Confissões

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Eu me dividia em dois estados de espírito conforme a casa dos Cullen ficava para trás e o Ford avançava pela estrada. Parte de mim sentia como se eu tivesse morrido em sonho e estivesse pisando nas nuvens. A outra temia acordar com os pés sendo lambidos pelas chamas. Minha euforia em nada apagava minhas preocupações com relação ao retorno iminente do vampiro – apenas o tornava menos imediato. Praguejei, as mãos no volante ficando tensas. Poderia ser sexto sentido ou simplesmente neurose sussurrando na minha orelha, mas eu sentia que deveria estar lá. Podia sentir até nos meus ossos.

Anna não iria se dobrar. Isso havia ficado incontestável. Eu não poderia contar com o apoio de Edward ou dos Cullen, dos meus irmãos, do Conselho... Enfim, eu estava sozinho nessa. Teria que apelar para meios alternativos.

Uma coisa que aprendemos juntos na alcateia era que se você soubesse o que estava fazendo, era possível contornar uma injunção de um alfa. O problema era que quem nos ensinou era justamente quem eu precisava contornar. Eu não havia acompanhado muito dos surtos de rebeldia de Jacob – ainda não tinha entrado para a matilha na época em que ele fugia para encontrar Bella e assisti poucos episódios antes da briga que nos separou em dois grupos –, entretanto tinha visto o suficiente para perceber que o cara era um mestre neste quesito. Seria difícil enrolá-lo, mas era a minha única saída.

Eu ainda estava formulando uma ideia quando desliguei o carro no estacionamento da escola. Havia passado em casa apenas para pegar a mochila, mas não ter trocado de roupas mal me economizou tempo; os corredores estavam vazios e quietos no que passei correndo por eles. Quando adentrei na sala de aula, fui recebido pelo olhar reprovador da professora atrás da mesa. A turma, antes barulhenta, ficou em silêncio por um momento e nas carteiras do fundo, Kurt levantou a cabeça dos braços dobrados e suspirou de alívio.

— Está atrasado, Clearwater – censurou a Sra. Mortensen, batucando o relógio no pulso. – Aqui, pegue sua folha de exercícios. – Ela puxou com um movimento rápido um papel da pilha diante de si e esticou o dedo ossudo para Kurt. – Todas as duplas já estão completas, menos a do Sr. Green. Sente-se com ele para fazê-los.

Assenti e apanhei a folha, indo rapidamente para o meu lugar ao que as conversas paralelas recomeçaram, tomando a sala em uma cacofonia descontrolada. Teresa parou de dizer alguma coisa a Penélope – que inclusive não se mostrava nada satisfeita com a divisão de duplas – e me acenou de leve.

— Graças a Deus, você veio – Kurt sibilou entredentes antes mesmo de eu me acomodar. – Achei que teria que cortar os pulsos antes do fim da aula.

Cocei a nuca, sacando o material da mochila.

— Foi mal, tive um problema com o horário hoje de manhã. – Sorri por lembrar da dificuldade que tive de me desgrudar de Anna... e da que ela teve em se desgrudar de mim.

Ele estreitou os olhos cinzentos para a minha expressão.

— Engraçado, você não parece nem um pouco incomodado com isso. – E me analisou preguiçosamente de cima a baixo à proporção que um sorriso malicioso crescia bem devagar. – Você transou noite passada, não foi?

Quase caí da cadeira.

— Como...? O quê...? – Parei, vendo-o reprimir um riso em resposta ao meu assombro. – Desde quando virou paranormal, Green? – resmunguei, me inclinando na mesa.

— Essa foi fácil. – Ele bufou. – Você está cheirando a sabonete feminino, usando roupas amassadas de quem dormiu fora de casa, e por mais que tente, não consegue tirar esse sorriso bobo da cara depois de ter passado dias parecendo um touro marcado a ferro. – Riu baixinho. – Já não era sem tempo. Achei que teria que preparar um tutorial de como deixar de ser virgem. E aí, como foi?

Estrela da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora