Os Cullen

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É estranho se acostumar com a dor. De início você a repele, mas depois a aceita como parte inevitável da realidade. Quando ela se esvai e vem o alívio, fica o receio natural de que ela retorne, desta vez mais forte, feito a calmaria que precede a tempestade, ou o mar silencioso antes do tsunami. Eu sabia, que no meu caso, isso era uma tendência quase que científica, tão precisa quanto a rotação da Terra.

Não consegui me importar com isso ali, porém. Fiquei extasiada por poder sentir meu coração bater no peito outra vez, rápido e furioso. Ele, o coração que há anos só batia de modo mecânico, tal como um relógio apático, um órgão morto sendo mantido vivo por aparelhos. Fiquei quieta, escutando os batimentos ferozes pulsarem em meus ouvidos. Eu me sentia inteira de novo, desprendida de amarras.

Edward. Meu irmão. Aquele que me ergueu dentre os mortos só com um abraço. Pensei em todas as coisas que podia dizer para agradece-lo por isso, mas não eu não tinha palavras o suficiente que pudessem expressar minha gratidão. Só pude esperar que ele ouvisse isso e entendesse. Afundei-me mais sobre seu casaco, desfrutando da gloriosa sensação de liberdade.

— Oh, Edward, meu irmão! – As lágrimas, previsíveis, se acumularam nos cantos de meus olhos, descrevendo uma linha ao correrem por meu rosto. – Senti tanto sua falta!

— Irmãzinha – sussurrou, o queixo apoiado no alto de minha cabeça. Em seguida se afastou, me segurando pelos ombros. – Você está aqui! Como, me diga? Eu vi os cartazes, Anneliese! Os Van der Haar já tinham encerrado as buscas!

Não o Hans, pensei de automático, o que fez Edward arquear uma sobrancelha. Contraí o maxilar, empenhada em controlar minhas lembranças. Isso o deixou desconfiado.

— Não segui seu cheiro porque já se havia passado muito tempo e a chuva lavou seu rastro, mas acompanhei as investigações de longe quando retornei a Chicago alguns meses depois – insistiu ele, ferrenho. – As equipes seguiram seus passos pela floresta e...

— ... encontraram apenas uma garrafa de conhaque quebrada, um isqueiro, cinzas e a carcaça de Apolo, provavelmente – interrompi, complementando a informação. Ele assentiu. – É, eu sei. A conclusão à que chegaram foi a de que fui atacada por algum animal selvagem, o que não é bem um equívoco. Entenderam que "a fogueira que eu acendi" – fiz as aspas com os dedos – o atraiu. Bem, é uma longa história.

— Não importa – retrucou e, antes que eu pudesse impedi-lo, pegou meus dedos com os seus. – Quero saber de cada detalhe e... — Edward parou, surpreso. Minha mão refulgia, luminosa e cintilante como uma estrela, em contato com a pele dele.

Eu estava preparada para isso, para o formigamento que eu sentiria, para a leve sensação de repuxo que vinha com o brilho, como se eu tivesse ventosas nas palmas. Mas Edward e os outros não.

Atrás dele todos os Cullen se retesaram, com a exceção de Alice, que sabia não haver ameaça alguma. Bella passou Renesmee para suas costas e me empurrou para longe de Edward, sibilando e soltando um rosnado gutural. Cambaleei, completamente aturdida, conforme meu corpo se acostumava com o novo poder. Apoiei as mãos nos joelhos, tentando me manter firme. Houve um milésimo de segundo de silêncio em minha cabeça e então o jorro ininterrupto de vozes começou; cada pensamento sussurrante em um raio de três quilômetros foi sintonizado. Cada pensamento deles.

...se parece tanto com ele... Tanto com Elizabeth, refletia Carlisle; meus olhos lampejaram no seu rosto ao escutar nome de minha mãe.

...emoções não indicam que ela pretende atacar, entretanto..., Jasper ponderava, solícito.

... reação exagerada, ela é uma garota tão doce..., Esme espiou, meio escondida no ombro de Carlisle.

... coração batendo como o de Nessie, teria que ter nascido assim, então como poderia ser irmã..., conjecturava Rosalie.

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora