abro os olhos e pego o rosto assustado da bruxa. Seus cabelos são loiros e ela tem olhos verdes. Pálida. Até suas sobrancelhas e cílios são brancos. Raias vermelhas entre o verde de seus olhos são visíveis. Ela sorri quando abro os olhos.

- O tempo estava aberto até agora. - ouço os trovões. - É por que você acordou que ele voltou a ficar sombrio não é? - pisco algumas vezes e respiro fundo. Solto seu pulso e me sento. Ela se afasta.

- Não deveria tocar em mim sem minha permissão. Eu teria te matado se não tivesse sentido o medo e seu cheiro. - ela assente.

- Vim lhe chamar, tem uma reunião com os líderes agora. Já é dia. - assinto e começo a fechar os botões da camisa. Ela desce o olhar para meu abdômen. Não gosto do olhar de cobiça se ele não vem de Ada.

Assim que fecho o último botão me levanto alcançando a capa na cabeceira da cama.

- Já estou a caminho. - digo rudemente e ela assente.

- Você parece solitário. Só se acalma quando dorme... - olho para ela e dou-lhe um sorriso sombrio.

- Em meus sonhos está a causa para minha calma. Quando acordo não posso vê-la. É como o inferno para eu acordar e não poder encontrar o motivo da minha calma. - ela franze o cenho.

- Ela morreu? - nego.

- Ela está presa e correndo o risco de ser queimada. - ela arregala os olhos.

- Ó... - jogo a capa em meus ombros e puxo o capuz. Me aproximo da porta e ela se afasta. Me espreguiço e estico as asas o máximo possível. Abro a porta e saio. Olho para trás.

- Não entre mais na minha cabana sem minha permissão. - digo com frieza. Ela assente e sorri. Caminho para a cabana maior e sei que por cada bruxo que passa recebo um olhar curioso. Eles cochicham em como sou diferente. Assustador. Sorrio internamente. Sem a capa pareço menos assustador.

Suspiro.

"Malditas calças!"

Chego perto da cabana e os bruxos de guarda empurram as portas. Entro e aceno, me sento com rapidez e as asas acabam fazendo um pouco de poeira voar. Cruzo as pernas e coloco os cotovelos sobre a mesa sorrindo.

- Vamos começar?

FARUK II - A Rosa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora